A Sony e a Microsoft entraram numa verdadeira corrida pela consola mais potente do mercado com o lançamento da PlayStation 4 e da Xbox One, respetivamente. Os jogadores dedicados pedem cada vez melhores gráficos, melhores desempenhos e experiências que sejam o mais realistas possível e foi o que estas empresas tentaram entregar.
Apesar da proximidade entre a PlayStation 4 e a Xbox One em termos de desempenho, ambas começaram cedo a perder para o PC – os jogadores que optavam por usar um computador já estavam a tirar partido de videojogos em resoluções 4K. Em parte isto ajuda a explicar por que razão não tivemos o típico ciclo de seis a sete anos para esta geração de consolas e que se traduziu nos lançamentos da PlayStation 4 Pro e da Xbox One X.
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São as consolas domésticas mais potentes de sempre – a PlayStation 4 Pro consegue debitar 8,4 teraflops de processamento e a Xbox One X uns impressionantes 12 teraflops. Estes sistemas de jogo continuam a estar distantes da potência que os computadores topo de gama conseguem garantir, mas têm a vantagem de suportar jogos em 4K ou lá muito próximo sem ser necessário gastar mais do que 500 euros em hardware.
Então e a Nintendo? A Nintendo não quer saber dos teraflops para nada. Há muitos anos que a tecnológica japonesa tem focado os seus esforços de hardware na criação de experiências de gaming que são diferenciadoras. Com a Switch a ‘Big N’ seguiu um caminho completamente diferente das suas rivais, tão diferente que se não fosse o facto de também ser uma consola doméstica, compará-las nem fazia sentido.
O conceito híbrido da Switch, de longe o seu maior trunfo, tem surtido bons resultados: dez milhões de unidades da consola vendidas em apenas nove meses diz muito sobre a aceitação da proposta de valor da Nintendo junto do grande público. É também uma prova de que na indústria dos videojogos os gráficos não são o elemento mais importante.
A Switch é a combinação dos melhores conceitos que a Nintendo trouxe nos últimos anos: é uma consola que permite ter uma experiência doméstica, uma experiência fora de portas, permite multijogador local, permite ter um comando tradicional ou explorar a versatilidade de comandos sem fios sensíveis aos movimentos dos utilizadores. Jogue como, quando e onde quiser, literalmente.
Aparentemente o lado diferenciador da Switch não estava ainda totalmente revelado. Ontem, 17 de janeiro, a Nintendo anunciou um novo conceito de jogos para a sua mais recente consola. Chamam-se Toy-Con e são experiências interativas possibilitadas através da ligação da consola a brinquedos feitos em cartão.
Esta nova linha de experiências interativas é chamada de Nintendo Labo. A Nintendo Labo será constituída por diferentes Toy-Con, brinquedos de cartão ‘faça você mesmo‘ que depois podem integrar o ecrã da Switch ou os comandos Joy-Con para criar diferentes experiências.
Ou seja, a Nintendo está a propôr não só novos jogos aos utilizadores, como uma experiência mais completa. Antes de jogar terá de passar obrigatoriamente por uma fase de criação, na qual é necessário montar os brinquedos de cartão seguindo as instruções dadas na consola.
Se há brinquedos que parecem relativamente simples de montar – como transformar dois Joy-Con num carro telecomandado -, há outros brinquedos de maior complexidade, como o kit que permite criar uma estrutura de robô. A Nintendo diz mesmo que esta nova aposta é direcionada para as crianças ou para todos aqueles que ainda têm o espírito de uma dentro de si.
“O Nintendo Labo convida todos os que tenham uma mente criativa e um espírito divertido a criar, jogar e descobrir novas formas de interagir com a Nintendo Switch. Estou desejoso de ver famílias a divertirem-se a criarem kits, com grandes sorrisos nos rostos”, disse em comunicado o presidente da Nintendo Europa, Satoru Shibata.
Os Toy-Cons são constituídos apenas por cartão, cordéis e elásticos – a Nintendo diz que a idade mínima recomendada para estas experiências é de seis anos. Não são necessárias tesouras, colas ou outros materiais de bricolage – cada kit traz um conjunto de peças descartáveis que apenas precisam de ser dobradas na ordem certa para poderem ser montadas.
As experiências Nintendo Labo funcionam acima de tudo graças às tecnologias integradas nos comandos Joy-Con, como o sensor de infravermelhos e o sistema de vibração HD Rumble. Por exemplo, é o sensor de infravermelhos do Joy-Con que permite saber qual é a tecla de piano na qual o utilizador está a carregar, informação essa que por sua vez é comunicada em tempo real com o tablet da Switch e emite o som correspondente.
A linha de experiências Nintendo Labo chega a Portugal no dia 27 de abril e vai numa primeira fase ser constituída por dois Toy-Con: Sortido e Robô. O primeiro, tal como o nome indica, é composto por um sortido de diferentes experiências, cinco no total, que incluem um carro telecomandado, uma cana de pesca, um piano com 13 teclas, uma casa e o guiador de uma mota. Já o kit robô é constituído por uma única experiência que vai permitir ao jogador incorporar os movimentos de um robô gigante na consola.
Ainda não há preços anunciados para o mercado português, mas tendo em conta os preços do mercado norte-americano, é de prever um custo de 70 euros para o Toy-Con Sortido e de 80 euros para o Toy-Con Robô. No dia 27 de abril a Nintendo também vai colocar à venda um kit composto por fita adesiva, autocolantes e estêncis que poderão ser usados para personalizar os brinquedos de cartão.
Não será uma grande surpresa se nas semanas seguintes ao lançamento dos Toy-Con, ou até mesmo antes, comecem a surgir online diagramas que permitam fazer em casa os seus próprios Toy-Con. Mas mesmo que isto aconteceça, os utilizadores precisarão sempre de uma Switch para explorar o conceito.
É caso para dizer que à medida que os videojogos estão a ficar cada vez mais high tech, é o lado low tech da Nintendo Labo que acaba por ser tão apelativo. Já tivemos um exemplo de como um produto simples e de cartão pode ter bastante sucesso – os óculos de realidade virtual Google Cardboard têm ajudado a democratizar o acesso a esta nova etapa da tecnologia.
Com esta nova aposta a Nintendo também consegue recuperar para a Nintendo Switch aquela que foi uma parte importante da sua história – quando nasceu em 1889, a empresa começou por comercializar baralhos de cartas tradicionais japoneses, conhecidos como Hanafuda; já no século seguinte, durante a década de 1960 e 1970, a empresa começou a produzir brinquedos para fugir àquilo que na altura parecia uma falência quase certa. Muitas décadas depois, o cartão e os brinquedos voltam a colocar a gigante nipónica nas bocas do mundo.
A Nintendo está a aproveitar o sucesso da Switch para mostrar, de diferentes formas, que os videojogos ainda são sobre experiências e divertimento e não apenas pelo número de polígonos que aparecem nos ecrãs.