Galaxy Note 7: a triste ironia dos grandes que também caem

A história do Samsung Galaxy Note 7 dava uma telenovela mexicana. Os curtos meses de vida do smartphone têm sido ricos em voltas e reviravoltas, e neste momento estamos a aproximar-nos do clímax da narrativa: a Samsung precisa de decidir rapidamente o que fazer ao problema do Note 7.

A tecnológica sul-coreana só tem duas opções: admite derrota e estanca o problema retirando o Galaxy Note 7 do mercado; ou continua a tentar remediar a situação até conseguir ter tudo resolvido e depois pode tentar um regresso em grande do smartphone.




O segundo cenário parece pouco provável pois perante os problemas causados – à marca e a alguns consumidores -, o smartphone até pode ter um regresso, mas a questão do ‘grande’ será sempre debatível.

O fim de semana trouxe mais novidades ao caso do Note 7. A agência de notícias sul-coreana Yonhap avança, citando fonte da Samsung, que a empresa parou a produção do smartphone. Já a outros meios de comunicação, como o The Wall Street Journal, a Samsung diz:

“Estamos temporariamente a ajustar o calendário de produção do Galaxy Note 7 por forma a tomarmos passos adicionais que assegurem questões de qualidade e segurança”.

A declaração é críptica, mas parece indicar de facto que a produção do smartphone está neste momento em pausa e a ser discutida, ainda que não transpareça por completo a vontade de atirar a toalha ao chão.

Esta situação surge depois de haver pelo menos três relatos de smartphones de utilizadores que pegaram fogo – sendo que estes três equipamentos já eram todos eles de substituição. Ou seja, os novos modelos que vinham substituir os antigos ‘defeituosos’ também têm um problema nas baterias.

A Samsung já terá recolhido 2,5 milhões de dispositivos em todo o mundo

Ainda não há conclusões de investigações oficiais a estes três dispositivos.

A questão é que se a Samsung não desiste do seu smartphone, já há quem o esteja a fazer. Há três operadoras de telecomunicações nos EUA – T-Mobile, Verizon e AT&T – que pararam a venda dos Note 7, adianta o The Verge.

Este é um duro golpe na confiança da marca e também dos equipamentos. Na prática três empresas parceiras importantes da Samsung já não confiam o suficiente no equipamento – original e de substituição – ao ponto de impedirem a sua venda.

Difícil decisão de abrir mão do Galaxy Note 7

Na semana passada o The Verge publicou um artigo interessante no qual defendia a ideia de que a Samsung devia simplesmente deixar cair o Galaxy Note 7 e focar-se no desenvolvimento do seu próximo smartphone topo de gama, o ‘Galaxy S8’.

Um especialista em estratégia de marcas, Eric Schiffer, também é desta opinião e partilhou-a com a BBC. “Se permitirem que o Note 7 continue [no mercado], pode levar ao maior ato de autodestruição de marca da história moderna da tecnologia. A Samsung precisa de assumir o prejuízo e colocar o Note 7 no corredor da vergonha ao lado do Ford Pinto”.

Só que esta não deve ser uma decisão fácil de tomar. Não apenas pelas implicações financeiras que isso pode ter – ainda que o impacto do escândalo do Note 7 seja reduzido nas receitas do terceiro trimestre -, mas também por aquilo que a Samsung atingiu com o smartphone em termos de produto.




A imprensa especializada foi unânime relativamente ao Note 7: é o melhor smartphone de sempre da Samsung, para muitos é o melhor smartphone do mercado e para outros este teria sido o momento de viragem no qual a tecnológica começaria a ganhar ‘fama e terreno’ ao seu grande rival, o iPhone da Apple.

Esta é uma triste ironia: o melhor e mais promissor smartphone da Samsung até à data é aquele que lhe está a trazer maior desgraça. O caso do Note 7 é também um lembrete para todos os fabricantes de como os grandes também caem e que por motivo algum devem facilitar no desenvolvimento dos seus dispositivos móveis.

A Samsung é a empresa que mais smartphones vende em todo o mundo e por isso tem mais do que condições para aguentar, responder e dar a volta por cima ao caso. Mas se o mesmo tivesse acontecido a outras empresas que já não têm tanta expressão no mercado – como a HTC por exemplo -, poderia simplesmente significar o fim da marca nesse segmento.

O Galaxy Note 7 já não é o smartphone do momento – o hype foi posteriormente entregue ao iPhone 7 e ao Google Pixel -, mas continua a ser um verdadeiro caldeirão de emoções.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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