No dia 25 de março de 2014 o Facebook anunciou a aquisição da Oculus, uma das mais promissoras startups tecnológicas da altura e a primeira empresa a prometer o regresso de um equipamento de realidade virtual para as massas.
A questão das ‘massas’ é debatível – se o produto principal, os Oculus Rift, têm um preço pouco acessível para muitos consumidores, já os Gear VR são bem mais acessíveis e têm ajudado a democratizar o segmento da realidade virtual.
Independentemente da análise, a Oculus tem sido de facto uma das empresas que tem alavancado a ‘realidade’ da realidade virtual. E muito deste trabalho ganhou ainda mais projeção a partir do momento em que a Oculus se juntou ao Facebook.
Existem várias razões óbvias para a rede social ter comprado a empresa de hardware. O diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, acredita que a realidade virtual é a próxima grande plataforma de computação. Ideia que foi novamente vincada ontem, 6 de outubro, durante o discurso na Oculus Connect.
“Estamos aqui para fazer da realidade virtual a próxima grande plataforma de computação. A nossa indústria fez mais progresso nos últimos anos mais do que aquilo que podíamos esperar”.
Zuckerberg partilhou depois um valor interessante: um milhão de pessoas usam equipamentos de realidade virtual todos os meses. O líder do Facebook não especificou se estes valores são apenas relativos aos equipamentos da Oculus já que, por exemplo, os Google Cardboard foram vendidos cinco milhões de vezes.
Num ato raro de um CEO de uma grande tecnológica, Mark Zuckerberg deixou inclusive palavras de entusiasmo pelo trabalho que tem sido feito por outras empresas concorrentes como a Valve, a HTC e a própria Google, tendo em vista uma maior disseminação da realidade virtual.
Mas Zuckerberg não subiu ao palco para ter um discurso de ‘nobel da paz’ entre empresas de realidade virtual. O empreendedor norte-americano tinha uma missão muito mais ambiciosa.
“Aquilo no qual vou focar-me hoje é a próxima etapa da realidade virtual: experiências de software. A magia do software de realidade virtual é o sentimento de presença, de que és outra pessoa ou de que estás noutro sítio”, explicou para depois dizer logo a seguir:
“A realidade virtual é a plataforma para colocar as pessoas em primeiro lugar”.
O objetivo do Facebook é que a realidade virtual seja uma nova plataforma de experiências entre pessoas e não mais uma plataforma no qual as pessoas estão presas meramente a aplicações, por exemplo. E foi aí que o diretor executivo mostrou a mais relevante das demonstrações da Oculus Connect, aquela que revela o potencial da realidade virtual do lado ‘humano’ e aquela que explica verdadeiramente o interesse do Facebook nesta tecnologia.
Para a rede social a realidade virtual será a plataforma de computação que vai juntar ainda mais as pessoas no mundo digital. Não se trata apenas de viver as experiências imersivas pelas quais os outros passam, é também uma questão de partilhar essas experiências.
O Facebook e a Oculus não disseram quando é que esta experiência de realidade virtual estará disponível, nem qual o seu nome – talvez venha a chamar-se simplesmente Facebook VR. Sabe-se apenas que é necessário ter todo o kit de realidade virtual da Oculus – óculos e controladores Touch – para que funcione da forma mais imersiva possível.
Se visualmente a demonstração é cativante, o lado tecnológica não fica atrás. Nesta demonstração vemos vários elementos avançados de complementaridade para tornar a experiência mais real: existem expressões faciais, existe ligação por voz, existe a possibilidade de criação de objetos e sua utilização, existem mini-jogos, existe a possibilidade de tirar selfies e publicar diretamente na rede social. Existe todo um mundo dentro deste mundo.
Esta experiência multi-utilizador não foi a única a mostrar as potencialidades da realidade virtual numa perspetiva mais social. Numa outra demonstração o fundador do Facebook conseguiu juntar diferentes serviços em simultâneo, em tempo real e de forma bastante linear.
Na prática Mark Zuckerberg estava num ambiente de realidade virtual, acedeu a um livestream direto da sua casa e ainda conseguiu abrir uma janela de Messenger dentro da realidade virtual que continha uma videoconferência com a sua mulher. Ou seja, conseguiu agregar três patamares diferentes de realidade para juntar todos no mesmo ‘local’.
Sabemos que o Facebook é a maior força que existe no campo da ligação digital entre pessoas e a realidade virtual parece vir acrescentar todo um nível diferente de ligação. Mais imersivo e também mais social.
Uma vez Mark Zuckerberg disse que ficou rendido à tecnologia da Oculus quando experimentou o jogo Toy Box, uma experiência de realidade virtual multijogador no qual é possível atirar objetos aos amigos e interagir com eles. Agora que vemos esta apresentação na Oculus Connect parece cada vez mais claro o que o Facebook pretende atingir no longo termo com a Oculus.
Os dois mil milhões de dólares que a tecnológica pagou pela Oculus poderão ser recuperados a médio termo no campo mais elementar da realidade virtual, isto é, vendendo óculos e experiências VR. Mas no dia em que o mundo ficar verdadeiramente conectado dentro destes ambientes digitais, será aí que o Facebook vai conseguir de facto rentabilizar ainda mais a sua aposta neste segmento.