Os dados estão lançados sobre o futuro da mobilidade: a tendência aponta para viagens de carro a pedido, dispensando a necessidade de possuir viatura própria, e para o desenvolvimento de veículos totalmente autónomos. Se por um lado os fabricantes de automóveis estão cada vez mais conscientes do poder de aplicações móveis, como Uber ou Gett, nesta mudança na forma como as pessoas se deslocam; por outro, para estas apps de mobilidade abrem-se portas para a utilização de carros autónomos e o acesso a contratos flexíveis de leasing automóvel, por exemplo.
Há já, aliás, alguns casamentos nesta categoria, aparentemente win-win. Os últimos aconteceram esta semana com o investimento da japonesa Toyota na Uber – o montante continua no segredo dos deuses -, e da Volkswagen na app de táxis de Tel-Aviv Gett, envolvendo um envelope de 300 milhões de dólares.
Nesta espécie de máxima ‘mantém os teus amigos perto e os teus inimigos mais perto ainda’, os fabricantes de automóveis estão a dar de forma clara um passo na direção da união de forças com as tecnológicas, reconhecendo uma mudança de paradigma na mobilidade. No caso do aperto de mãos entre Toyota e Uber, a parceria vai começar por facilitar os contratos de leasing de automóveis, mas também inclui um apoio mútuo nos esforços de investigação. Sabe-se que ambas as empresas estão a trabalhar no estudo de carros autónomos e em soluções que permitam diferentes modos de deslocação através de apps.
Movendo esta peça no tabuleiro, espera-se que a fabricante japonesa consiga controlar alguns mercados mundiais onde as viagens de carro a pedido têm muitos admiradores, recuperando, sobretudo, o atraso que tem em relação à Volkswagen e à General Motors na China, onde estes serviços têm crescido a um ritmo considerável.
“A partilha de carros tem um enorme potencial na definição do futuro da mobilidade. Gostaríamos de explorar novas formas de fornecer aos nossos clientes serviços de mobilidade seguros, práticos e atrativos”, Shigeki Tomoyama, gestor sénior na Toyota.
Um mês depois de revelar a intenção de lançar uma empresa, legalmente independente, para o desenvolvimento de serviços de mobilidade, a Volkswagen decidiu investir na startup Gett, de Israel, presente em mais de 60 países em todo o mundo, incluindo cidades como Londres, Moscovo e Nova Iorque. Enquanto a empresa de automóveis alemã irá oferecer os serviços da Gett aos seus clientes empresariais, os condutores licenciados da Gett vão, entre outras coisas, ter acesso a descontos na compra de carros Volkswagen que servirão de táxi.
“As viagens a pedido representam o maior potencial de mercado dentro da mobilidade on-demand, sendo que, ao mesmo tempo, criam a plataforma tecnológica para o desenvolvimento dos modelos de negócio de amanhã”, declarou a Volkswagen, numa afirmação corroborada pelo CEO da Gett, Shahar Waiser. “O âmbito do pagamento por viagem está a crescer rapidamente. Nesse contexto, a Gett fornece à Volkswagen a tecnologia para uma expansão da posse de viatura para uma mobilidade on-demand para consumidores e empresas”.
Mobilidade partilhada: um negócio que todos querem?
Estes são, no entanto, mais dois exemplos que fazem a pilha de alianças crescer. Antes destes já vieram outros, como é o caso da General Motors (GM) que recentemente comprou a empresa tecnológica dedicada à condução autónoma Cruise Automation e investiu 500 milhões de dólares na Lyft, empresa de São Francisco rival direta da Uber. Em janeiro as duas empresas aliaram-se para criar uma rede integrada de veículos autónomos on-demand nos Estados Unidos, tendo definido também, por exemplo, que a GM passaria a fornecer veículos aos condutores da Lyft para uma utilização num curto período de tempo, através de pólos de aluguer em diferentes cidades norte-americanas.
Outras cartadas deste género foram levadas a cabo pela BMW. A última consistiu num investimento, através da BMW iVentures, na Scoop Technologies, uma empresa conhecida pelo seu serviço de carpooling acessível via smartphone. Antes disso, a fabricante de automóveis alemã já se havia aventurado por caminhos similares apostando no Summon, um serviço de viagens de carro a pedido que se mudou recentemente para São Francisco. Embora da lista de investimentos façam parte também a RideCell (empresa de software para gestão de frotas); Zirx (um serviço de localização de lugares de estacionamento); Moovit (app que indica as melhores rotas dentro da rede de transportes públicos) e Zendrive (uma empresa que faz uso dos dados dos smartphones para aumentar a segurança na condução de motoristas).
Nesta aposta, também a Apple disse ‘contem comigo’. A tecnológica liderada por Tim Cook injetou, este mês, mil milhões de dólares no serviço chinês de viagens de carro on-demand Didi Chuxing. O investimento surge por “diferentes razões estratégicas, incluindo a oportunidade de aprender mais sobre alguns segmentos do mercado chinês”, adiantou, na altura, Tim Cook. Será só isso ou este é mais um indício de que a tecnológica vai entrar no negócio automóvel? A verdade é que, segundo fontes da Reuters, a Apple contratou um vasto leque de especialistas na área automóvel com vista a explorar a conceção de um carro autónomo.
Carros autónomos na mira
Os veículos sem condutor serão, de resto, um pé no acelerador da redefinição das formas de mobilidade que os fabricantes automóveis e empresas de viagens de carro on-demand estão a impulsionar. Ainda na semana passada, a Uber fez um post no seu blogue sobre os testes às capacidades de condução autónoma de um Ford Fusion híbrido, a decorrer em Pittsburgh (Pensilvânia). Seguindo os mesmos passos, a Volvo designou 100 carros autónomos para serem testados na China.
Ford e Google também formaram uma dupla, no passado mês de abril, mas, deste feita, para liderar um grupo de empresas, do qual fazem parte por exemplo Volvo, Lyft e Uber, cuja motivação é conseguir a aprovação governamental de carros totalmente autónomos. Especulou-se que tal podia ter desencadeado uma possível colaboração em torno de um interesse comum – o desenvolvimento de veículos autónomos -, mas um porta-voz da Ford afastou essa possibilidade afirmando que o envolvimento com a Google não era indicador de que estariam a trabalhar num automóvel deste tipo.
Nos moldes de uma colaboração oficial, a General Motors e a Lyft, por seu turno, asseguraram que os seus táxis autónomos Chevrolet Bolts – com um humano inicialmente ao volante para o caso de algo correr mal – estarão nas ruas daqui a um ano; sendo que Volkswagen e Toyota vão trabalhar no mesmo sentido. A Toyota comprometeu-se, aliás, a aplicar mil milhões de euros na sua infraestrutura de investigação ligada a carros autónomos, em Silicon Valley, prevendo que estejam nas autoestradas em 2020.
Mas, atenção, para além do muro das questões regulamentares que tem de ser transposto, estas empresas vão ter de conquistar os clientes, até porque não basta só a tecnologia estar pronta, é preciso que os utilizadores tenham pré-disposição para abraçar tais mudanças.