Os últimos 50 anos viram avanços tecnológicos considerados como irrealistas até à sua materialização. Mas o ser humano parece não ter ainda percebido que é do irrealismo que saem as tecnologias de amanhã que definirão a forma como vivemos, interagimos e até mesmo evoluímos como espécie animal.
O mundo das tecnologias está hoje a avançar a uma velocidade alucinante. O que a semana passada era a mais moderna, topo de gama peça de robótica, é esta semana ultrapassada pela invenção de algo mais flagrante, rápido e eficaz.
Como jornalista, eu tenho a oportunidade de colher as opiniões e visões de vários executivos de diferentes partes do mundo, incluindo aqueles que estão a fabricar um futuro em que os robôs assumirão um papel crucial para a evolução humana. Ou não.
Imaginemos agora que estamos 50 anos amanhã adentro. Entremos em 2066, 26 anos após a adopção em massa de carros sem condutor e onde tecnologias que hoje são consideradas disruptivas, são então como que um dado adquirido, por exemplo, impressão 3D, realidade virtual e realidade aumentada.
Mas há vários sectores deste ramo da ciência que vão para além do comercial e do banal. Biotecnologia avançada, ultra inteligência artificial, super nano tecnologia, entre outras.
No entanto tudo isto traz consigo várias questões: enquanto que por um lado é extramente fascinante que a espécie humana consiga desenvolver tecnologias que a ajudem a viver mais tempo e melhor, a desenvolver as suas capacidades de raciocínio e a expandir o leque de conhecimentos, há que olhar ao lado prático de introduzir robôs em grande escala.
Em 2066, as estimativas apontam para uma população mundial de mais de dez mil milhões de pessoas, e uma esperança média de vida global perto ou acima dos 80 anos (alguns países poderão mesmo ultrapassar a barreira dos 100 anos).
Hoje em dia, quando empresas são questionadas sobre a realidade de introduzir robôs nas linhas de montagem (ou mesmo de atendimento ao público) que operem por si próprios todo a processo de fabrico, as respostas são de que os humanos nada têm a temer em termo laborais, ou pelo menos a maioria não se deverá preocupar. E isto até está correcto. Pelo menos para os próximos cinco a dez anos talvez.
Mas 50 anos futuro adentro, as máquinas vão conseguir fazer tudo o que hoje requer um humano, incluindo fabricarem-se a si próprias e até programarem-se, para além de preverem com antecedência quando deixaram de funcionar (algo que já acontece hoje). Estas não serão máquinas normais. São máquinas que têm inteligência própria, e até certo ponto, desenvolverão a sua forma própria de trabalhar tornando-se mais eficazes que o ser humano.
E isto não é uma realidade impensável. Por exemplo, em 2014, a Universidade de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolverem um mini-robô, baseado na técnica japonesa de origami que consegue montar-se a si próprio e literalmente andar em poucos minutos.
Outro exemplo são as redes 6G. Apesar de não ter a ver diretamente com robótica, umas das minhas primeiras conversas no campo da tecnologia foi com o responsável pelo pesquisa e desenvolvimento das redes 5G da King’s College London. A iniciativa, fundada em parte pelo governo do Reino Unido, está não só a tentar criar a muito falada e aguardada rede 5G, mas ao mesmo tempo dar inteligência a esta, para se metamorfosear independentemente para uma rede 6G. Estamos a falar de todo um software, rede móvel e comunicações que conseguem escrever-se a si próprios. Agora imagine isto em cada robô e mesmo em grupos de robôs.
Para que servirão os humanos em 2066? Possivelmente para assegurar que emoções e reacções a experiências inesperadas não são baseadas em zeros e uns.
Por exemplo, com as eleições presidenciais nos Estados Unidos, a fundação Watson for President, está a defender que o sistema de computação cognitiva da IBM seria capaz de concorrer para presidente de uma das mais influentes nações do mundo. (E só estamos em 2016!)
No entanto, e por muito que vários seres humanos preferissem um software inteligente a qualquer um dos candidatos, a verdade é que certas decisões não podem ser tomadas baseadas em puros factos e números directos. Por exemplo, no que toca a salvar vidas em conflitos através da morte de outras.
A comunidade cientifica prevê que nos próximos dez anos, os computadores atinjam a velocidade computacional do cérbero humano, e a partir daí será sempre a subir.
Mas talvez haja um solução para que todos possamos viver em harmonia digital. E se um ser humano se tornar tão forte, inteligente e eficaz tal como um robô? Ciborgues. Uma mistura de ser humano com tecnologia, e vice-versa. Existem hoje vários laboratórios e visionários a trabalhar para este fim.
Por exemplo, dentro em breve será possível ter o nosso ecrã de telemóvel implantado debaixo da pele da nossa mão ou mesmo o “telemóvel” na nossa cabeça. Interfaces que fazem computação no cérebro e deixam humanos, por exemplo, comunicar com outros somente através do pensamento é algo que já é possível, e poderá chegar ao mercado antes de 2020. Agora imagine-se a bola de neve que isto não irá desencadear nas próximas cinco décadas.
Outros desenvolvimentos têm sido feitos no campo da força humana, como por exemplo sistemas hidráulicos que ajudam um humano a levantar pesos extremos através de um “fato musculado”. A universidade de Tóquio é uma das que está a trabalhar neste campo, e até mesmo a Panasonic já desenvolveu um “esqueleto robótico” de 6kg, que se prende aos ombros, cintura e coxas do utilizador e permite levantar pesos e trabalhar mais eficazmente, principalmente em campos agrícolas.
Estes são alguns dos primeiros sinais da tecnologia que se está a misturar com o corpo humano. Os avanços na medicina, onde implantes robóticos estão já a ser feitos em pessoas que perderam um braço, uma perna, etc, são também um sinal de que esta vertente da robótica não é de todo um sonho maluco como muitos dizem, e não está assim tão distante quanto isso.
E isto encaixa dentro da filosofia transumanista que olha à introdução de tecnologia directamente no corpo humano (desde nano robôs, a micro processadores).
Todavia, e por muito excitante que todas estas possibilidades de nos tornarmos em super-humanos possam ser, haverá sempre o factor económico associado a isto tudo.
A questão que se põe é a seguinte: estará o proprietário/a de uma fábrica/negócio, por exemplo, disposto a pagar 100 salários a 100 destes “super-humanos”, ou preferirá ele ou ela investir num sistema robótico que só necessita de um ou dois humanos atentos a uma potencial emergência que é remota de qualquer das formas?
Num mundo com mais de dez mil milhões de habitantes, a necessidade por alimentos e bens será muito maior do que hoje, o que para alguns traduz-se como novas oportunidades – rápidas – de negócio. E isso possivelmente acabará por ditar linhas de fabrico (e mesmo de atendimento ao cliente) completamente robotizadas, algo que os transumanistas não acham muito apelativo.
Porém, isto poderá abrir novas oportunidades para o intelecto humano. A realidade é que a aceitação de novas tecnologias no campo da robótica será muito diferente de hoje. Uma criança nascida na década de 2040, quando estiver na idade de entrar no mercado de trabalho (baseado nos valores de hoje), estará muito mais aberta ao uso de tecnologia na profissão que os seus avós e bisavós (a geração Y e Z) exerceram anos antes em 2016.
Terão mais tempo para se dedicar ao pensamento, a descobrir o mundo (e quem sabe senão mesmo ao espaço) e de criar novas formas de negócios, tecnologias e filosofias que nós nem sequer sonhamos do que se tratarão.
A tecnologia de hoje tem tanto de fascinante como de imprevisível, porque transforma-se a uma velocidade cada vez mais rápida e não há realmente forma de prever o futuro pois há imensos cenários e pequenos desenvolvimentos que podem mudar tudo. Nem mesmo os quadrantes, como por exemplo da Gartner, podem ser considerados 100% precisos.
No final, dentro de 50 anos, a vida tal como a conhecemos não será certamente a mesma. Todos nós teremos pelo menos uma forma inteligente de robótica em casa e a casa em si será inteligente. E todos nós conheceremos pelo menos uma pessoa que perdeu o seu emprego para a um robô (isto se essa pessoa não formos nós).
Será no entanto importante cimentar desde cedo – e por cedo eu digo o mais rápido possível – até onde é que os robôs podem ir.
E nesse sentido, por exemplo, as leis de robótica criadas em 1942 por Isaac Asimov, ex-professor de bioquímica na Universidade de Boston e autor de vários livros de ficção cientifica, podem ajudar a definir o futuro.
Incluídas na história titulada Runaround, Asimov escreveu que a lei número um seria que “um robô não pode ferir um humano, ou por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal”. A segunda lei dita que um robô deve “sempre obedecer às ordens dadas por seres humanos, excepto quando essas ordens entram em conflito com a primeira lei”.
Por último, Asimov escreveu que o robô deve proteger a sua própria existência “desmente que tal protecção não entre em conflito com as duas leis anteriores”.
Legislação será necessária para evitar que filmes como Ex-Machina e Terminator se tornem realidade. Mas em última análise, o ser humano está a ser desafiado a abrir a sua mente a uma nova forma de viver, e deverá abraçar as novas tecnologias disruptivas, porque o que é disruptivo nem sempre significa mau. Estamos só no principio de tudo isto!