O que é a Stripe e porque vale tanto?

Se acompanha o mundo dos pagamentos digitais é possível que já tenha ouvido falar da Stripe. Mas também há a probabilidade de ainda não conhecer esta empresa. Apesar do nome relativamente desconhecido, a verdade é que esta tecnológica irlandesa fundada em 2010 já vale 9,2 mil milhões de dólares.

A Stripe é muitas vezes definida como o novo PayPal. Na prática a empresa desenvolveu um sistema de pagamentos e transferência de dinheiro através da internet. Se pode parecer uma solução pouco original – já existem muitos métodos de pagamento online -, a verdade é que este simples facto já diz muito do valor da empresa.

Num universo dominado pelo gigante PayPal, a Stripe tem conseguido ganhar nome. Conclusão? Os utilizadores reconhecem a existência de valor diferenciado na solução da empresa.

Durante este percurso relativamente recente, a Stripe já conseguiu 460 milhões de dólares de investidores como a Sequoia Capital, a General Catalyst Partners e também da CapitalG, um dos ‘braços’ de capital de risco da Alphabet, escreve a Market Realist. Visa e American Express também fazem parte dos investidores, assim como os milionários Elon Musk [fundador do PayPal], Marc Andreessen e Peter Thiel.

A Stripe foi fundada por dois irmãos, Patrick e John Collision, que graças à atual avaliação da empresa, passaram a integrar a lista dos jovens mais ricos do mundo, de acordo com a Forbes.

A Stripe tem mais de 100 mil clientes em 100 países

A empresa tem um perfil discreto e não fosse o nome dos seus investidores, assim como volume de investimentos, e talvez a Stripe fosse ainda menos conhecida do grande público. Ao contrário de outras empresas pujantes, não são conhecidas muitas ‘histórias’ relacionadas com a Stripe, sabendo-se apenas que os irmãos Collision criaram a empresa porque estavam frustrados com as experiências de utilização de outros sistemas de pagamento online.

Para perceber a dimensão da Stripe vale ainda a pena ficar a conhecer alguns dos seus clientes atuais: Adidas, Under Armour, OpenTable, Best Buy, Lyft, InstaCart, Docker, Slack, HubSpot, Unicef, NPR, Khan Academy, apenas para referir alguns.

A Stripe suporta ainda diversas plataformas de comércio eletrónico como a Shopify, Facebook, Indiegogo, Pinterest, Salesforce, Kickstarter e Twitter, por exemplo.

O que distingue a Stripe?

Facilidade de integração é possivelmente a vantagem mais apontada ao sistema de pagamentos da Stripe. Como a própria empresa diz, “acreditamos que os pagamentos são um problema enraizado no código, não nas finanças”.

A tecnológica tem um interface de desenvolvimento de aplicações que permite integrar o seu sistema de pagamento em diferentes ambientes e plataformas. Os programadores só precisam de copiar e colar as linhas de código da solução que melhor encaixa no seu perfil de negócio e em poucos minutos podem ter um sistema de pagamentos digitais no seu site ou aplicação móvel.

Os clientes podem ainda desenhar toda a experiência de pagamento do cliente e não são obrigados a levar o utilizador para um portal externo – como acontece com os pagamentos através do PayPal. Isto ajuda a melhorar a experiência de utilização em torno da marca da cada cliente e não propriamente em torno da marca Stripe.

Os pagamentos podem ser por subscrição, pagamento direto ou compras feitas através de redes sociais. Este perfil abrangente e o direcionamento para as soluções mais modernas tem dado à Stripe uma imagem, lá está, moderna.

Além de soluções de pagamento no sentido mais lato do conceito, a Stripe tem tido a preocupação em criar um ecossistema de soluções que ajudam a criar uma maior confiança nas suas ferramentas. Um destes elementos é a Radar, uma plataforma de analítica que ajuda as empresas a prevenirem fraudes nos pagamentos eletrónicos.

Os dados recolhidos dos mais de 100 mil clientes que têm atualmente ajudam a criar uma rede de analítica que consegue proteger os clientes quase em tempo real à medida que novas ameaças e esquemas online vão surgindo.

A empresa tem 9 escritórios, mas a sede principal é em São Francisco, nos EUA

Dentro deste ecossistema há ainda a destacar o Stripe Atlas, uma plataforma que permite a empreendedores de todo o mundo criarem um negócio de internet nos EUA. A Stripe garante a abertura do negócio, os contactos com um banco no país e o tratamento da parte legal, sem que seja necessário uma deslocação física da pessoa às terras do ‘tio Sam’.

Na prática a empresa está a usar o seu crescimento agressivo para formar uma forte identidade de autoridade, o que por sua vez lhe permite explorar outros segmentos de fintech. O programa Atlas conta com o apoio de nomes importantes como a incubadora YCombinator, os serviços Amazon Web Services e ainda o Silicon Valley Bank.

Por 500 dólares é possível abrir um negócio nos EUA através da Stripe

Como é que a Stripe faz dinheiro?

Aqui não há segredos: através de comissões. A Stripe fica com uma comissão de todas as compras e transações que são feitas através dos seus serviços. As comissões também acabam por ser um dos pontos fortes da empresa, já que estão ao nível daquelas que são praticadas pelos gigantes como a Paypal. Os valores das comissões dependem dos serviços, mas atualmente estão nos 2,9% + 0,30 cêntimos de dólar por transação.

A publicação Memberful faz uma comparação interessante sobre as diferenças de encargos financeiros que existe na Stripe e também no PayPal, a referência do mercado. Apesar de a Stripe não apresentar comissões em alguns pontos das transferências – como nas devoluções -, a PayPal neste momento leva vantagem no tempo de concretização das transferências, sobretudo as que são operadas a nível internacional.

Não são conhecidos os valores totais das transações feitas pela Stripe, mas de acordo com a Forbes estima-se que apenas em 2015 a tecnológica tenha processado o equivalente a 20 mil milhões de dólares.

A Stripe já está disponível em Portugal, depois de a empresa ter iniciado um período de testes privados no final de 2015.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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