O YouTube tem mais de mil milhões de utilizadores e é a plataforma online de vídeo por excelência. O Facebook tem-se agigantado nesta área e o lançamento das transmissões em direto têm ajudado a ganhar terreno ao rival da Google. Tanto um como outro já suportam vídeos em 360º, mas nenhum apresenta uma solução ‘chave na mão’ que permita rentabilizar de forma mais séria não só as transmissões em direto, como as transmissões em direto imersivas.
Essa é a missão a que se propõe a Next360. Nesta plataforma os utilizadores vão poder fazer transmissões em direto, multicâmara, com suporte para vídeos em 360º que tenham uma resolução até ao Ultra HD e vão ter ainda uma forma de monetizar os conteúdos.
A Next360 está a ser desenvolvida pela SeatWish, uma empresa portuguesa que gere um mercado para a venda, compra e troca de bilhetes físicos ou eletrónicos. A ideia surgiu do facto de haver muitos eventos que simplesmente ficam esgotados.
“Lembrámo-nos que era interessante ter mais uma fonte de rendimento para os músicos, promotores em geral e até para as empresas. Os live streams de música e desporto ficam logo associados na SeatWish”, disse o diretor da Next360 e da SeatWish, Afonso Barbosa, em entrevista ao FUTURE BEHIND.
Numa conversa por Skype o CEO das duas plataformas explicou que o objetivo é criar bilhetes VR. Por exemplo: um concerto de um determinado cantor já esgotou, mesmo nos mercados online de revenda. Se o utilizador quiser poderá comprar um bilhete de realidade virtual e ver o concerto em direto com a ajuda de uns óculos VR.
“Naquele dia, àquela hora, vais ao website e consegues visualizar na página da Next360 o vídeo em 360º. Basicamente é um vídeo como os do Facebook, podes andar à volta. Ou se tiveres um headset de realidade virtual podes usar a nossa aplicação e naquele dia, àquela hora, tu vês o evento praticamente como se estivesses lá”, acrescentou o empreendedor português.
A Next360 vai estar através de app móvel. No início não haverá aplicação dedicada para os Oculus Rift ou HTC Vive, mas os equipamentos serão suportados via browser
Os mais céticos dirão que visualizar um evento através de vídeo imersivo nunca será a mesma experiência do que estar fisicamente num local. É um facto e dificilmente é rebatível. A questão é que os ambientes de realidade virtual também podem garantir outras vantagens.
“Desloca-te ao local do concerto e só vais ver o que os teus olhos veem. O que estamos está a oferecer é: fica no conforto da tua casa, ouve com um som brutal, desloca-te a sítios que era impossível tu deslocares-te, como o backstage, e muda de palco em um segundo”, argumentou Afonso Barbosa.
O líder da Next360 e da SeatWish não tem dúvidas em afirmar que o segmento da realidade virtual representa o futuro do mundo do espetáculo.
“ É o futuro. O futuro, e é nisso que estamos a trabalhar, é ires à Next 360 e dizes: ‘Hoje apetece-me ver um concerto de jazz. Este tipo é porreiro, na Alemanha. Portanto, Alemanha… quanto custa? Dez euros, está porreiro. Uma hora e meia, é o músico que quero ver‘. Metes o headset, pegas no teu copo de uísque, bom som e estás lá. Não é a mesma coisa que estares ao vivo, já sabemos. Vai ser um dia, quando a qualidade da transmissão for indistinguível da realidade. Pelo menos vais ter a hipótese de veres o músico que tu queres, quando tu quiseres. Não é quando ele vier a Portugal”.
O preço das transmissões é definido por quem as produz
Mesmo havendo integração entre as plataformas SeatWish e Next360, elas estão a ser geridas de forma diferente pois acabam por ter posicionamentos diferentes.
“Embora a Next360 injete as transmissões de video dentro da SeatWish, colocámos a Next360 fora da SeatWish porque a SeatWish é um mercado de bilhetes peer-to-peer, é Consumer to Consumer. Mas a Next360 é Business to Consumer, para que fosse mais fácil de comunicar a proposta de valor de cada um deles. Separámos as coisas para dar a possibilidade de as pessoas entenderem facilmente o que é cada um. Do lado da SeatWish ninguém vai vender live streams, vão comprar. Quem quiser vender tem de ir à Next360”.
Lançamento no Web Summit
A plataforma Next360 está neste momento numa beta fechada, mas faltam poucos dias até que fique disponível para todos: no dia 9 de novembro acontece o lançamento oficial do serviço. A Next360 será lançada durante o Web Summit, o maior evento de empreendedorismo a nível mundial e que vai decorrer em Lisboa ao longo desta semana.
Mas já há alguns meses que a Next360 está a ser cozinhada.
“Fizemos uns testes preliminares com o festival Paredes de Coura, na altura fizemos o teste não na nossa plataforma, que não estava ainda desenvolvida, fizemos no YouTube. Foi porreiro porque verificámos que o YouTube não está preparado para o que pretendíamos. Nós com o lançamento da Next360 resolvemos todos os problemas que tivemos com o YouTube. Basicamente temos agora uma plataforma que do nosso ponto de vista é melhor do que o próprio YouTube para o streaming em 360º”.
É uma afirmação arrojada por parte de Afonso Barbosa, mas o próprio explica que diferenças existem entre as duas plataformas.
“A monetização é complicada no YouTube. Não é simples de monetizar porque o modelo de negócio do YouTube é a publicidade. (…) Ponto número dois: nós conseguimos transmitir com qualidade 360º até 4K, estamos a falar do quase do dobro do YouTube”.
A plataforma Next360 permitirá ainda que cada pessoa, cada empresa, tenha o seu próprio canal onde poderá ter mais do que vídeos em 360º: também haverá lugar para notícias e para fotografias panorâmicas, funcionalidades que o YouTube não suporta de forma nativa.
Alguns dos live streams estarão disponíveis depois em modo offline
“Depois é a facilidade com que qualquer pessoa pode fazer o live stream. Nós pegámos no exemplo prático do YouTube e eliminámos toda a complexidade. É mesmo simples criar um live 360º na Next360. É mesmo simples. Foi desenhado para resolver todos os problemas de complexidade do YouTube. Neste momento não existe qualquer plataforma que permita monetizar live streams em 360º no mundo inteiro”, concluiu o líder da Next360.
O facto de a Next360 estar a atacar o segmento do live streaming imersivo com monetização associada não impede que de um momento para o outro o YouTube surja com uma proposta semelhante ou igual. Mas mesmo que isso aconteça, não significa obrigatoriamente que a Next360 esteja condenada a desaparecer.
Afonso Barbosa lembrou durante a nossa conversa que o Vimeo surgiu algum tempo depois do YouTube e que muitos lhe vaticinaram uma vida curta. A realidade é que vários anos depois as duas plataformas coexistem e é o Vimeo quem é reconhecido pelo armazenamento de produções que são consideradas como tendo melhor qualidade.
“Queremos ser o Vimeo dos vídeos em 360º”.
Por isso é que já estão a posicionar-se neste segmento. Afonso Barbosa está consciente que apesar de todo o buzz que existe em torno da realidade virtual, 2017 não será o ano da rendição dos consumidores a este meio.
“Acredito que daqui a três anos vamos ter mais live streams do que realmente bilhetes físicos. Acredito que vamos ter mais eventos virtuais do que eventos físicos. Com a Next360, qualquer músico, por exemplo, vai poder na sua casa fazer um espetáculo. Basta ter uma câmara e dizer que no dia X ele vai tocar”.
Mark Zuckerberg a dar uma mãozinha
No final do mês de outubro a SeatWish foi aceite no programa de aceleração FbStart, promovido pelo Facebook. O timing não podia ser mais interessante.
Neste momento o Facebook é uma das empresas que mais tem investido no segmento da realidade virtual e dos conteúdos imersivos. Além dos vídeos em 360º na rede social e de todo o ecossistema que existe em torno dos Oculus Rift, o Facebook já desembolsou 250 milhões de dólares em projetos VR.
Esse valor vai duplicar já em 2017. É que Mark Zuckerberg está convencido que a realidade virtual vai ser a próxima grande plataforma, não só da computação, como também da socialização.
“Se fomos aceites porque eles estão muito dentro do VR, se eles nos apoiaram por causa disso não sei dizer”, admitiu Afonso Barbosa. Mas o CEO sabe que tem aquilo que o Facebook não tem neste momento.
“Sei que somos uma componente muito importante de toda a estratégia deles. Eles ainda não têm, o Facebook ainda não tem a componente de fazer live streams em 360º. Eles têm a componente de fazer live streams, mas nem são em 360º, nem são monetizados. Não podes fazer um live stream no Facebook e cobrares X para vê-lo. Não podes”.
O diretor executivo da SeatWish acredita que o facto de a empresa ter um escritório em Silicon Valley, apenas a dez quilómetros de distância do quartel-general do Facebook, terá contribuído para a entrada da startup no programa de aceleração FbStart.
A SeatWish tem 105 mil utilizadores registados e marca presença em cinco mercados, incluindo EUA e México
“Eles oferecem 85 mil dólares em valor. Nós temos acesso direto às equipas do Facebook, podemos fazer perguntas, reunir com eles para decidir melhorias. Eles dão-nos esse apoio. Também nos dão o tempo deles. E também nos dão ferramentas. Já tínhamos algumas delas incorporadas, estamos a incorporar as restantes. Mas se nós conseguirmos levar isto à frente até pode ser que tenhamos algum tipo de contacto da parte deles. Não sei, o futuro não te sei dizer”.
Para Afonso Barbosa existem vantagens claras de a SeatWish marcar presença no mais importante pólo de empreendedorismo do mundo. Há eventos, há grandes empresas e, claro, há dinheiro.
“Estamos a falar de investimento de um calibre muito elevado. As pessoas têm mais vontade de arriscar, não é como cá. Mas também para vingares lá tens de ser superior à média. Isso também é complicado pois embora haja muito dinheiro, também há muita gente, muitas startups boas, com boas ideias e boas equipas, e algumas delas já com investimento.
A SeatWish já recebeu um total de 200 mil dólares em investimento e Afonso Barbosa confirmou ao FUTURE BEHIND que a startup está a “tentar arranjar uma nova ronda de meio milhão de dólares”.