A TOPDOX é uma das grandes startups portuguesas. Nos últimos dois anos conseguiu reunir mais de um milhão de dólares em investimento e apresenta-se atualmente com uma base de 230 mil utilizadores ativos.
A tecnológica desenvolveu um serviço que permite não só integrar e gerir vários serviços de armazenamento na nuvem como a Box, Google Drive, OneDrive e Dropbox, como tem ainda integrada uma ferramenta de visualização de documentos. Atire-lhe qualquer formato e o TOPDOX vai fazer a correta renderização dos ficheiros.
Um dos grandes elementos diferenciadores é que o TOPDOX consegue cumprir a sua função em formato mobile, um no qual a compatibilidade de documentos ainda está longe de estar aperfeiçoada.
A ferramenta de produtividade made in Portugal já captou a atenção de trabalhadores da Google, Siemens, Telefonica, ExxonMobil e Talksdesk.
Mas nem sempre foi assim. Longe vão os tempos em que a startup era conhecida como TOP Research e desperdiçou quase 500 mil downloads da aplicação TOP Files sem ter convertido estes números em registos de utilizadores.
Desde então aprenderam muito e com os melhores do mundo. Ganharam o prémio Jovem Empreendedor da Associação Nacional de Jovens Empreendedores (ANJE) em 2014; nesse mesmo ano foram selecionados entre mais de 500 startups para o programa de aceleração da Rockstart, uma das mais conceituadas aceleradoras europeias.
“Com essa entrada é que isto se tornou sério. Ou seja, até essa altura era um projeto em part-time, tanto eu como o Miguel Jesus [o outro cofundador] tínhamos emprego a tempo inteiro, e foi nessa altura em que largámos tudo, fizemos as malas e fomos para Amesterdão”, contou ao FUTURE BEHIND um dos cofundadores da TOPDOX, Nelson Pereira.
“Toda a gente nos fazia perguntas e nós ‘Não, não temos métricas disto. O quê? Não, também não temos disso’. As pessoas colocavam as mãos na cabeça. Foi todo um processo de aprendizagem, com imensos mentores, fizemos a demonstração em junho, falámos com montes de investidores e fomos depois para os EUA”.
“Ali foi muito importante o recolher feedback e essa experiência foi mesmo muito enriquecedora. Falámos com pessoas de todo o lado. Algumas perguntas que nos faziam como ‘ah, vocês usam APIs das empresas, se eles vos desligarem as APIs depois como é que vocês fazem?’. Falámos com eles, tirámos essas dúvidas a limpo. Ou seja, viemos embora com outra mentalidade.
Em 2013 era lançada a TOP Research. Nos dois primeiros meses conseguiu 500 mil downloads na App Store. Depois em 2014 houve uma mudança de marca e nasceu a TOPDOX. Tem utilizadores em 180 países.
Uma experiência em Silicon Valley é sempre importante e tomara a muitas jovens empresas terem a mesma oportunidade – os fundadores da TOPDOX conheceram e visitaram os grandes ‘monstros’ como Google, Facebook e PayPal. Mas mais interessante foi a visão que trouxeram daquele que é o maior centro de empreendedorismo e tecnologia do mundo.
“Uma coisa que nós achamos é que o Silicon Valley é fantástico, tem uma rede incrível de pessoas, mas não vi lá nada – a não ser dinheiro e muito – que nós não tivessemos cá em Portugal. Acho que aqui há talento, há condições, há massa cinzenta para fazer este projeto e centenas de outros”, explicou Nelson Pereira.
Depois do regresso a Portugal foi altura de arregaçar as mangas e de melhorar o produto que tinham. O objetivo foi concretizado e a aplicação continuou a crescer: sobretudo nos EUA, onde têm mais de 50% dos utilizadores, mas também no México, Brasil, Alemanha, Itália e França.
O dinheiro do investimento tem sido usado maioritariamente no desenvolvimento do serviço e no seu suporte multiplataforma.
“Em muitas startups a tecnologia não é o elemento mais importante, é o modelo de negócio inovador. Aí a parte tecnológica ocupa um papel secundário. No nosso caso específico o produto é muito importante. Era preciso uma força de desenvolvimento muito grande. Neste momento estamos com dez programadores a tempo inteiro, mais quatro a meio tempo. Estamos com uma força de engenharia muito grande e mesmo assim se tivesse o dobro também davam jeito”, concluiu o diretor-executivo da empresa.
Novo desafio a caminho
É o próprio Nelson Pereira quem admite que a TOPDOX está agora a viver uma fase mais estável depois de todo o processo inicial tempestuoso que pode ser a criação de uma startup. “Cometemos erros, tivemos problemas para resolver, muitas dores de cabeça”.
Mas em breve aproxima-se outro momento de grande verdade para a startup que está sediada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC). O objetivo é lançar a nova versão do TOPDOX entre outubro e novembro.
“Agora estamos a preparar a nossa versão TOPDOX for Business porque essa é a evolução natural. Estamos no ponto em que ‘sim senhor’, estamos preparados para ir desenvolver a nossa proposta empresarial. Ou seja, começamos no mercado de consumo por muitos motivos: era mais fácil lançar; era preciso feedback; era preciso saber se as pessoas queriam realmente usar isto; era preciso otimizar a interface e as funcionalidades; perceber como é que as pessoas usam o produto e como é que podíamos melhorá-lo”.
O CEO da TOPDOX está convencido pelo que tem aprendido que as empresas estão com grande dificuldade em transitar para o mobile no que diz respeito à gestão, consumo e edição de documentos. Estar fora do escritório e aceder aos anexos dos emails ou a ficheiros armazenados na própria estrutura cloud da empresa ainda não é tão simples como por vezes se apregoa.
Para completar o ‘pacote’ no final de junho as aplicações iOS e Android da TOPDOX vão receber também a possibilidade de edição de documentos. A versão para Windows chegará mais tarde pois o desenvolvimento para o sistema operativo da Microsoft só começou numa fase posterior.
E dentro da área da edição a TOPDOX vai mesmo desafiar os grandes da indústria.
Bater a Google e a Microsoft no seu próprio jogo
O CEO da startup faz a seguinte análise: o Google Docs funciona bem no mobile, sobretudo na componente colaborativa em simultâneo, mas lida mal com as formatações dos documentos Office; já o Microsoft Office Mobile lida bem com os documentos da ‘casa’, mas não é tão flexível em colaboração como a suite da rival Google.
É aqui que entra a TOPDOX com a sua proposta. “O que nós trazemos na parte da edição é o melhor que a Google tem na parte da colaboração e o poder de layout do Microsoft Word”.
A aplicação TOPDOX está disponível para iOS, Android, Windows e ainda para Mac OS.
Apesar de nesta altura parecerem verdadeiros magos dos documentos no mobile, a verdade é que há muito suor nestas capacidades da suite TOPDOX. Acima de tudo houve dois grandes desafios: fazer uma integração entre diferentes plataformas cloud, mas garantir que aos olhos do utilizador é tudo ‘sem emendas’ e garantir também a tal compatibilidade entre diferentes formatos de documentos. Só para ter uma ideia, as especificações técnicas da Microsoft relativamente ao Office têm mais de 7.000 páginas – e sim, a TOPDOX teve de as ler e ainda está a implementá-las gradualmente.
No final de junho as aplicações já vão ter as funcionalidades básicas de um editor de texto como copiar e colar, colocar negritos e itálico, editar cabeçalhos e rodapés.
Verdade seja dita: se bem concretizado, a TOPDOX pode tornar-se num alvo apetecível tanto para a Google, como para a Microsoft ou outra empresa que jogue na área da produtividade focada nos documentos. A Google fez isso há não muito tempo: comprou o QuickOffice para mais rapidamente poder ganhar suporte à edição de documentos Microsoft Office.
“Neste momento o nosso objetivo é fazer um produto que funcione bem e que traga as empresas e as equipas migradas para o mobile sem dor. Claro que se isto continuar a correr bem como está a correr – o objetivo não é esse, não é sermos comprados -, mas se alguém nos bater à porta estamos aqui para negociar”, sentenciou Nelson Pereira.