Magic Leap One: Finalmente conhecemos os óculos da mais misteriosa das startups

Há vida na Magic Leap. A tecnológica norte-americana, conhecida por ter angariado 1,9 mil milhões de dólares sem nunca ter mostrado publicamente um protótipo ou produto, revelou finalmente ao mundo aquilo no qual tem trabalhado nos últimos anos. Hoje foram reveladas as primeiras imagens dos óculos Magic Leap One.

Os Magic Leap One que vemos nas imagens são identificados como uma edição para criadores – ou seja, não é a versão final do produto – e a própria legenda das imagens diz que “o produto está continuamente em desenvolvimento e pode ser diferente quando expedir”.

Pelo que agora foi revelado ficamos a saber que os óculos estão equipados com vários sensores de imagem, vão estar obrigatoriamente ligados a um pequeno periférico que será a unidade de processamento e vai existir ainda um comando para interagir com os elementos digitais.

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Olhando para o conjunto, parece que os Magic Leap One enquanto hardware misturam o conceito dos Microsoft HoloLens com o dos Oculus Go, ainda que estes dois equipamentos sejam totalmente independentes, não necessitando de fios para unidades externas.

A revelação do hardware veio com a promessa de que as primeiras unidades do Magic Leap One serão expedidas em 2018, mas não foi indicado o preço do equipamento. Por mostrar fica a experiência que estes óculos de realidade aumentada poderão proporcionar aos seus utilizadores.

“Estamos a adicionar outra dimensão à computação. Onde o digital respeita o físico. E ambos trabalham juntos para tornar a vida melhor. O Magic Leap One é construído para os criadores que querem mudar a forma como experienciamos o mundo”, pode ler-se na página oficial do produto.

A tecnológica norte-americana continua no entanto a ser muito vaga nas explicações daquilo que torna o seu equipamento diferente da concorrência. “Combinamos tecnologia de luz [Digital Lightfield] com mapeamento de ambiente, posicionamento preciso e som espacial para produzir experiências espetaculares que parecem naturais”, lê-se ainda no site.

O ‘molho secreto’ da Magic Leap é a tecnologia Digital Lightfield, algo que a empresa descreve como uma tecnologia de geração de luz digital, que pode assumir diferentes profundidades, e que se mistura com a luz natural que os nossos olhos captam. É esta mistura de luzes que, alegadamente, faz com que os objetos digitais vistos através dos Magic Leap One pareçam mais realistas.

A empresa explica ainda que o vasto conjunto de sensores equipados nos óculos vão permitir objetos digitais inteligentes, isto é, não vai haver apenas uma sobreposição de elementos digitais no mundo físico, os elementos digitais serão capazes de interagir de forma diferente dependendo dos elementos físicos que existirem à sua volta.

Em termos de software propriamente dito, a Magic Leap fala num interface ‘espacial’ e que vai ser compatível com diferentes formatos de interação: voz, gestos, movimentos da cabeça e rastreamento ocular.

Está prometido o lançamento do kit de ferramentas de desenvolvimento para os Magic Leap One no início de 2018.

 

O lado misterioso da Magic Leap

Com a revelação dos óculos Magic Leap One, a startup norte-americana liderada por Rony Abovitz ficou um pouco menos misteriosa. O mistério em torno da empresa adensou-se ao longo dos anos por um simples motivo: a Magic Leap conseguiu angariar muito dinheiro de investidores de peso no meio de muita controvérsia.

Até à data a tecnológica já conseguiu angariar 1,9 mil milhões de dólares de investidores como a Google e a Alibaba, estando avaliada em seis mil milhões de dólares, segundo a publicação Glixel.

O que se sabe é que enquanto outros unicórnios – empresas avaliadas em mil milhões de dólares – precisam de alguns anos de mercado para atingirem esse estatuto, a Magic Leap deu rapidamente o salto para esta categoria e sem mostrar em público o seu produto ou a sua tecnologia.

Como é que isto aconteceu? Os investidores e primeiros jornalistas a estarem em contacto com a tecnologia falavam em algo revolucionário. Quando a Magic Leap apareceu no início da década a realidade aumentada começava a afirmar-se como uma tecnologia emergente, mas eram poucos os grandes nomes a trabalharem nesse segmento.

Fundada em 2011, seis anos depois a Magic Leap faz parte de um mercado muito diferente: a Apple, a Microsoft, a Google e o Facebook já têm todos algo a dizer no segmento da realidade aumentada. Portanto tudo aquilo que a Magic Leap faz, revolucionário ou não, já terá de prestar provas perante as experiências AR que já estão acessíveis para milhões de consumidores.

No início do ano duas reportagens pareciam ter abalado a credibilidade da empresa: os protótipos eram ainda muito rudimentares, a tecnologia estava ao nível daquilo que a Microsoft já proporcionava com os HoloLens e a paciência de alguns investidores parecia estar a esgotar-se. A Magic Leap passou por um período de algum stress, o que em certa medida poderá ter levado a tecnológica a abrir mais o jogo.

Sem dúvida que 2017 foi um ano duro para a Magic Leap, mas igualmente sem dúvida que revelar um design para os seus óculos foi uma forma inteligente de soltar parte da pressão para poder encarar 2018 de outra forma. Dizemos parte, pois a Magic Leap ainda tem muito para explicar e, acima de tudo, muito para mostrar se quer recuperar por completo o estado de graça que viveu durante muitos anos.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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