O que o LinkedIn pode fazer debaixo do telhado da Microsoft

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É um número e pêras ainda para mais bem destacado e a negrito. Olhe bem para ele pois foi este o valor em dólares que a Microsoft pagou pelo LinkedIn, uma das redes sociais com mais utilizadores em todo o mundo e líder no segmento das conexões profissionais.

O valor do negócio é de tal forma impressionante que catapultou o acordo para a segunda posição das maiores aquisições de sempre entre tecnológicas.

Para ter uma ideia, com os 26,3 mil milhões de dólares podia comprar: 5.400 Koenigsegg CCXR Trevita, um dos carros mais caros do mundo avaliado em 4,8 milhões de dólares; 17 Eclipse, o iate do russo Roman Abramovich e cujo valor máximo pode rondar os 1,5 mil milhões de dólares; pagaria 10% da dívida pública portuguesa [231,1 mil milhões em dezembro de 2015]; compraria 23 Cristiano Ronaldo [cláusula de rescisão de mil milhões de euros]; e daria quase para comprar 31 milhões de iPhone 6s. Já deu para perceber, certo?

O LinkedIn tem 433 milhões de utilizadores registados e 104 milhões de utilizadores ativos todos os meses.

Além do ‘choque’ do valor – haverá sempre quem diga que é demasiado, outros dirão que é justo -, o próprio negócio em si acabou por cair que nem uma bomba no meio tecnológico. Não havia rumores, nada fazia apontar nesse sentido. Os analistas mais perspicazes sabiam que o LinkedIn ia ser alvo de uma oferta, não sabiam era quando nem de quem. Foi um negócio à antiga, resolvido em segredo e anunciado com cavalheirismo.

Muito se tem discutido sobre as intenções da aquisição da Microsoft. Muito se tem discutido sobre as razões de venda do LinkedIn.

Há um elemento que é extremamente valioso e do qual ninguém duvida: o LinkedIn tem uma das mais completas bases de dados de utilizadores do mundo. Sabe onde as pessoas estudaram, sabe que cursos tiraram, que línguas falam, quais as suas formações, onde trabalharam, que oportunidades de emprego procuram, quais as áreas que dominam.

Se estes dados são muito valiosos – multiplicados vários milhões de vezes -, a inteligência destes dados é igualmente importante. O LinkedIn é uma rede de conexões e consegue criar padrões de interação e oportunidades a partir da sua plataforma.



Foi isto que a Microsoft comprou para poder integrar na sua ferramenta de costumer relationship management (CRM) Dynamics, mas também no Outlook e quem sabe no Skype. A Microsoft é uma empresa de serviços e dar inteligência a esses serviços é uma mais-valia inegável.

Nesta aquisição há um outro elemento a considerar. O diretor executivo do LinkedIn, Jeff Weiner, é muitas vezes visto como uma das pessoas mais influentes no segmento das tecnologias, ainda que não faça apresentações tão pomposas como Tim Cook, Sundar Pichai ou o próprio Satya Nadella. No ranking da Glassdoor já surgiu como o CEO mais respeitado entre os funcionários e é uma constante no top 10. Resumindo: é um líder nato e representa ele próprio uma contratação de milhões para a Microsoft.

Olhando para o que o LinkedIn disponibiliza atualmente como plataforma e a nível funcionalidades, o investimento da Microsoft será muito bem-vindo. A rede social tem vindo a melhorar, sobretudo na parte mobile, mas existem aspetos que precisam de ser reformulados, retrabalhados e reinvestidos. É certo que o valor do negócio não vai para a empresa, vai para os acionistas: o CEO do LinkedIn vai ganhar 80 milhões de dólares com a venda e o fundador e chairman, Reid Hoffman, deverá levar consigo 2,8 mil milhões de dólares.

Mas quem paga tal soma de dinheiro também estará disposto a investir uns bons milhões na rentabilização deste novo ativo. A injeção de capital deverá ser significativa. Eis algumas áreas que a Microsoft pode e deve tentar explorar daqui para a frente.

Melhorar aspeto visual

O LinkedIn é líder no segmento das redes sociais vocacionadas para as conexões profissionais. Criada em 2002 foram muitas as evoluções que a rede social já conheceu. Mas o LinkedIn continua a ser uma plataforma que numa perspetiva visual e da experiência de utilização ainda tem traços arcaicos.

Assim vai o LinkedIn no ano de 2016

As publicações são visualmente pobres, de formatação básica e mesmo a organização das publicações dos utilizadores pode criar alguma confusão para quem estiver habituado a outras redes sociais. Basta olhar para o Branded para perceber o quão desatualizado está o LinkedIn.

Esta ‘esfrega’ visual tem de ser dada tanto na versão desktop como nas aplicações móveis. É preciso criar uma imagem mais moderna, mais fresca e uma linguagem visual mais coesa entre os diferentes formatos do LinkedIn.

A rede social também tem de deixar os conteúdos respirarem. Imagens grandes, de qualidade. Tem de ser feita uma aposta no vídeo, o meio que vai dominar o tráfego de Internet nos próximos anos.

O LinkedIn não precisa de se transformar no próximo Tumblr ou Medium, mas pode retirar algumas dicas destas plataformas mais jovens.

Melhorar motor de busca interno da plataforma

Apesar de ter uma base de dados riquíssima, o algoritmo dos resultados de pesquisa do LinkedIn está longe de ser o melhor. Quando pesquiso por ‘iOS’ gostava que a plataforma me devolvesse os meus contactos que são versados em iOS, desta forma saberia quem podia contactar para um artigo sobre o mesmo.

Em vez disso o LinkedIn devolve-me em primeiro lugar as pessoas que acha com quem quero conectar. Sim, o LinkedIn é uma rede social e fazer ligações é uma das suas missões, mas sim, o LinkedIn é uma rede social e posso querer encontrar melhor aqueles que já fazem parte da minha rede.

Nem tudo é sobre o crescimento, é preciso saber alimentar o que já está ligado na plataforma.

Neste sentido o LinkedIn precisa de fazer uma modificação algorítmica para colocar mais em contacto as pessoas que já estão ligadas. A plataforma social tem fama de ser ‘spammer’ e sem necessidade. Se convidasse os utilizadores a serem mais pró-ativos na rede, a vontade de querer estar ligado a outras pessoas vai surgir com maior naturalidade.

Rentabilizar a parte lúdica

Olhando bem para o negócio, a Microsft não comprou só o LinkedIn. Comprou também o Lynda.com, uma plataforma de ensino que a rede social adquiriu no ano passado por 1,5 mil milhões de dólares.

O movimento fez todo o sentido para o LinkedIn: já tem milhões de profissionais, então deve estimulá-los a aprenderem novas valências. Mas a verdade é que quando entra no LinkedIn não há nada que o puxe nesse sentido.

Aprendendo os fundamentos de marketing online na plataforma Lynda.com, que até pertence ao LinkedIn. Como o mundo é ‘pequeno’.

A plataforma Lynda.com tem cursos de áreas muito distintas: design e fotografia, vendas e marketing, desenvolvimento web, desenvolvimento de aplicações móveis, desenvolvimento pessoal e profissional em áreas comportamentais, por exemplo. A riqueza desta plataforma é imensa, sobretudo se corretamente agregada no LinkedIn.

O LinkedIn, como plataforma, podia ser dividida em duas grandes áreas: quando o utilizador entra na rede social tinha um separador onde via todas as atualizações dos seus contactos; no separador ao lado podia aprender novas valências, encontrar descontos para cursos e saber que enriquecimento profissional está a sua rede de contactos a fazer.

Reforçar aplicações móveis

O mundo é mobile. Há muito que já o é. O Facebook tem mais de 900 milhões de utilizadores ativos nas plataformas móveis. Até o Google já devolve mais pesquisas em ambiente mobile do que no desktop. Quem não quiser perceber estes números é apenas por casmurrice.

O LinkedIn melhorou a sua presença mobile, sobretudo nos dois últimos anos, mas ainda há muito a fazer. Por exemplo, o LinkedIn pode e deve aproveitar muito melhor os 433 milhões de utilizadores que tem para explorar a vertente de messaging. As plataformas de comunicação como o WhatsApp, Facebook Messenger e Roger são o futuro. Muitos dos serviços que agora estão espalhados em várias aplicações vão ser concentradas em torno destes ecossistemas de comunicação. O LinkedIn tem de apanhar esta onda.

As redes sociais como redes sociais que são estão a ficar estagnadas. Na apresentação do Facebook para os próximos dez anos o diretor executivo da empresa, Mark Zuckeberg, falou de quase tudo menos do Facebook como rede social. Disse mesmo que nos próximos anos o messaging será o grande motor de interação.

Claro que a fórmula não se aplica da mesma forma a todas as plataformas de ligação de internautas, mas é preciso estar atento às mudanças. Numa altura em que o empreendedorismo está a fervilhar, se o LinkedIn criasse o WhatsApp das startups – ah pois, já existe, chama-se Slack – podia ganhar um novo impulso.

Integração com Cortana

Esta é um moonshot, mas a evolução das empresas faz-se justamente com grandes saltos evolutivos. Integrar a analítica do LinkedIn na Cortana faria da assistente da Microsoft a verdadeira e definitiva assistente digital no segmento empresarial. Isto já em 2017 ou 2018, quando as assistentes digitais ainda estão a crescer.

Consegue imaginar o potencial de ‘Cortana, hoje vou ter uma reunião com o João Marques Lima’ e a assistente devolver uma resposta como ‘O João gostou recentemente de uma publicação tua, acho que podem ter aqui um tema de conversa’. Isto apenas numa perspetiva de ‘quebra-gelo’ já que o grande potencial estaria na preparação de reuniões.

Saber com quem vai falar, onde estudou, que ligações têm em comum e quais as suas áreas de interesse pode revolucionar por completo a maneira de fazer negócio.

A Microsoft é uma empresa de serviços, de cloud e agora também de inteligência. O futuro do LinkedIn terá sempre de passar por aqui e quanto mais rápido conseguir assimilar estas suas novas funções, mais vai perdurar no tempo.



Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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