Para algumas pessoas ir a uma discoteca é um ritual quase sagrado que acontece todas as semanas. Para outras pessoas é um acontecimento mais ocasional e que só acontece em situações especiais. Também há aqueles que não nutrem qualquer interesse por estes espaços de diversão noturna – se pertence a este grupo, não desista já do artigo.
Isto porque recentemente tivemos uma experiência que foi bastante diferente daquilo que costuma ser a típica ida à discoteca.
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Para começar quando ‘entrámos’ na discoteca deviam ser perto das 17h30, uma hora mais próxima do chá das cinco do que de uma noite de folia. Não levámos um grupo de amigos ou a nossa cara-metade, fomos sozinhos. Quando lá chegámos não havia fila, nem porteiro. Também não havia consumo obrigatório. Para sermos sinceros, não estava lá quase ninguém.
Dito assim pode parecer a discoteca mais desinteressante do mundo, sobretudo para os que gostam de visitar estes espaços. Mas havia algo de único neste espaço que visitámos: é provavelmente uma das primeiras, senão mesmo a primeira discoteca de realidade virtual do mundo.
Já existem centenas de experiências de realidade virtual focadas em diferentes ambientes e em diferentes narrativas. Dentro destas experiências, aquelas que pertencem ao domínio social continuam pouco exploradas acima de tudo porque não há ainda muitos projetos a experimentar o lado multiutilizador da realidade virtual.
Esta discoteca à qual fomos tenta explorar justamente este lado: fazer com que a realidade virtual deixe de ser uma experiência isolada para ser uma experiência conjunta. Se era esse o caso então porque não estavam mais pessoas na discoteca? E afinal que discoteca é essa, tem nome? Tem morada?
Morada não tem, pois é um espaço virtual e na prática não existe. A ter um nome será Collide Club, mas nesta fase é muito prematuro fazer batismos, pois o projeto está ainda em desenvolvimento. Quanto ao facto de só lá estar uma outra pessoa justifica-se por isto mesmo – na prática esta discoteca é uma demonstração tecnológica do sistema multiutilizador que a Collide, empresa do grupo Bold International, está a criar para diferentes plataformas de realidade virtual.
Já tínhamos dado a conhecer o Project Chatrooms numa outra ocasião, sendo que desta vez fomos ver como está a avançar a criação da tecnologia.
A realidade virtual passa por aqui
A plataforma da Collide já consegue ligar aqueles que são os dois principais ecossistemas e equipamentos de realidade virtual – Oculus Rift e HTC Vive. Enquanto nós usámos os Vive para explorar a discoteca e interagir com os seus elementos, um elemento da Collide fez o mesmo, mas recorrendo aos Rift.
O espaço em si não era muito detalhado, apostava antes em elementos volumosos e de cores garridas. O facto de o espaço estar vazio acabou por ser positivo, pois permitiu apreciar melhor a criação da Collide.
Foi possível andar pela pista de dança através de um sistema de teletransporte – uma das melhores soluções para não provocar enjoos em ambientes VR – e foi possível interagir com alguns objetos. Por exemplo, há sticks fluorescentes para usarmos durante as nossas danças e há garrafas no bar que podemos agarrar apenas por diversão.
Além da pista de dança é também possível visitar a zona que costuma estar reservada para o DJ ou então subir até ao segundo piso da discoteca, a partir do qual podemos apreciar o espaço com outra perspetiva.
Apesar de ser virtual, este é um espaço que também vai ter algumas regras. Questionámos o líder da Collide, Tiago Loureiro, sobre quantas pessoas poderiam frequentar aquela discoteca – o número não está definido, mas há um limite físico associado ao espaço ocupado pelos avatares. Quer isto dizer que também em realidade virtual poderá haver algumas idas à discoteca onde dançar, só mesmo com os olhos.
Enquanto explorávamos o espaço, íamos vendo o elemento da Collide a movimentar-se igualmente de um lado para o outro. Ocasionalmente cruzávamo-nos e foi aqui que o potencial de um projeto destes – uma discoteca VR – e das plataformas de multiutilizadores saltou de facto à vista.
Claro que nos próximos anos as discotecas de realidade virtual não vão esvaziar as discotecas reais. Mas pela experiência diferenciadora que podem proporcionar, ainda que seja através de uma interação social digital, haverá certamente vários interessados que tal como nós vão querer dar um saltinho até à discoteca às cinco da tarde.
É divertido trocar um ‘high five’ que só existe no espaço digital e pensar que os movimentos de dança que estamos a ver à nossa frente estão a ser de facto executados por alguma pessoa, no sossego do seu lar.
Haverá a possibilidade de as pessoas conversarem por voz, o que vai acrescentar uma camada extra de imersão ao projeto e potenciar ainda mais o contacto social.
O facto de as pessoas estarem no conforto das suas casas a conhecer e a interagir ‘fisicamente’ num ambiente virtual com outras pessoas vai certamente facilitar um pouco a criação de novas amizades. A forma como essas interações depois evoluem ou não para o mundo real torna-se mais difícil de antecipar, mas que as tecnologias de multiutilizador vão desbloquear uma parte importante do potencial do VR, lá isso vão.
Nas imagens que a Collide partilhou com o FUTURE BEHIND não são visíveis os avatares por uma questão de confidencialidade. A empresa do grupo Bold está a trabalhar num serviço de criação de avatares que vai potenciar ainda mais este lado social da realidade virtual.
Na prática a Collide gostava que este serviço de avatares depois também pudesse ser integrado noutras experiências. Por exemplo, se for a um restaurante virtual poderá importar o seu avatar para essa experiência e não terá de fazer um novo para todas as experiências novas que vai ter. A ideia é que funcione como um Facebook Login para o mundo VR.
O Project Chatrooms da Collide está ainda a ser conceptualizado noutros contextos totalmente diferentes. Se a discoteca VR é mais focada na interação social e no entretenimento, há mais dois grandes projetos na calha: uma sala de aula em realidade virtual e salas de reuniões também em VR.
O potencial da realidade virtual multiutilizador começa já inclusive a despertar a curiosidade de alguns clientes: Tiago Loureiro adiantou que a empresa já concretizou um projeto de realidade virtual multiutilizador para um cliente na área de serviços financeiros – quem diria? -, que por motivos de confidencialidade não pode ser revelado.
Já tínhamos ficado impressionados com a demonstração que Mark Zuckerberg fez no ano passado durante a conferência F8 – mas só ao viver uma experiência VR multiutilizador é que percebemos de facto o grande potencial que a tecnologia tem, seja em formato de discoteca ou não.
Aquelas projeções futuristas nas quais as pessoas usam a realidade virtual como uma escapatória do mundo real? Talvez chamá-las de projeções comece a ser demasiado conservador – parece cada vez mais certo que o mundo digital vai roubar terreno ao mundo real e de uma forma cada vez mais imersiva.