O ano de 2020 foi altamente atribulado a nível mundial. A pandemia da COVID-19 veio causar estragos em tudo o que era sector e a estabilidade geral ainda vai demorar. Ainda assim, 2020 marcou o início de uma nova geração que se vai procedendo ainda de uma forma bastante irregular, com vários problemas de logística, mas que mesmo cientes disso, a Microsoft e a Sony fizeram questão de arregaçar as mangas e investir no mercado, mesmo que isso trouxesse custos acrescidos, com irregularidades na produção, quer de hardware ou software. O que é certo, é que mesmo durante o período pandémico, o mercado moveu-se sobretudo com grandes títulos de peso, uns para finalizar um período, outros para abrir as hostes. Já do lado da Nintendo, as coisas, estranhamente, parecem estar estagnadas há vários anos, com um silêncio estridente oriundo dos estúdios internos da companhia, que pouco tem saído com calibre e selo de qualidade da Nintendo.
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O fraco sucesso comercial da Wii U embora já vai longe ainda vem atormentando não só a Nintendo como também os consumidores que tiveram a consola e que ainda assim continuaram a acompanhar a Nintendo ao comprar a sua sucessora, e que de uns tempos para cá, vêm sentido a ausência de novos jogos, de títulos desenvolvidos em exclusivo e pensados para tirarem total proveito da consola híbrida. Os títulos que se destacaram na fracassada Wii U, viraram ou ainda vão virar ports e remasterizações muitas delas preguiçosas, que não teriam problema algum, caso viessem com um preço ajustado.
Mas parte do meu descontentamento com o período atual da Nintendo surge com a última apresentação Nintendo Direct e com a ausência de verdadeiras novidades, depois de um largo período de falta de notícias da companhia, onde na última década tem vindo a fazer destas apresentações com alguma regularidade, palco dos produtos que pretende vir a promover. As Nintendo Direct que em tempos foram palco de criatividade informativa, têm vindo a cair na futilidade, onde a diferenças entre uma mini ou de uma apresentação geral, poucas diferenças têm tido para além do tempo de duração, porque em termos de curadoria do que é apresentado, é praticamente nula.
A Nintendo depois de um período sabático, a dormir ao sol, seguidamente do sucesso praticamente previsível de Animal Crossing: New Horizons à escala racional, mas que virou fenómeno mundial graças à pandemia, e que teria imenso para mostrar, depois de um ano fraquíssimo, paupérrimo em verdadeiras novidades para os jogadores quem tiveram as últimas consolas da Nintendo, e que desejavam, obviamente produtos novos. À exceção de Animal Crossing: New Horizons, pouco mais se aproveitou em 2020 da Nintendo Entertainment Planning & Development, que é onde geralmente saem os pesos pesados da Nintendo. Tem sido assim, desde 2017, ano de títulos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild (pensado originalmente para a Wii U), Arms, Splatoon 2 e Super Mario Odyssey.
As celebrações dos 35 anos de Super Mario, que pouco mais se traduziram numa colectânea de títulos 3D de Super Mario a preço inflacionado e com o lançamento para o mercado de um Game & Watch: Super Mario Bros. edição limitada com preço desajustado, o que acabou por se destacar deste aniversário, foi o battle royal de Super Mario Bros. 35, título exclusivo, ainda que temporário, para aderentes do serviço online da Nintendo. Ainda assim, a Nintendo em 2021 teria tudo para se iniciar com grandes novidades e abrir o ano com grandes perspetivas para os donos da Nintendo Switch com as celebrações que se seguem: 35 anos da série The Legend of Zelda e Metroid, 40 anos de Donkey Kong e os 25 anos da saga Pokémon. Mas, infelizmente, pouco mais sabemos do que um lançamento despido de entusiasmo com a versão em alta definição de The Legend of Zelda: Skyward Sword HD, com mais uma vez um preço desajustado, para aquilo que oferece a quem já teve a oportunidade de jogar, e para o mercado, principalmente por ser um jogo com 10 anos de existência. De The Legend of Zelda: Breath of the Wild 2, revelado em 2019, também não há boas novas.
A pandemia da COVID-19 não pode ser ignorada, mas também não pode servir de desculpa para a ausência de ambição da gigante de Kyoto. E se por um lado já se antecipa 2022, com a chegada de Splatoon 3, por outro vai se prevendo uma mão-cheia de nada para a segunda metade do ano de 2021. Dos estúdios que colaboram com a Nintendo, ainda vão surgindo títulos com alguma qualidade, Mario Golf: Super Rush, Famicom Detective Club: The Missing Heir / Famicom Detective Club: The Girl Who Stands Behind e os novos conteúdos de Hyrule Warriors: Age of Calamity – Expansion Pass que nada se viu, mas que certamente valerá a pena para quem gostou da proposta original.
Mas se por um lado há falta de matéria-prima da Nintendo, o apoio das third-parties vem sendo cada vez menor de grandes empresas, limitando-se a pouco mais de Square-Enix, Capcom e Koei Tecmo. E mesmo estas, geralmente vêm sempre com um pé atrás, e com produções de segunda linha, ou estrategicamente pensados em tirar o máximo proveito do típico consumidor da Nintendo, à exceção da Capcom, que agora traz em exclusivo (até ao momento), Monster Hunter Stories 2 e Monster Hunter Rise, que vão vender imenso no Japão, mas no Ocidente ainda se sabe pouco se vão tirar proveito do sucesso anterior de Monster Hunter World. De Metroid Prime 4 (Retro Studios), Bayonetta 3 (PlatinumGames) e Detective Pikachu (Creatures), todos anunciados precocemente, nem poeira. Já no que toca a estúdios indie, ou empresas de menor dimensão, o volume de jogos é superior, mas a qualidade tende também a ser mais variável, e o desempenho na Switch nem sempre é o mais satisfatório, principalmente quando se trata de ser distribuído em multiplataformas.
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Este ponto de vista é obviamente de alguém que segue a Nintendo e que consume os produtos da Nintendo, mas para um mero consumidor casual, que vai saltando lançamentos de consolas e de produtos da marca, certamente a visão será outra. A oferta é vasta, mesmo com ports, remasterizações, remakes, ou simples títulos onde a experiência passa por outras coisas, como é o caso de Mario Kart Live: Home Circuit, mas o vasto público que acompanha a marca precisa de mais estímulos, de novas propriedades intelectuais, e sobretudo, experiências que agradem os seguidores de longa data. Não é fácil agradar todos os públicos, mas é necessário tomar decisões, e talvez essas já tenham sido tomadas, ainda que em conta-gotas.