Entre centenas de pessoas, era fácil reconhecê-lo: era o único que ostentava uma bandeira de grandes proporções nas costas com o símbolo do Bitcoin. Para uma tecnologia que ainda divide tantas opiniões, esta parecia ser uma grande declaração de apoio. Não resistimos e fomos bater-lhe nas costas para saber quem era este héroi dos bitcoins.
Armando Neves nasceu na Guiné-Bissau e mudou-se para a Suécia aos seis anos. Desde então não voltou a parar e já viveu em mais três países, sendo Portugal a sua mais recente aventura. O jovem é o diretor de operações da Chainsmiths, uma empresa europeia de consultoria na área de blockchain e das criptomoedas.
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A Chainsmiths está de malas e bagagens para Lisboa onde vai ter uma nova operação: a sede, criada na Irlanda há dois anos, vai continuar a existir, mas para concretizar os seus objetivos de expansão global foi necessário encontrar um novo sítio que reunisse condições para as ambições do projeto.
Hoje, 8 de novembro, é o dia da concretização dessas ambições. A Chainsmiths vai fazer uma pré-inauguração do seu escritório em Lisboa, no número 63 da Rua Latino Coelho. Armando Neves conta-nos que o espaço ainda não está totalmente remodelado, que nem as paredes estão pintadas, mas que isso também não vai ser impeditivo de reunir 150 convidados numa festa de lançamento.
Por que razão a conquista da Chainsmiths é especial? Aquele espaço vai ser o primeiro laboratório de blockchain em Lisboa e vai também funcionar como um criptocafé, nas palavras de Armando Neves.
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“O nosso laboratório de blockchain é como um centro open source para pessoas que estão a trabalhar em criptomoedas ou blockchains de diferentes tipologias, para que possam chegar e trabalhar a partir do nosso laboratório ou para que os nossos clientes possam vir e trabalhar lá por algumas semanas ou meses”, começou por dizer em entrevista ao FUTURE BEHIND.
O espaço vai ter uma dupla função: vai funcionar por um lado como a sede da Chainsmiths em Portugal e por outro vai funcionar como um espaço de coworking, por subscrição, destinada a todos os que estiverem a desenvolver projetos na área do blockchain ou das criptomoedas.
Uma mensalidade de 250 euros vai garantir um espaço de trabalho e acesso a comida e bebida, daí a definição de criptocafé usada por Armando Neves. “Se já estiveste em França então podes estar familiarizado com La Maison du Bitcoin, que basicamente é um centro para entusiastas do Bitcoin, empresas e pessoas que estão a trabalhar com esta tecnologia, para que se possam sentar e conhecer outras pessoas que estão a fazer o mesmo”.
A escolha de Lisboa esteve mais relacionada com as condições da própria cidade – como a proximidade do aeroporto e as condições que estão a ser criadas para startups – do que propriamente com o ecossistema de blockchain e criptomoedas que existe em Portugal.
“Não estamos focados em clientes portugueses, os nossos clientes são globais. Só queremos garantir que quando eles chegam vamos trabalhar em algo que possa mudar o mundo e que vamos fazê-lo a partir de um local agradável”, disse Armando Neves, para depois acrescentar:
“O facto de o Governo português estar a criar incentivos para as startups é muito bom. Uma das melhores coisas deste ecossistema é que recebes muita ajuda do Governo e estão muito interessados, ouvem, querem aprender, sobretudo no que diz respeito a criptomoedas. Ainda não sabem muito sobre o tema e estamos a tentar garantir que percebem que muita desta inovação vem de programadores, pequenas startups e não de (…) redes de blockchain privadas, não é o que vai mover a indústria, vão ser os projetos open source nos quais toda a gente está a colaborar, são os que têm maior atenção, como o protocolo Bitcoin por exemplo”.
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Perguntámos se o facto de Portugal não ter ainda regulação específica para a área de blockchain e das criptomoedas pode vir a ser um problema. O guineense foi bastante esclarecedor: “Não”.
“Os reguladores vão querer aprender mais. Nós não temos tempo para nos sentirmos preocupados sobre isso [falta de regulação], a única coisa com a qual nos preocupamos é se estamos a fazer o nosso melhor para educá-los sobre o tema. (…) Isto é bom porque significa que estamos a comer a comida do nosso próprio cão [dogfooding, expressão para designar um ambiente em que a empresa tem de viver com os seus próprios erros], porque se estamos aqui temos de cumprir todas as regras e temos de garantir que tudo o que fazemos é bom para o ecossistema, caso contrário vamos sofrer com isso”, salientou o empreendedor.
Além da abertura do primeiro laboratório de blockchain em Lisboa, a Chainsmiths tenciona abrir uma plataforma de brokers de criptomoedas em janeiro de 2018, mas sobre este tópico Armando Neves não adiantou mais pormenores.
Mesmo não estando ainda a plataforma em funcionamento, o especialista em criptomoedas partilhou um pouco da sua visão sobre o estado atual do mercado – à hora de publicação deste artigo o mercado das criptomoedas valia perto de 200 mil milhões de dólares. Na prática Armando Neves diz que as pessoas que investirem em criptomoedas devem estar preparadas, financeiramente e psicologicamente, para as incertezas.
“Os criptomercados são irracionais como todos os outros mercados, mas são extra-irracionais porque não tens milhares de traders como tens nos mercados tradicionais que estão a seguir as mesmas análises técnicas”, começou por dizer.
“No que toca ao mercado das criptomoedas é muito mais cru em emoções, tens pessoas aleatórias a tentar fazer dinheiro aqui, dinheiro acolá, nunca sabes o que está a acontecer. Falando realisticamente, não tenho ideia e isto é o que qualquer pessoa responsável te dirá: não faço ideia do que vai acontecer”.
A divisão do Bitcoin em duas moedas, dando origem ao Bitcoin Cash, foi sem dúvida um dos momentos altos do ano, mas outros estão em cima da mesa, como a adoção da tecnologia Segwit que dará mais ‘músculo’ às capacidades transacionais do Bitcoin ou a possibilidade de haver uma nova divisão, desta vez para uma moeda chamada Bitcoin Gold.
“Basicamente estou a dizer que se vais meter o teu dinheiro no Bitcoin agora e não estás a fazê-lo por razões ideológicas, então é um jogo de risco”, sublinhou o COO da Chainsmiths.