O Natal perfeito (que nunca o será)

Chegou o tempo das crianças, da paz e do amor, dos sais de frutos por se ter comido demais e dos arrotos desmedidos daquele tio que se enfrasca sempre com aquela garrafinha de tinto que se trouxe lá da terra.

Por vezes a azáfama e a confusão exagerada nesta época faz-me ter vontade de passar um natal sozinho. Sem ter que me vestir bem para ir ver familiares que só vejo uma vez por ano e ter conversas embaraçosas sem qualquer conteúdo, este gostava de ser só eu, o meu pijama com gatinhos, litros de cerveja fresca, os doces tradicionais da época e o silêncio. O SILÊNCIO. Que festividades seriam! 

Obviamente, os jogos acompanhar-me-iam nesta consoada santa para mim, sem gritos da filha e companheira (não leias isto, Carla!), sem gritos do tal tio, que a meio do jantar de dia 25 de dezembro encarna a personagem de Toni, o fadista, e que nos brinda com versões estapafúrdias de músicas que só ele conhece, acabando a noite de boxers sem ninguém saber porquê, com o som do seu ronco a embalar a noite.

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Denota-se muito o meu entusiasmo por algo assim? Pois bem, vou levar o meu desejo de um natal a sós com os meus pensamentos mais além! Caramba, o que jogaria? Tantos jogos, tão pouco tempo! Vou servir o meu menu natalício de jogatanas em forma de ementa:

Para entrada, algo festivo e apropriado: Batman: Arkham Origins. Haverá algo mais enternecedor do que ver Gotham enfeitada para receber não o Pai Natal, comhordas de criminosos e malfeitores que insistem em fazer dói-dóis nas pessoinhas preferidas do homem-morcego? A neve que cai, os capangas que caem, tudo cai, enquanto se explora uma estória bem desenvolvida e um dos melhores sistemas de combate jamais criados para um videojogo… Para mim, parece-me Natal! (acompanhar com Heineken fresquinha e rabanadas).


Depois, uma sopinha. Algo de fácil digestão mas cheio de sabor: Kirby and the Forgotten Land. Como fã do pequeno marshmallow rosa, tudo o que representa enche-me o coração de alegria natalícia. Como época propícia para exageros culinários, surpreende-me sempre a capacidade glutona de Kirby e interrogo-me para onde irá tudo o que ele ingere e a sua capacidade de absorver os poderes de todo e qualquer objeto. Iria aprender muito com ele, pois como sempre demais e penso sempre que podia ter comido mais ainda. Dilemas de obesos…

É um jogo que não prima pela sua dificuldade, mas que escorrega bem e rápido para passarmos ao próximo prato. (acompanhar com uma Budweiser a temperatura ambiente, para não se correrem riscos de choque térmico e croutons).


Passemos aos bacalhaus, lombos e perús desta vida. Os pratos principais têm o condão de chegarem à mesa tarde demais, pois já nos empaturramos de entradas, as primeiras garrafas de vinho já foram e a conversa já flui com naturalidade, sobrando quase tudo, sendo uma verdade inexorável que esta comida rejeitada será servida uma e outra vez nos dias seguintes. Assim, no meu natal a solo como prato principal sabia bem um multiplayer sem toxicidade, onde todos sem deem bem e que promova a saúde mental. Ah! Isso não existe e a malta gosta é de regabofe e de insultar mães alheias. Então o escolhido teria que ser Fortnite. Com tanto para fazer e ainda com inúmeros milhões de jogadores ativos diariamente, Fortnite recusa-se a ser esquecido no cemitério dos jogos e é ainda um dos melhores a promover interatividade e sentido de comunhão. Uma horinha disto e deve ser suficiente. A minha mãe não é nada disso que vocês dizem. (acompanhar com Sagres fresca e um balde para o xixi).


Chegada a hora de abrir os presentes. E estar sozinho nestes dias significava que todos eram para mim! Que agradável seria poder ofender bem alto todos os que dão por ordem crescente de ódio Ferrero Rocher, meias, boxers, qualquer jogo da série Battlefield… Um homem pode sonhar. Assim sendo, receberia neste natal só para mim uma cópia única de Star Wars Jedi: Survivor, que faria questão de jogar intricadamente e apontar todos os pormenores que iria observar, para depois os poder libertar no mundo meses antes do seu lançamento oficial. O êxtase, a demência, o ódio! Por vezes a melhor prenda de natal é só mesmo ver o mundo a arder…

Um feliz Natal, acompanhado de todos aqueles que vos querem bem. E boas jogatanas!

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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