Maxime Coutté é francês, tem 16 anos e é um fã dos desenhos animados japoneses Sword Art Online. Este animé imagina um agora-não-muito-distante ano de 2022, no qual a tecnologia de realidade virtual melhorou de forma significativa e permitiu criar mundos virtuais com milhares de jogadores que controlam as suas personagens apenas através da mente.
Há mais para contar relativamente a Sword Art Online, como o facto de este ser um jogo virtual muito real – aqueles que entrarem no jogo só conseguem sair depois de ultrapassarem os cem níveis que existem e sem morrer, pois a morte virtual também representa a morte no mundo real.
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Foi esta trama que deixou o adolescente francês fascinado com a realidade virtual. “Queria perceber todos os seus aspetos [da realidade virtual]”, escreveu Maxime Coutté na publicação Free Code Camp.
Coutté ficou interessado na ideia de criar um mundo virtual no qual podia passar tempo com os seus amigos depois das aulas. Depois veio o choque da realidade – fazer isso provavelmente ia exigir muito dinheiro, tendo em conta que na altura só uns óculos de realidade virtual como os Oculus Rift custavam mais de 600 euros.
O gosto pela programação e pela eletrónica fez com que Maxime Coutté e mais dois colegas, Jonas Ceccon e Gabriel Combe, não desistissem do seu objetivo e até criassem um ainda mais ambicioso: desenvolver os seus próprios óculos de realidade virtual. “No final acabaram por custar 100 dólares [o equivalente a 80 euros]”, escreveu o jovem francês.
Os óculos, denominados de Relativ, podem agora ser recriados por qualquer entusiasta da tecnologia. O projeto foi disponibilizado em open source, o que também significa que poderá receber melhorias à medida que a comunidade de utilizadores for crescendo.
Segundo a publicação na página de GitHub dos Relativ, estes são os componentes necessários para criar uns óculos VR funcionais:
– placa Arduino Due [34 dólares] ou um clone chinês [10 dólares]
– módulo GY-521 MPU-6050 [1 dólar]
– ecrã de 5,5 polegadas com resolução de 2.560×1.440 píxeis e saída HDMI para MIPI [preço pode variar entre 40 a 100 dólares]
– lentes Fresnel com distância focal de 50mm [3 dólares]
Existe depois um conjunto de nove ficheiros em formato .STL que são para imprimir em 3D. Depois de montado todo o hardware e de instaladas todas as bibliotecas na placa Arduino, é só começar a explorar o potencial destes óculos VR ‘low cost’.
De salientar que há mais projetos que tentam tornar a realidade virtual mais acessível, caso dos óculos de cartão Google Cardboard, dos Google Daydream View e dos Samsung Gear VR, mas todos necessitam de um smartphone para funcionar. Os Relativ são um equipamento totalmente independente de hardware externo.
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A ‘empreitada’ de Coutté e os amigos não se limita apenas aos óculos: também criaram um pacote de software, chamado FastVR, que permite otimizar experiências de realidade virtual para os Relativ; e criaram o WRMHL, uma ferramenta de software que permite criar uma via de comunicação sem latência entre a plataforma Arduino e o software desenvolvido em Unity.
Na prática os jovens desenvolveram as ferramentas necessárias para criar um novo ecossistema de realidade virtual, totalmente em código aberto, de baixo custo e de fácil integração.
A parte open source acaba por ser uma das mais interessantes do projeto Relativ: o objetivo inicial de Maxime Coutté era criar uma empresa e lançar uma campanha de financiamento colaborativo no Kickstarter. Foi falar com o cofundador da organização de empreendedorismo The Family, Oussama Ammar, que lhe disse para focar-se primeiro em aprender mais e conhecer mais pessoas.
Foi numa viagem a Silicon Valley que Maxime Coutté conheceu o diretor de arquitetura da Oculus, Atman Brinstock – e foi o experiente engenheiro que lhe deu o “precioso conselho” de tornar todo o projeto open source, conta o jovem francês na sua publicação.
Apesar de admitir que ainda existem muitos aspetos técnicos que precisam de melhorias, Maxime Coutté partilha aquela que é a sua visão a longo prazo: “Quero tornar a realidade virtual mais acessível”.