Começou a ser disponibilizada a segunda grande atualização anual do sistema operativo Windows. Chama-se Windows 10 Fall Creators Update e vai trazer algumas mudanças consideráveis para quem usa o sistema operativo da Microsoft.
Os utilizadores vão ter acesso a uma renovada aplicação de Fotografias, vão ter acesso a uma ferramenta que vai fazer filmes automáticos a partir da galeria de fotos, vão ter novos elementos de design graças ao Fluent Design, o OneDrive vai permitir gerir melhor o backup de ficheiros de todo o sistema operativo e há ainda algumas novidades a registar no browser Edge. Sobre a lista total das novidades recomendamos este artigo do Windows Central e este da Computerworld.
Siga o Future Behind: Facebook | Twitter | Instagram
Mas a maior de todas as novidades é a integração do Windows Mixed Reality. Na prática é como se fosse um mini-sistema operativo que vive dentro do Windows 10 e que está desenhado para permitir ao utilizador ter acesso a experiências de realidade mista – mixed reality – no seu equipamento.
Em bom rigor o Windows Mixed Reality é nesta fase um ambiente de realidade virtual, mas recebe a descrição de realidade mista pois há elementos – como ficheiros 3D – que podem ser importados tanto para óculos de realidade virtual como para os óculos de realidade aumentada HoloLens. A ideia é que no futuro haja uma partilha total de conteúdos, podendo o utilizador escolher se quer consumi-los de forma ‘aumentada’ ou mais imersiva.
Logo à partida uma das grandes vantagens do Windows Mixed Reality é permitir que mais computadores tenham acesso a experiências de realidade virtual. A Microsoft quis democratizar o acesso a esta tecnologia e para isso baixou os requisitos mínimos necessários, tendo como ponto de comparação os requisitos mínimos para os Oculus VR e os HTC Vive.
Existem no entanto duas questões a este respeito que precisam de ser endereçadas.
Os requisitos mínimos
Quão acessível vai ser o Windows Mixed Reality? Esta é uma questão que não tem uma única resposta. A Microsoft tem online um guia sobre esta nova plataforma e um pouco à semelhança do que costuma acontecer nos videojogos para computador, há uma lista de especificações mínimas e uma lista de especificações recomendadas. A saber:
Olhando para a lista de especificações recomendadas vemos que os requisitos não são assim tão baixos. O ideal é o utilizador ter um computador com uma placa gráfica de gama média alta ou topo de gama. Já nos processadores isso já não é tanto assim, pois o chip recomendado é um Intel Core i5 de quarta-geração – atualmente vamos na sétima e a Intel já apresentou a oitava, chamada de Coffee Lake.
A Microsoft disponibilizou também uma aplicação na loja do Windows que permite executar um teste no computador para perceber se é ou não compatível com o Windows Mixed Reality. Experimentámos a aplicação [ainda sem o novo update] e este foi o resultado:
Significa isto que o computador em questão não é compatível com o Windows Mixed Reality? Não é bem assim. Segundo a informação que a tecnológica tem nas suas páginas de apoio e sobretudo relativamente às placas gráficas, o sinal de alerta pode significar apenas que aquele modelo específico de placa gráfica ainda não foi testado com o Windows Mixed Reality.
Neste caso a plataforma pode ser na mesma compatível, pode é não traduzir-se num funcionamento perfeito. A Microsoft informa ainda que no caso específico do Bluetooth 4.0 se o computador não tiver este standard de origem, então o utilizador poderá optar por usar um adaptador – esta é uma característica indispensável pois é através de Bluetooth que os comandos dos óculos de realidade mista funcionam.
Os óculos de realidade mista são justamente a segunda grande questão relativamente ao Windows Mixed Reality, pelo menos para os utilizadores portugueses.
Óculos, procuram-se
A Microsoft associou-se a alguns dos seus maiores parceiros de hardware – Asus, HP, Dell, Lenovo, Acer e Samsung – para criar óculos de realidade mista que permitem tirar partido do novo Windows Mixed Reality.
Em alguns países estes óculos já estão há algumas semanas disponíveis em modelo de pré-venda, mas em Portugal não há sinais de venda destes equipamentos, nem nos sites oficiais das empresas, nem nos sites de retalhistas de eletrónica, nem no site da Microsoft. Os sites da Acer e da Lenovo já têm páginas dedicadas aos equipamentos, mas não há informações sobre a sua venda.
Questionámos as marcas sobre a disponibilidade dos óculos de realidade mista no mercado português. A Acer confirmou que ainda não estão disponíveis e deixa a possibilidade de anunciar nas próximas semanas algo relativamente a esta área. A Samsung também respondeu para confirmar que não estão disponíveis em Portugal e que não vão estar em 2017. Por sua vez a Asus também disse não ter disponibilidade, nem preço, do headset para Portugal. As restantes marcas ainda não responderam ao pedido do FUTURE BEHIND.
Ou seja, salvo alguma exceção de última hora, os consumidores portugueses vão ter maior dificuldade em tirar desde já partido daquela que é a grande novidade do Windows 10 neste final de ano. Dizemos ‘maior dificuldade’ apenas pelo facto de não ser possível comprar os equipamentos diretamente no país, sendo necessário recorrer a mercados externos para fazê-lo – e isso pode de facto não ser um problema, já que 50% dos portugueses que compram online fazem-no fora de Portugal.
No limite podemos considerar que o Windows Mixed Reality em Portugal vai ter uma falsa partida devido a esta inacessibilidade. Nada que com o passar dos meses não possa ser melhorado.
Em termos de hardware propriamente dito, os óculos de realidade mista necessitam todos neste momento de uma ligação por cabo a um computador compatível, mas ao contrário dos Oculus Rift ou dos HTC Vive não necessitam de sensores externos.
Os óculos Windows Mixed Reality têm sensores integrados no próprio hardware que fazem um rastreamento de dentro para fora, isto é, conseguem perceber e calcular através de sensores de imagem qual o posicionamento do utilizador, quais os seus movimentos e onde estão os controladores dedicados.
Quando a Microsoft anunciou os óculos Windows Mixed Reality pela primeira vez, há 18 meses, na altura espantou o mundo por ter prometido equipamentos VR cujos preços começariam nos 400 dólares. Na altura o valor parecia baixo, pois uns Oculus Rift custavam 600 dólares e uns HTC Vive cerca de 800 dólares. Entretanto os Vive e os Rift já baixaram de preço, custando estes últimos os mesmos 400 dólares que agora são pedidos pelos dispositivos Windows Mixed Reality.
O ‘efeito preço’ perdeu-se pelo caminho.
O que é o Windows Mixed Reality?
“O nosso sentido de realidade vai ser transformado à medida que entramos nesta era da realidade mista”. Pelo menos é nisto que acredita Alex Kipman, o executivo da Microsoft que está a liderar os esforços da empresa nas áreas de realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e realidade mista (MR). “Criámos toda uma nova realidade para o Windows”, disse durante um evento dedicado ao Windows Mixed Reality, na semana passada.
Alex Kipman vai mais longe e diz mesmo que o Windows Mixed Reality é o primeiro sistema operativo espacial. “O espaço é a referência definitiva”, disse, numa alusão a todo o espaço não ocupado que existe à nossa volta. As experiências de realidades digitais permitem isso mesmo, preencher o espaço físico não ocupado com elementos digitais.
Quando os utilizadores entram no Windows Mixed Reality, colocando os óculos de realidade mista, são levados para a Cliff House – Casa do Penhasco em tradução livre. Este é um espaço digital que, tal como o nome indica, vai funcionar como a nossa casa. Podemos decorá-la a nosso gosto e personalizá-la, mas o grande chamariz está no facto de podermos espalhar aplicações por todo o lado.
Alex Kipman confirmou que atualmente existem mais de 20 mil aplicações que são compatíveis com o Windows Mixed Reality. Estas são aplicações que podem ser ‘penduradas’ nas paredes da casa ou então simplesmente colocadas num espaço aberto. O utilizador pode movê-las a seu bel-prazer, recorrendo aos controladores dedicados ou então a comandos de voz.
Os comandos de voz são possibilitados através da Cortana, que também vive neste ambiente virtual. ‘Mexe isto, para aqui’. ‘Mexe isto, para ali’. ‘Aumenta’. ‘Fecha’. Estes são alguns dos comandos que Alex Kipman mostrou que é possível dar à Cortana em língua inglesa – por agora a assistente não suporta o português europeu.
Dentro da casa movemo-nos através de teletransporte, um sistema que já é comum em várias experiências de realidade virtual. Aponte o comando para uma posição, carregue no botão e somos automaticamente transportados para esse ponto da casa. A Microsoft desenvolveu ainda um sistema chamado Snap to App, que transporta o utilizador e deixa-o exatamente em frente da aplicação selecionada.
Existe uma área dedicada para os conteúdos multimédia – ver filmes, séries ou videojogos – e no qual é possível ter acesso a um ecrã que tem um tamanho de 300 polegadas – pelo menos é essa a sensação de escala que dá ao utilizador.
Relativamente aos jogos, a Microsoft confirmou que vai ter na loja do Windows alguns títulos compatíveis com o ambiente de realidade mista e confirmou também que até ao final do ano a Steam VR vai ficar disponível, o que significa que todas as experiências que existem na loja da Valve também vão ficar acessíveis no Windows Mixed Reality.
“E assim começa, o poder de te integrares numa nova realidade”, disse Alex Kipman no final da sua apresentação.
Pelo menos para já e olhando especificamente para o caso português, sabemos que não vai ser bem assim. Mas este é mais um esforço que coloca a computação virtual como uma parte cada vez mais certa do nosso futuro. E que melhor ferramenta existe para massificar a realidade virtual do que o sistema operativo mais popular do mundo?