Infraspeak: O nome diz tudo

Já alguma vez imaginou se os objetos que nos rodeiam falassem? Sim, agora já existem as ‘Alexas’ deste mundo, mas não é a isso que nos referimos. Como seria se pudéssemos entender melhor os equipamentos e as infraestruturas que estão à nossa volta, por forma até de lhes prolongarmos a vida?

O que pode parecer um bom ponto de partida para uma conversa filosófica é na realidade uma forma de introdução à startup portuguesa Infraspeak. A empresa desenvolveu uma plataforma de gestão de manutenção que pretende facilitar não só a comunicação entre equipamentos e pessoas responsáveis, como todos os que estão envolvidos neste processo.




Chamou-nos a atenção na Infraspeak o forte crescimento que a empresa teve ao longo de 2016: cresceram mais de 200% em métricas importantes como no número de clientes e na faturação. Na prática isto significa que já há perto de 2.500 edifícios e 70 mil equipamentos que são geridos pelas ferramentas da Infraspeak, num total de 42 clientes e um volume de vendas superior a 140 mil euros.

Mas para percebermos melhor o que faz a empresa e no que consiste a sua plataforma, decidimos fazer uma simulação com a ajuda do diretor executivo da startup, Felipe Ávila da Costa. Partimos da premissa ‘Somos donos de um hotel, como é que o Infraspeak nos pode ajudar?’.

“Como é que é o dia a dia das operações de um hotel? Uma governanta ou o cliente reporta uma avaria, por exemplo, através do Infraspeak Direct – que é um interface que temos para a receção, para o reporte de avarias. Depois é direcionada para o sistema. A equipa técnica vai receber um alerta através da nossa app a dizer que há uma avaria nova no quarto X. O técnico pega nos materiais, dirige-se ao espaço e fecha a avaria. O sistema gera relatórios automáticos e indicadores de tudo isto”, começou por explicar o CEO ao FUTURE BEHIND.

“No caso da manutenção regular, como a limpeza, o que acontece é isto: temos uma tecnologia que é o NFC. Utilizamos etiquetas de NFC para identificar os equipamentos e os espaços, o que permite que uma pessoa responsável pela área da limpeza, com um tablet ou smartphone, ao iniciar a limpeza de um quarto, uma substituição, basta tocar com o telemóvel nessa etiqueta e vai aparecer o procedimento, a lista de tarefas que essa pessoa deve fazer”.

“À medida que vai fazendo, vai registando. ‘Precisei de quatro rolos de papel higiénico, cinco litros de detergente..’ Dá o trabalho como fechado e para o sistema informático o quarto já está disponível. Há toda essa integração de várias vertentes, desde a parte corretiva, à parte do consumo de materiais, à parte de execução de tarefas preventivas”.

A Infraspeak surgiu ainda em 2011 pela mão do cofundador Luís Martins, mas na altura como um projeto universitário. Só em abril de 2015 foi constituída como uma empresa

Ou seja, a ferramenta além de conseguir manter toda a gestão da infraestrutura registada digitalmente e de forma automática, também permite que se retire valor dessa informação.

“Consigo ter um histórico e consigo fazer uma análise dos meus custos e da minha performance. Ao conseguir fazer uma melhor manutenção, substituo o equipamento mais tarde e isso gera poupança”, defendeu Felipe Ávila da Costa. Dependendo da infraestrutura em causa e dos equipamentos associados, são poupanças que podem chegar a vários milhares de euros de acordo com o porta-voz da Infraspeak.

“Depois a partir do momento em que a manutenção começa a ser feita de forma preventiva e não simplesmente corretiva, há logo aí um corte na casa dos 30, 40% dos custos associados à manutenção corretiva. É muito mais cara que a manutenção preventiva”.

Equipa da Infraspeak. #Crédito: Infraspeak

O facto de as empresas poderem reagir mais rápido, por terem mais informação nas mãos dos técnicos, vai permitir menos deslocações e menos falhas. A Infraspeak diz que tem indicadores que revelam que o tempo médio de resolução das avarias caiu cerca de 50% pelo facto de os técnicos terem mais rápidamente acesso à reparação.

Além destas poupanças a médio e a longo prazo, há poupanças que são feitas a curto prazo. “Tínhamos um cliente que gastava cinco mil euros em papel por ano e passou a zero. Há uma série de eficiências do dia a dia que trazem poupança e depois há poupanças mais de longo prazo”.

Já foram realizadas mais de 900 mil tarefas de manutenção através do Infraspeak

Se a solução da empresa já parece tentadora para quem tem de facto grandes infraestruturas para gerir, os próximos passos que a tecnológica tenciona dar tornam tudo mais interessante.

Na prática a Infraspeak pretende apostar forte em tecnologias da Internet das Coisas (IoT na sigla em inglês) e também na analítica de dados para endereçar aquilo a que chama de “futuro da manutenção”.

Para o CEO da startup, dentro de dois anos tanto sensores, como atuadores, como pequenos equipamentos eletrónicos vão estar suficientemente baratos para serem integrados numa grande variedade de pontos de análise. Por exemplo, todas as arcas frigoríficas de um supermercado vão ter um sensor que vai fazer a análise do seu desempenho em tempo real.

“O passo que a Infraspeak vai dar – e já fazemos isso de alguma forma, mas vamos aprofundar -, é permitir que os nossos clientes possam comprar sensores e integrar os sensores de forma muito simples com o Infraspeak para terem acesso à informação através do Infraspeak”.

“A partir do momento em que temos este volume de informação a fluir para o Infraspeak, podemos pegar na informação e usando algumas tecnologias e técnicas de Big Data, e alguma inteligência artificial, para analisar tendências”




“Neste momento já temos 70 mil equipamentos a serem geridos dentro do Infraspeak. O número tem crescido a um ritmo bastante rápido, o que significa que dentro de pouco tempo vamos ter um volume diário de informação muito grande que vamos poder comparar uns com os outros e perceber que um equipamento de ar condicionado da marca X quando tem uma variação de temperatura A-B e emite o alerta Y, significa que daí a três ou quatro dias vai haver uma avaria”.

Em resumo: a empresa quer que os seus clientes e parceiros sejam capazes de prevenir antecipadamente o que seria uma avaria quase certa. Graças à tecnologia será possível antecipar prováveis avarias que os equipamentos vão ter, o que permite uma ação mais rápida. Não há perda do equipamento, não há perda de eficiência do equipamento e muito provavelmente terá o seu ciclo de vida prolongado.

Descobrir o caminho para os EUA

Uma das vantagens do Infraspeak enquanto plataforma tecnológica é que assenta numa lógica de API first. Quer isto dizer que há uma tecnologia base que é igual nos diferentes formatos no qual a ferramenta está disponível. A ferramenta que a senhora da limpeza usa, não é a mesma do técnico que vai compôr o ar condicionado. É um pouco como acontece na Uber entre condutores e passageiros.

Além disso, a flexibilidade da ferramenta permite que a Infraspeak seja adaptada às necessidades específicas dos clientes pois as infraestruturas variam muito de caso para caso. Bancos, hospitais, escolas, hotéis, shoppings, teatros, supermercados, armazéns… há uma grande variedade de infraestruturas nas quais a Infraspeak pretende ser uma mais valia.

A equipa da Infraspeak é constituída por 11 pessoas

Entre as quatro dezenas de clientes que a Infraspeak tem, muitos já pertencem a algumas destas categorias que acabámos de referir. Se numa primeira fase coube à Infraspeak bater porta a porta para dar a conhecer a sua ferramenta, nomes de relevo como Unicer, Siemens e Universidade do Porto como clientes acabam por fazer uma boa ‘publicidade’ aos serviços da empresa, o que tem trazido novas oportunidades.

Para 2017 o principal objetivo da empresa é expandir no mercado europeu. A tecnológica diz que é intenção para este ano também crescer 200% quer em termos de número de clientes, quer em termos de faturação. Um crescimento saudável e que permitirá à empresa avançar para novos mercados europeus sem necessidade de capital adicional.

Mas a Infraspeak também quer entrar nos EUA. E quando isso acontecer então será necessário uma nova ronda de financiamento, como explicou Filipe Ávila da Costa.

Felipe Ávila da Costa, CEO da Infraspeak. #Crédito: Infraspeak

“Diria que no final do ano provavelmente vamos procurar uma nova ronda de investimento para crescer para o mercado americano, que é um mercado que tem a dimensão do europeu ou até maior. E portanto exige um esforço de investimento, quer em termos de equipa, quer em termos de deslocações, bastante superior ao que é necessário para o mercado espanhol, francês ou inglês”.

Atualmente a Infraspeak já conta com dois investimentos: um da Caixa Capital e outro do fundo de investimento 500 Startups, ambos de 125 mil dólares. Além do investimento da 500 Startups, a Infraspeak recebeu ainda a oportunidade de incubação durante quatro meses nos EUA. Período que serviu para lhes aguçar ainda mais apetite pelo mercado norte-americano.

Mas a passagem pelos EUA também fez Felipa Ávila da Costa perceber melhor duas realidades.

“Em termos técnicos e tecnológicos, as startups portuguesas não estão nada atrás das startups americanas e de outras partes do mundo que estiveram connosco lá. Em termos de capacidade de engenharia e noutras áreas técnicas, estamos muito bem”.

“Por outro lado nas áreas de marketing e vendas a experiência acumulada que eles têm, como ecossistema, na lógica de inside sales, content marketing (…), faz com que tenham uma experiência e uma forma de estar diferente das startups portuguesas”.

“Fomos aprender. Fomos estabelecer relações com parceiros, com outras startups e com clientes, naturalmente. Agora estamos a pôr em prática essas boas práticas que fomos lá buscar, quer aqui no mercado português, como iremos fazer quando estivermos ativos no mercado americano”, concluiu o diretor da startup.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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