A Microsoft podia ter comprado a Oculus. Mas ainda bem que não o fez

Dois mil milhões de dólares é um valor relativamente baixo sabendo o potencial de crescimento que a Oculus tem. Foi este o valor pago pelo Facebook em março de 2014 pela empresa que na altura ainda estava a desenvolver os Oculus Rift. Mas e se o desfecho da história tivesse sido outro?

A questão que colocamos é: e se tivesse sido a Microsoft a comprar a Oculus? Há um conjunto de factores que parecem sustentar a ideia de que se este negócio tivesse acontecido, não teria sido de todo estranho.




A verdade é que não há qualquer informação oficial de que a Microsoft tenha tido intenção de comprar a Oculus. Mas isso não significa que a empresa não tenha interesse no ecossistema de realidade virtual da empresa.

Tudo começou em junho de 2015 quando a Microsoft revelou durante a Electronic Entertainment Show (E3) que tinha estabelecido uma parceria com a Oculus. O comando da Xbox One seria também o controlador principal dos Oculus Rift. O periférico faria parte do pacote inicial de todos os Oculus Rift.

Esta situação mantém-se e vai manter-se, apesar de a Oculus ter controladores dedicados a caminho. Os Oculus Touch chegam no dia 6 de dezembro, mas como implicam um investimento de 200 euros, então alguns consumidores podem optar apenas pelo kit que tem o comando da Xbox One.

Os Oculus Rift estão à venda desde o dia 28 de março de 2016

Pode não parecer um elemento importante, mas é. O facto de o comando da Xbox One ser o comando principal dos Oculus Rift faz com que todas as experiências estejam adaptadas para este controlador. Ou seja, se a Microsoft um dia mais tarde quiser trazer os Oculus Rift para as suas consolas, o trabalho de otimização já está todo feito de forma nativa.

Além do hardware, existe integração de software entre a Microsoft e a Oculus. Os utilizadores da Xbox One vão poder enviar streams da consola para uns Oculus Rift, permitindo jogar todos os títulos da consola num modo cinemático.

Phil Spencer, diretor da divisão da Xbox, a anunciar em 2015 a parceria entre a Microsoft e a Oculus. #Crédito: Oculus

Há ainda o facto de o sistema operativo Windows ser o principal aliado da Oculus. Os computadores com o software da Microsoft são os únicos que suportam experiências de realidade virtual nos Rift, por isso é natural que haja uma aproximação entre as duas empresas. Devemos ter ainda em conta que cada vez mais a Xbox One e os computadores Windows partilham elementos de gaming entre si.

Depois há uma outra questão interessante. Já é sabido que a Microsoft está a preparar uma nova consola de jogo e quando chegar ao mercado será a mais potente de todas as consolas, conseguindo debitar 6 teraflops de potência. O Project Scorpio também está a ser projetado para suportar experiências de realidade virtual.

O Project Scorpio vai chegar ao mercado no final de 2017

Sabe-se ainda que a Microsoft está a criar um ecossistema próprio de realidade virtual em torno da plataforma Windows Holographic e com a ajuda dos seus parceiros de sempre. HP, Asus e Lenovo são algumas das empresas que estão a criar óculos de realidade virtual e que vão tirar partido desta nova plataforma no Windows.

Se parece provável que estes são os óculos que podem vir a ser compatíveis com o Project Scorpio, dada a aproximação da Microsoft com a Oculus, é uma possibilidade em cima da mesa que os Oculus Rift sejam compatíveis com a nova consola. A publicação Kotaku assim o referiu em maio deste ano.

Neste momento a Microsoft está em desvantagem face à rival Sony Interactive Entertainment no segmento da realidade virtual. Além da SIE ter neste momento a consola mais potente, a PlayStation 4 Pro, também tem um dos principais sistemas de realidade virtual do mercado, os PlayStation VR.

A Microsoft não tem ainda uma resposta direta para este segmento de mercado, mas será uma questão de tempo até que essa resposta seja dada.

Sobretudo na perspetiva do gaming, teria feito todo o sentido a Microsoft ter investido dois mil milhões de dólares na Oculus. Desta forma teria garantido logo à partida um ecossistema de realidade virtual muito mais abrangente do que o da concorrência – poderia funcionar em desktop e também na plataforma Xbox.

Todo este ecossistema que está a ser desenhado mostra no entanto claramente a nova posição da Microsoft no mercado. Tal como acontece com os smartphones, a empresa não está tão interessada em ter o controlo do hardware, mas prefere ser um parceiro vital no software.

Quem comprou a Oculus foi o Facebook, não a Microsoft. E este está a ser desfecho positivo para o mercado da realidade virtual.

A visão de Mark Zuckerberg

Se a Oculus tivesse sido comprada pela Microsoft, correríamos o risco de assistirmos a um binómio Xbox-PlayStation também no segmento da realidade virtual. Significaria isto que as potencialidades da realidade virtual muito possivelmente iriam gravitar em torno dos conteúdos de videojogos.

O facto de ter sido o Facebook a ficar com a Oculus traz uma nova abordagem à indústria. O Facebook está obviamente preocupado com os videojogos, pois é de facto um dos segmentos mais promissores dentro do ecossistema VR. Mas o Facebook também está bastante atento às potencialidades da realidade virtual na área social.

A demonstração que Mark Zuckerberg fez durante a Oculus Connect mostra claramente qual o objetivo do Facebook para a Oculus. Tivesse sido outra empresa a ficar com a Oculus e possivelmente não teríamos alguém a investir fortemente na realidade virtual como uma nova plataforma social.

Importa também referir aqui os HTC Vive pois o sucesso destes óculos de realidade virtual tem potenciado várias experiências de realidade virtual. A aproximação da HTC com a Valve também faz com que os Vive tenham um forte pendor de gaming – o que de certa forma ajuda a perceber o que aconteceria aos Oculus se tivessem acabado nas mãos da Microsoft.

Mas a HTC sabe que a realidade virtual neste momento precisa de espantar em todos os domínios, não apenas nos videojogos, para tornar-se numa tecnologia mainstream. Os fortes investimentos da empresa em VR têm justamente servido para alargar a abrangência das experiências de realidade virtual.

É importante que haja uma diversificação no mercado para que este seja de facto um ecossistema competitivo e atrativo do ponto de vista do consumidor.

Se a Microsoft tivesse comprado a Oculus no passado, possivelmente agora não teríamos a Microsoft a convencer os fabricantes de PC a produzirem óculos de realidade virtual. Talvez a aposta na realidade aumentada também não fosse tão crítica.

Em conclusão, sim, faria sentido a Microsoft ter comprado a Oculus. Mas tal não aconteceu e o mercado nunca se preocupou com essa possibilidade justamente por o desenrolar da realidade virtual estar a correr significativamente bem.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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