Realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) estão entre as tecnologias mais promissoras dos próximos anos. São segmentos de negócio que ainda estão a dar os seus primeiros passos, seja no hardware, seja no software. Estes dois elementos estão intrinsecamente ligados: o hardware só vende se houver bom software, mas só vale a pena criar software se houver hardware suficiente nas mãos dos utilizadores.
Em termos de hardware a evolução parece estar garantida. Segundo dados divulgados esta semana pela consultora IDC, estima-se que em 2017 sejam vendidos 9,6 milhões de dispositivos de realidade virtual e realidade aumentada, valor que vai subir para 59,2 milhões de unidades em 2021. Junte-se a isto o facto de existirem 200 milhões de smartphones compatíveis com experiências de AR e VR de alta qualidade e as bases parecem estar bem lançadas.
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Como o hardware ainda não pegou de estaca, só agora é que estamos a assistir à afirmação do software. O ARKit, da Apple, é sem dúvida o porta-estandarte de uma nova vaga de experiências de realidade aumentada, enquanto os ecossistemas da PlayStation, Oculus e HTC Vive estão a puxar pelo lado da realidade virtual.
Parecem estar reunidas todas as condições para que o mercado desenvolva de forma orgânica e gradual, o que daqui a dez anos nos deverá garantir ecossistemas de VR e AR tão consistentes como são atualmente o iOS e o Android na área dos smartphones.
Ou talvez não seja preciso esperar tanto. Nas últimas semanas assistimos ao lançamento de várias ferramentas e programas que têm como objetivo atrair os programadores para criarem experiências de realidade virtual e realidade aumentada. Como? Facilitando ao máximo a criação de novos projetos nestas áreas.
Basta ver o exemplo do ARKit: o lançamento de uma ‘simples’ plataforma de desenvolvimento para o iOS fez com que o sistema operativo da Apple rapidamente passasse a liderar o mercado de AR. A Google está a tentar igualar a marca da maçã nesta luta através da plataforma ARCore.
Há muitos mais interessados em ficar com os melhores programadores e para isso tentam lançar as melhores ferramentas possíveis. Nos parágrafos abaixo vamos falar de cinco possíveis ferramentas para quem quer trabalhar em AR e VR.
Snap | Lens Studio
A empresa responsável pela rede social Snapchat nunca escondeu que a realidade aumentada faz parte do seu roteiro para o futuro. Para ganhar tração nesta área, a Snap lançou uma ferramenta chamada Lens Studio, um programa que permite criar elementos de realidade aumentada que os utilizadores depois podem utilizar na aplicação.
O Lens Studio está disponível para Mac e Windows, tendo sido pensado para programadores, criativos, marcas, empresas e até estudantes. Isto porque a ferramenta tem um sistema de funcionamento relativamente simples: basta importar um modelo 3D, dar-lhe ‘vida’ através da implementação de movimentos, animações ou ações específicas, submeter na plataforma e depois partilhar o Snap Code para que a criação possa ser usada por todas as pessoas.
Para estimular ainda mais a criatividade dos utilizadores da ferramenta Lens Studio, a Snap está a criar desafios específicos. Por exemplo, o desafio que está a decorrer no mês de dezembro tem como objetivo criar os melhores efeitos de realidade aumentada para usar durante a passagem de ano.
Facebook | AR Studio
Depois de vários meses em beta fechada, o Facebook decidiu abrir a sua plataforma que permite a criação de elementos de realidade aumentada para a aplicação Messenger. “Esta plataforma dá poder aos criadores de ligarem arte com dados para trazer a realidade aumentada para o quotidiano através da câmara do Facebook”, lê-se no comunicado.
O AR Studio está mais focado em dar uma ferramenta completa aos programadores e não tanto na questão da simplicidade, como é o caso dos Lens Studios.
O Facebook diz que já tem mais de dois mil programadores a criarem trabalhos no AR Studio e não é difícil de perceber porquê: graças aos seus dois mil milhões de utilizadores, a rede social é uma das plataformas nas quais rapidamente a realidade aumentada poderá ganhar uma grande escala.
Google | Poly
Imaginando que até se dá bem na parte da programação, mas não na arte e na criação de conteúdos 3D – é aqui que entram projetos como o Google Poly. Este projeto da gigante dos motores de busca funciona como uma biblioteca de conteúdos tridimensionais.
O objetivo é que os programadores possam ir ao Google Poly descarregar alguns conteúdos que serão depois importados para experiências de realidade aumentada e realidade virtual.
A Google diz que o Poly foi especificamente criado para o desenvolvimento de experiências AR e VR, estando ainda integrado com duas outras ferramentas criativas – Tilt Brush e Blocks. “Estejas a criar uma caminhada espacial intensa em VR ou um jardim sereno de flores AR, vais encontrar os ingredientes de que necessitas no Poly”, escreve a tecnológica.
O acesso à plataforma é completamente gratuito, portanto só precisa de ter tempo para poder perder-se nas centenas de criações que já estão disponíveis.
A Google tenciona igualmente criar um interface de desenvolvimento de aplicações (API) com o Poly, o que permitirá integrar de forma ainda mais facilitada os elementos 3D disponíveis na plataforma com as aplicações que estão a ser desenvolvidas.
Amazon | Amazon Sumerian
De todas as grandes tecnológicas, a Amazon tem sido aquela que menos ondas tem provocado nos segmentos de AR e VR. Isso mudou no final de novembro quando a tecnológica assumiu claramente a vontade de também lutar nestas áreas através da Amazon Sumerian.
Esta plataforma pretende facilitar a criação de experiências de realidade virtual e realidade aumentada, acima de tudo pela integração com os serviços de cloud computing AWS, já usados por milhares de empresas em todo o mundo. O Amazon Sumerian garante assim a criação, mas também o alojamento, destas experiências. A ferramenta é gratuita e os utilizadores apenas vão pagar pelo ‘espaço’ que as suas experiências consumirem.
A Amazon também tenta atrair mais do que programadores, ao criar uma plataforma que tem elementos tridimensionais próprios e permite assim que muitos possam iniciar a sua primeira criação de AR e VR sem grandes conhecimentos de código associados. Por seu lado os programadores mais experientes vão poder tirar partido da integração com ferramentas mais avançadas, como o Polly, a plataforma de linguagem natural da gigante norte-americana.
BlippAR | Blippbuilder Script
A Blippar é uma das empresas mais antigas a operar no segmento da realidade aumentada. A atividade da tecnológica começou em 2010 e hoje é um dos nomes mais estabelecidos na indústria. O ‘gancho’ diferenciador da empresa é misturar elementos de realidade aumentada e reconhecimento visual na mesma aplicação.
Ainda que a Blippar seja acima de tudo conhecida pela aplicação que tem disponível para dispositivos móveis, a empresa também tem um lado mais focado nos programadores e na criação de ferramentas que ajudem a amplificar os trabalhos em AR.
O Blippbuilder destina-se a todos os que procuram uma experiência de desenvolvimento mais básica e que funciona numa lógica de low code, isto é, permite construir experiências AR através de ‘arrastar e largar’ objetos 3D. Para os programadores mais avançados está disponível o Blippbuilder Script, uma plataforma que já permite criar experiências AR personalizadas, mais complexas, com animações avançadas e modelação 3D.
Sugestão extra: Motores de desenvolvimento multiplataforma
Unity, Unreal Engine e CryEngine são três motores de desenvolvimento bastante conhecidos da indústria dos videojogos. Pelas suas capacidades na criação de conteúdos digitais, estas são ferramentas extremamente otimizadas para a criação de cenários e personagens virtuais.
Além disso, as três plataformas permitem que os utilizadores possam desenvolver experiências AR e VR para diferentes plataformas, visto que são considerados como standards na indústria. Assim conseguirá mais rapidamente lançar o mesmo trabalho em diferentes plataformas, aumentando o público-alvo e rentabilizando ainda mais o trabalho que é feito.
O maior grau de complexidade destas ferramentas também significa que conseguirá extrair funcionalidades e características mais maduras dos produtos finais, o que provavelmente será o objetivo de muitos programadores que já têm experiência e querem simplesmente mudar o seu foco de negócio para AR e VR.