Os mais desatentos não terão reparado – é essa a definição de desatenção -, mas a Google escolheu o iPhone como o seu alvo no evento de 4 de outubro. Durante a apresentação do smartphone Google Pixel, a tecnológica norte-americana nunca disse a alto e bom som que esta é uma resposta direta ao iPhone. Mas durante a keynote foram dadas algumas ‘bicadas’ que claramente tinham o dispositivo da Apple como motivo principal.
Contamos pelo menos sete. E nem vamos considerar o facto de o Pixel ter recebido uma avaliação superior no desempenho fotográfico já que essa avaliação foi feita pelos especialistas da DxOMark – ou seja, é uma alegação independente e não formulada apenas pela Google.
A primeira ‘tacada’ foi dada pelo próprio líder da recém-formada divisão de hardware da Google, Rick Osterloh. O executivo estava a descrever o aspeto do Pixel e da mistura de materiais na parte traseira – vidro e alumínio – quando destacou que “não existe uma elevação na câmara”.
A referência vai para o smartphone da Apple que na versão iPhone 6 passou a contar com uma elevação na zona da câmara fotográfica, conhecida como camera bump, e que destoa um pouco do restante design retilíneo que a tecnológica colocava nos seus equipamentos. No iPhone 7 Plus há novas câmaras e o relevo do componente ainda marca presença.
“Podem dizer adeus àqueles popu-ps dolorosos sobre armazenamento cheio”. A frase é do gestor de produto da Google, Brian Rakowski, e este foi o segundo ataque da Google feito ao iPhone. Para provar que era mesmo direcionado ao smartphone da Apple, a tecnológica usou uma imagem do interface do iOS durante a apresentação.
A plateia riu-se quando viu o nome das cores e a internet também já reagiu com humor. Mas parece que esta é mais uma ‘indireta’ para a Apple que já há alguns anos decidiu dar nome a algumas cores – a mais recente é Jet Black -, uma tendência que foi entretanto seguida por outros fabricantes.
A abordagem da Google neste campo é no mínimo irónica.
O quinto golpe pode ser encontrado no vídeo de apresentação do Pixel. Aqui a indireta tanto serve para a Apple como para outros modelos de smartphone que estão no mercado. Na prática a Google pergunta aos utilizadores se precisam de um smartphone novo, tão novo que ainda nem sequer tem um número à frente do novo para identificar uma versão.
Só este último ponto daria para um grande debate sobre as diferentes abordagens que têm sido adotadas pelas tecnológicas na produção dos seus equipamentos e no reforço dos seus ecossistemas.
Mas neste caso é difícil fugir à quantidade de vezes que a Google ‘subtilmente’ tentou deixar a Apple e o seu iPhone abaixo do patamar do Pixel.
Se os meios de comunicação já achavam que o posicionamento de marketing da Google ia colocar o Pixel lado a lado com o iPhone, a própria empresa decidiu fazê-lo. A estratégia da Google faz lembrar de certa forma a estratégia que a Microsoft escolheu para os seus dispositivos Surface: mesmo não pertencendo à mesma categoria de produto, a empresa está sempre a confrontar o tablet com o portátil MacBook Air e Pro.
Pelo menos a Microsoft é mais direta e muito menos discreta na tentativa de mostrar a potencial superioridade do seu produto em comparação com o produto recorrente. Surface vs Macbook, Cortana vs Siri e até mesmo Surface vs iPad Pro: os mais atentos lembrar-se-ão destas picardias.
A Google pode só agora ter chegado à verdadeira guerra do hardware, mas já distribui galhardetes como se tivesse uma tradição com vários anos neste campo.