A velocidade média da internet fixa em Portugal é de 41,12 megabits por segundo (Mbps). Já a velocidade média de internet móvel é de 17,57 Mbps. Ambos os valores são relativos a medições feitas no mês de agosto no portal Speedtest, detido pela empresa Ookla. Já a Akamai, no seu relatório sobre conectividade lançado no início do ano, coloca Portugal com uma velocidade média de ligação à internet de 12,9 Mbps e com uma velocidade média de ‘pico’ máximo de 66,9 Mbps.
Por isso é que a experiência feita hoje, 4 de outubro, pela Vodafone e pela Ericsson na cidade de Lisboa é tão promissora: as duas empresas realizaram os primeiros testes de redes 5G em ambiente real e foram atingidas velocidades de 20 gigabits por segundo (Gbps). Uma experiência de transferência de ficheiros entre dois equipamentos feita ‘pelo ar’ e sem recurso a qualquer ligação por cabo.
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Para ter uma melhor perspetiva, as velocidades atingidas hoje pelas duas tecnológicas são cerca de 9.100 vezes superiores às atuais velocidades médias de internet móvel. Uma velocidade de 20 Gbps permite-lhe ver vídeos em Ultra HD com uma latência de apenas um milissegundo e permite-lhe descarregar um jogo como Gears of War 4, que tem perto de 80GB de tamanho, em apenas quatro segundos – sem ligação por cabo, nunca é de mais repetir.
O que aconteceu hoje na sede da Vodafone foi um teste realizado ainda em ambiente controlado, é um facto, mas é um espelho daquilo que os consumidores vão poder ter muito em breve – a expectativa é de que em 2020 ou em 2021 já estejam disponíveis os primeiros serviços comerciais de internet móvel em redes 5G.
Em breve serão feitas mais demonstrações das capacidades da rede de quinta geração em ambiente real. Em Aveiro, durante o evento TechDays, a Ericsson e a Altice também vão fazer demonstrações de velocidades de vários gigabits por segundo.
Processo evolutivo
Em fevereiro de 2017 foram anunciadas aquelas que são as especificações técnicas provisórias para as redes 5G. A União Internacional das Telecomunicações (ITU na sigla em inglês) definiu que as torres que suportam as redes 5G devem ser capazes de garantir uma velocidade mínima de 20 Gbps de download e de 10 Gbps de upload. Isto significa que estes deverão ser os limites garantidos por uma única célula de transmissão.
Não significa por outro lado que todos os utilizadores vão ter estas velocidades nos seus equipamentos, pois a largura de banda da rede tem de ser dividida pelos equipamentos que a ela estão conectados.
A este respeito, a ITU definiu que as redes 5G devem ser capazes de suportar até um milhão de equipamentos conectados por quilómetro-quadrado. Segundo a publicação ArsTechnica, esta especificação foi criada mais a pensar na Internet das Coisas (IoT na sigla em inglês) do que propriamente para resolver os problemas de densidade de gadgets nas cidades.
Um outro aspeto que os fabricantes de infraestruturas e sistemas de telecomunicações têm de ter em conta é o facto de o 5G precisar de suportar velocidades que podem ir até aos 500Km/H. Esta norma foi criada a pensar nos transportes públicos, como os comboios de alta velocidade, ficando desde já garantido que a qualidade de acesso à internet será boa mesmo quando os veículos estão a deslocar-se de forma muito veloz.
Esta é uma característica importante também para garantir que o 5G venha a ser o ‘esqueleto’ da evolução da mobilidade, sobretudo aquela que será protagonizada pelos veículos autónomos – são veículos que produzem e consomem um grande fluxo de dados em todos os momentos.
Existem ainda exigências no que diz respeito aos consumos energéticos que são feitos pelas infraestruturas de redes 5G. A ITU quer que as redes passem para um estado de consumo energético económico quando não estão a ser muito usadas, sendo que este processo de transição tem de ser garantido de forma quase instantânea – 10 milissegundos é a meta recomendada pelo organismo internacional.
Ainda relativamente à latência, mas neste caso dedicada para os equipamentos dos utilizadores, o máximo que a ITU espera ver são quatro milissegundos, sendo que o ideal será uma latência de apenas um milissegundo – significa isto que a transmissão de dados é feita em ‘tempo real’, não havendo qualquer bloqueio na transmissão de conteúdos.
Uma questão de negócio
Mesmo não tendo sido um dos temas mais quentes do Estado da Nação das Comunicações, um debate organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), a questão do 5G chegou a estar em cima da mesa e foram deixados alguns recados.
O diretor executivo da NOS, Miguel Almeida, disse esperar que a chegada do 5G “não seja cedo demais e caro demais”, segundo reportou o Dinheiro Vivo. Este parece ter sido um recado para duas situações distintas: a primeira relacionada com as datas de realização de testes e de implementação das tecnologias 5G; a segunda relacionada com a questão do leilão de espectros nos quais vai funcionar a rede de quinta geração.
Relativamente ao primeiro tema, tem havido alguma pressão nos prazos de implementação das redes 5G por parte da Comissão Europeia, pois o organismo europeu não quer perder terreno face aos avanços que estão a ser feitos nesta área sobretudo no mercado asiático. Melhores infraestruturas traduzem-se quase sempre em melhores oportunidades económicas para as empresas, motivo pelo qual o 5G é uma das grandes prioridades da CE. Um estudo recente apresentado no Parlamento Europeu concluía inclusive que as redes 5G poderão gerar dois milhões de postos de trabalho na União Europeia.
Relativamente ao segundo recado, recorda-se que os operadores de telecomunicações em Portugal sempre apontaram o leilão para as frequências 4G como dispendioso, um investimento que ainda querem rentabilizar. “Como vimos com o 3G há 16 anos e o 4G há cinco anos, existe uma tentação por parte dos governos de aproveitar para encher o mealheiro sempre meio vazio”, já tinha ressalvado Miguel Almeida numa entrevista ao Dinheiro Vivo em março.
No debate da APDC foi mais uma vez foi o CEO da NOS a expressar uma opinião relativamente ao tema, dizendo que o 4G, enquanto tecnologia, ainda tem muito por onde ser explorado.
A rentabilização e evolução das redes 4G parece ser neste momento uma das grandes prioridades dos operadores de telecomunicações portugueses. No ano passado, durante o Web Summit, a Altice e a Huawei fizeram uma demonstração de rede 4,5G que permitiu atingir velocidades de 1,7 Gbps. Hoje, no mesmo evento onde fez a demonstração da rede 5G, a Vodafone também fez uma demonstração de rede 4,5G e atingiu velocidades de 1 Gbps.
Enquanto estes ‘pequenos’ passos vão sendo dados pelas empresas, a ITU está a ultimar a proposta de especificações técnicas para o 5G, algo que deverá ser apresentado no mês de novembro.