Artigo de opinião por Vanessa Amaral – Head of Social Media & Content @ Worten & Worten Game Ring, gamer nas horas livres e ainda autora do Podcast “Os Anti-Sociais”
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Hoje, é o meu 17º dia de isolamento social voluntário, e, finalmente, após duas semanas de trabalho non-stop, tive oportunidade de me sentar a jogar e conviver com os meus velhos amigos de LAN Parties. Jogámos Medal of Honor: Allied Assault, um clássico, bem sei. Podíamos ter optado por algo mais recente como Fortnite, Apex Legends ou CS. Mas não, quisemos jogar o jogo que sempre nos uniu e entreteve ao longo de todos estes anos de amizade.
“Ser gamer sempre foi considerado pela maioria como algo muito solitário. É falso!”
É esta a magia dos videojogos. A magia que é tantas vezes criticada por criar antissociais, sociopatas e contextos de violência. Prefiro encarar a coisa de outra forma e deixar de lado os títulos sensacionalistas dos media. A mim, o gaming só me trouxe coisas boas. Trouxe-me memórias de momentos inesquecíveis, momentos esses que fortaleceram muitas das minhas amizades. Para não falar das novas amizades que tenho vindo a fazer neste mundo que, tristemente, e porque estamos a viver este momento difícil e atípico da história da humanidade, só agora está a ter o devido valor e atenção. Atenção positiva, claro.
Os jogos sempre foram uma forma das pessoas se ligarem e de conviverem socialmente. Não podemos esquecer de todos os outros que não são videojogos. Quem nunca passou um serão a jogar “Risco” ou “Monopoly”? Ou o meu preferido desta categoria, o “Cluedo”. Sempre gostei de um bom mistério. Agora, que estamos todos em casa, isolados, e muitos de nós, sozinhos, precisamos mais do que nunca de entretenimento e da companhia uns dos outros. É aqui que entra a importância dos videojogos e das comunidades que se formam, e ainda se vão formar, nos meios digitais em torno desta temática.
Ser gamer sempre foi considerado pela maioria como algo muito solitário. É falso! Pelo menos nos tempos que correm. Sempre tivemos os nossos grupos de amigos no digital e sempre utilizámos ferramentas digitais para jogarmos e comunicarmos. Enquanto o resto do mundo está agora a descobrir e a ligar-se via House Party, uma app de videochamadas em grupo, nós os gamers, business as usual, continuamos ligados via Discord. Para nós, pouco ou nada mudou nesse campo. Enquanto o resto do mundo desesperou com a ideia de ficar fechado em casa “sem nada para fazer”, nós os gamers, business as usual, ligámos o PC ou a consola e fomos entreter-nos.
Mas jogar já não é a única fonte de entretenimento do gaming. Muitos de nós ligámos os serviços de streaming e fomos assistir aos nossos criadores de conteúdo preferidos na Twitch, Mixer ou, até mesmo, no Youtube. A Twitch está a atingir números históricos. De acordo com a Quartz, o número de horas em stream subiu 15% nos últimos dias e o número de visualizadores aumentou 12% face ao mesmo período do ano passado. Desde agosto de 2019 que não se registava um aumento tão grande de visualizadores na plataforma. No que toca a criadores de conteúdo, durante o mês de março, o número de novos canais cresceu 3.3%.
“Os jogos trazem alegria e unem as pessoas”
A Twitch é uma plataforma fantástica para as comunidades. Falo da Twitch porque a conheço melhor. E sei que, em tempos como estes, é ótimo teres, em primeiro lugar, um criador de conteúdo de quem gostas regularmente, em live. Segundo, que tenhas possibilidade de interagir com esse criador em real-time. Terceiro, que encontres no canal desse criador uma comunidade de pessoas com quem tens algo em comum. A Twitch é um porto de abrigo para muitos. Não tenho a menor dúvida.
No geral, está tanta gente na internet a consumir conteúdo que as operadoras, a nível global, estão a reduzir a qualidade do sinal da net, e até se fala, na possibilidade de cortarem nos videojogos e plataformas digitais para dar prioridade a comunicações de voz e SMS. A Microsoft e a Playstation viram-se obrigadas a tomar medidas de contenção na utilização dos seus downloads e serviços de cloud de forma a preservar a normalidade das plataformas. Nem a internet estava preparada para a pandemia.
No entanto, a própria OMS – Organização Mundial de Saúde veio “prescrever” os videojogos como uma prática saudável para se ter durante os tempos de coronavírus. Como quem passa a receita para um medicamento. Relembro que a mesma OMS veio, em tempos, dizer que os videojogos eram viciantes e que constituíam um distúrbio mental. É esta OMS que, agora, se junta aos fabricantes de jogos com a iniciativa #PlayApartTogether, como forma de encorajar as pessoas a ficarem em casa. Como os tempos mudam. Graças a esta iniciativa, vamos ter muitos jogos gratuitos nas plataformas e os fabricantes preparam-se para desenvolver novos. Este é um momento de enorme importância. A OMS, ao voltar atrás na sua opinião inicial, está a dar força a uma opinião que todos os gamers já tinham, que os jogos trazem alegria e unem as pessoas.
Termino com as notas clichê que todos temos visto por aí. Temos de fazer a nossa parte. Ficar em casa. Liguem o jogo, liguem o Discord. Joguem, falem, convivam e divirtam-se. Porque o maior ato de amor para com próximo, neste momento, é estarmos fisicamente distantes, para que, muito em breve, voltemos a estar próximos.