Google Pixel: quanto mais alto o voo, maior o sucesso ou a queda

Se os rumores estiverem certos então no próximo dia 4 de outubro a Google deverá revelar dois novos smartphones. O evento em si está confirmado, o conteúdo da apresentação é que ainda não.

Mas olhando para o grande volume de informações que têm surgido de forma antecipada na internet, então haverá uma pequena alteração nos smartphones de marca própria da Google. Deixarão de ser equipamentos da linha Nexus e passará a haver uma nova linha de dispositivos. Os dois telemóveis que aí vêm estão a ser apelidados de Pixel e Pixel XL.



A definição ‘Pixel’ pode soar-lhe familiar pois a Google já a usou anteriormente. No campo do hardware a primeira referência foi feita em 2013 com o Chromebook Pixel, o portátil topo de gama da época com o sistema operativo Chrome OS. Já em 2015 a tecnológica de Mountain View apresentou o Pixel C, um tablet que trazia um teclado magnético de origem e que permitia por isso ao dispositivo assumir diferentes formatos.

Depois dos computadores e dos tablets, parece que chegou a hora dos smartphones terem os seus elementos da família Pixel.

Apesar desta mais do que provável mudança, esta pode não ser a maior e a mais significativa. Esse título atualmente está reservado para a estratégia de marketing da Google.

Os mais atentos recordarão com facilidade como é por norma feita a apresentação dos novos equipamentos Nexus: sem direito a um evento próprio, sem grande pompa nem circunstância. Em algumas ocasiões a Google limitou-se a fazer uma publicação no seu blogue onde falava dos novos equipamentos que estava a trazer para o mercado e pouco mais do que isso.

Foi assim com o Nexus 5X e Nexus 6P [2015], foi assim com o Nexus 5 [2014] e foi com o Google Nexus 4 [2013].

Nexus 6P: provavelmente o último smartphone da linha Nexus? #Crédito: Future Behind

Ontem quando o The Verge referiu que tinha sido colocado uma ‘estátua-anúncio’ relativo ao evento da Google e ao seu novo smartphone, fomos céleres na análise de que a Google nunca levanta grandes ondas antes da apresentação dos novos Nexus. Este ano está a fazer justamente o oposto.

Novos objetivos?

Talvez seja um esforço que vai ajudar as pessoas a perceberem melhor a mudança do nome Nexus para Pixel, mas se assim fosse então no ano passado teria sido necessário um esforço semelhante relativamente ao Pixel C – algo que não aconteceu.

Lembramos que a Google tem um novo patrão para a divisão de hardware, Rick Osterloh, e que recentemente decidiu acabar com o Project Ara justamente para poder focar-se mais nos poucos produtos de hardware que a empresa coloca no mercado.



Se a isso juntarmos o facto de o diretor executivo da Google, Sundar Pichai, ter dito este ano que era objetivo da Google ter um maior poder opinativo no conceito dos smartphones de marca própria, então parece que estão reunidos aqui os ingredientes para a Google tentar, quem sabe, lutar pelo título de melhor smartphone topo de gama.

Já há muitos concorrentes para essa posição – Galaxy Note 7, LG V20, Sony Xperia ZX, Huawei P9 Plus -, mas conhecendo a Google o sistema operativo Android melhor do que ninguém, poderá ter uma ideia diferente de como deve ser um verdadeiro topo de gama dentro do seu ecossistema.

 

Mas voltando à questão do marketing. Como relata o The Verge, a Google está a comprar espaços gigantescos para anunciar o seu evento, deixando sempre também como imagem de marca a silhueta de um smartphone.

Não está a acontecer apenas nos EUA, também já foi feito um investimento publicitário na Alemanha. A Google está a fazer para os novos Pixel um esforço maior do que alguma vez terá feito para qualquer outro dos seus dispositivos Nexus.

A questão dos grandes investimentos de marketing é que nem sempre trazem os resultados desejados – bem pelo contrário. O universo dos videojogos tem ensinado isso vez, após vez, após vez. Uma empresa investe uma grande soma de dinheiro em marketing, tenta chamar a atenção de todos para o jogo, o jogo até vende bem, mas depois as críticas não correspondem.

A própria Google já teve uma experiência destas. Houve um produto no qual a empresa fez um grande investimento de marketing e deu-se mal: os Google Glass. Tecnologicamente avançados, comercialmente difíceis de digerir. Aquele que era apontado como um dos projetos de proa da empresa acabaria por sair pela porta pequena.

Por isso é que este é um jogo perigoso para a Google. Primeiro pela mudança de posicionamento, mas acima de tudo pelas responsabilidades que isso traz. Ninguém duvida que a Google é capaz de produzir o melhor smartphone do mercado – mesmo não tendo grande experiência na matéria.

Mas quanto mais entusiasmo gerar em torno do equipamento, mais terá de saber cumprir a promessa gerada pelo hype. Caso contrário poderá ser mais um voo alto seguido de uma grande queda.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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