Em 2016 o Facebook faturou 27,63 mil milhões de dólares na totalidade, sendo que deste valor 26,88 mil milhões de dólares foram gerados através da rede de publicidade da tecnológica. Ou seja, a publicidade representa neste momento 97% das receitas do Facebook, um número impressionante e que coloca a rede social taco a taco com a Google neste ramo.
Hoje o Facebook deu o pontapé de saída para o seu evento de programadores, a conferência F8, e ao longo da apresentação principal ninguém referiu a palavra publicidade. Falou-se em marcas, empresas e em oportunidades, mas o termo publicidade não entrou nos telepontos dos executivos da tecnológica.
A palavra pode não ter entrado, mas vimos publicidade em vários momentos importantes da keynote principal. O Facebook focou a sua apresentação na nova plataforma de realidade aumentada que está a disponibilizar para os programadores. Mas aquilo que no fundo o Facebook está a fazer é criar uma nova realidade para a comunicação das marcas.
A Camera Effects Platform é um novo ecossistema de desenvolvimento que vai permitir aos programadores independentes e às empresas criarem efeitos de realidade aumentada que serão integrados nas aplicações de câmara do Facebook.
“A câmara [dos smartphones] é a primeira plataforma estabelecida de realidade aumentada”, disse Mark Zuckerberg durante a F8.
A gigante norte-americana está a utilizar tecnologias de inteligência artificial e de reconhecimento de imagem para conseguir dar aos programadores ferramentas que permitem criar efeitos de realidade virtual de forma simplificada.
Ainda que o processo de desenvolvimento não seja complexo, o mesmo não pode ser dito da tecnologia que o Facebook criou para tornar isto possível. Por exemplo, a tecnologia SLAM permite criar nos smartphones um efeito de realidade aumentada semelhante ao dos HoloLens – fixar um conteúdo digital a um elemento físico e rodar sobre o mesmo sem que este perca posição.
Publicado por Facebook for Developers em Quinta-feira, 13 de Abril de 2017
Aquilo que depois pode ser programado vai variar dentro de três áreas: pode ser uma experiência de realidade aumentada informativa, disponibilizando informação contextualizada sobre a imagem; pode ser uma experiência que recria objetos digitais e sobrepõe-nos à realidade; e pode ser uma experiência de realidade aumentada de melhorias, como transformar uma parede branca numa obra de arte.
À medida que o Facebook foi mostrando exemplos para estas diferentes aplicações, foi mostrando trabalhos que já estão a ser desenvolvidos por algumas empresas – numa fase inicial serão seis os parceiros da tecnológica no lançamento destes novos filtros.
Um dos primeiros filtros de realidade aumentada a ser mostrado foi produzido pela Nike – este filtro coloca uma fita na cabeça dos utilizadores com o símbolo da marca e coloca também um mostrador com o tempo da corrida ou com o número de quilómetros percorridos.
Camera effect vid 2 last minute
Publicado por Facebook for Developers em Quinta-feira, 13 de Abril de 2017
Num outro exemplo o Facebook mostrou um trabalho desenvolvido pela Electronic Arts relativamente a Mass Effect: Andromeda – os utilizadores podem tirar uma selfie com os célebres capacetes do jogo e podem também ver quais as tabelas de classificação num ambiente de realidade aumentada.
Mais à frente foi mostrado como filtros dinâmicos e interativos podem ser aplicados em jogos de futebol, tendo o exemplo recaído sobre um hipotético Manchester United vs. Real Madrid. Imaginando que está a fazer uma transmissão em direto e um golo é marcado, começam a chover confetis no ecrã.
Num outro exemplo o Facebook mostrou como transformar uma simples fotografia 2D numa composição 3D e que pode ser manipulada digitalmente – para encher uma sala com Skittles, por exemplo.
É verdade que o Facebook mostrou muitos mais exemplos de realidade aumentada agnósticos do que exemplos associados a marcas. Mas também parece claro que a rede social piscou de forma pronunciada o olho às grandes marcas com esta forte aposta na realidade aumentada.
Em meados de 2016 ficou célebre a frase do diretor financeiro do Facebook, David Wehner, quando disse que a empresa estava a ficar sem espaço para colocar mais anúncios no News Feed. Parece que surgiram novas ideias sobre como colocar esses anúncios: fazer com que sejam os próprios utilizadores a gerar conteúdos associados a marcas.
Com uma única apresentação o Facebook consegue um resultado super eficaz: disponibiliza mais uma plataforma com potencial de monetização para os programadores; traz novas funcionalidades para manter ‘agarrados’ os utilizadores; cria uma nova fonte de receita publicitária; e ainda dá um passo importante na sua afirmação rumo ao futuro da realidade aumentada – que nas palavras de Mark Zuckerberg passará por uns óculos e até por um simples par de lentes de contacto.
A Camera Effects Platform já está disponível em fase beta para todos os interessados, com a rede social a não revelar quando as criações dos programadores e das empresas vão ficar disponíveis. O que o Facebook disse é que espera que os filtros de realidade aumentada disponíveis deixem de ser apenas algumas dezenas para passarem a ser várias centenas num curto espaço de tempo.
Depois do fenómeno de Pokémon GO, ficou claro que há apelo na tecnologia de realidade aumentada para os utilizadores e ficou também claro que se a plataforma for significativamente relevante, pode gerar importantes fluxos de receitas.
A estratégia está a ser explorada pela Niantic – existem Pokéstops que estão associadas a lojas de determinadas marcas, por exemplo – e também já está a ser explorada pelo Snapchat há vários meses.
No que toca à base de utilizadores ninguém tem a mesma posição confortável que o Facebook tem atualmente: 1,87 mil milhões de pessoas ativas mensalmente só na rede social principal. Acha mesmo que esta é uma oportunidade que as marcas não vão querer explorar?