Escolhemos 12 empresas para manter debaixo de olho em 2017 e dizemos-lhe porquê

Quem diria que em 2016 seria feito o maior negócio de sempre entre tecnológicas, com a Dell a comprar a EMC? Quem diria que a Microsoft iria desembolsar mais de 26 mil milhões de dólares por uma rede social, o LinkedIn? Quem diria que um super-computador iria derrotar um humano num dos jogos mais complexos que existem? Quem diria?

Estes são exemplos de três casos tecnológicos que marcaram o ano de 2016 e que eram muito difíceis, se não mesmo impossíveis, de prever. Isto diz-nos que muito provavelmente os grandes casos de 2017 também não vão constar nos artigos de antevisão.




Sabemos no entanto que há áreas que vão estar em evidência como a inteligência artificial, a condução autónoma, a robótica e a segurança informática. E sabemos também que devido a um determinado conjunto de indicadores, há um grupo de empresas às quais vale a pena estar atento ao longo de 2017.

Escolhemos 12 tecnológicas e dizemos-lhe o porquê dessa escolha. Podem não ser os protagonistas dos maiores momentos do ano, mas certamente que vai ouvir falar bastante delas.

SOFTBANK

No ano passado a Softbank comprou a ARM pelo equivalente a 23,4 mil milhões de euros. Este negócio colocou a empresa japonesa como um dos nomes grandes a observar em 2017.

Ao deter a ARM, a Softbank passa a ter uma presença na esmagadora maioria dos dispositivos móveis que vão ser comercializados ao longo do ano. Mas o que a Softbank pode fazer com a ARM noutros segmentos tecnológicos é que coloca-a numa posição especial.

Os chips da ARM vão começar a marcar presença em cada vez mais equipamentos de eletrónica que estão a adaptar-se à era da Internet das Coisas. Os chips ARM serão parte da espinha dorsal das primeiras apostas feitas pelas empresas no mundo da robótica.

A família de robôs da Softbank: à esquerda o NAO, ao centro o ROMEO e à direta o Pepper. #Crédito: Softbank

Com a aquisição de uma única empresa a Softbank consegue ficar com uma posição privilegiada em três dos segmentos mais promissores da economia atual. Além disso a empresa anunciou no final de 2016 um investimento de 50 mil milhões de dólares nos EUA e uma parte destina-se ao segmento das telecomunicações de nova geração. É caso para dizer que a Softbank quer estar em todas.

VIRGIN GALACTIC

Ainda antes do final de 2016 a empresa de turismo espacial voltou a dar um ar da sua graça. Depois de um acidente fatal em outubro de 2014, a empresa realizou novos testes de voo e já com o novo modelo da sua aeronave, a VSS Unity.

O ano de 2017 vai ser marcado por mais testes por parte da Virgin Galactic e as atenções vão estar concentradas nos primeiros testes do sistema de propulsão. É provável que a VSS Unity chegue a voar para fora do planeta Terra, mas é muito pouco provável que as primeiras viagens se realizem neste ou no próximo ano.

A nova aeronave da Virgin Galactic já fez voo deslizante, mas ainda sem propulsão. #Crédito: Virgin Galactic

Ainda assim, será um momento importante para o turismo espacial. Apesar dos bons avanços que a Blue Origin tem feito nesta área, há um apelo mais comercial na proposta da Virgin Galactic. Mas também por já ter falhado, a pressão que existe sobre a empresa é maior.

O ano de 2017 pode muito bem corresponder à conhecida frase ‘fly or die’ no caso da Virgin Galactic.

SAMSUNG

Porquê manter a Samsung debaixo de olho? Porque a empresa tem uma imagem a limpar e para conseguir arrumar de vez o caso do Galaxy Note 7 terá de ser exímia na conceção do Galaxy S8.

Este é o elemento mais óbvio, mas há mais motivos de interesse na Samsung em 2017. O facto de ter comprado a Viv Labs pode transformar a Samsung, de um momento para o outro, numa empresa líder no segmento dos assistentes digitais. Já vimos que a Viv tem um potencial enorme e esse potencial aliado a todos os elementos de eletrónica da Samsung podem ditar uma posição muito forte no mercado logo no momento de estreia.

Há rumores que apontam para a estreia da Viv no Samsung Galaxy S8. #Crédito: Viv Labs

Será ainda interessante ver como é que a Samsung vai reajustar-se ao segmento da realidade virtual. Apesar de ter sido pioneira, a empresa precisa de decidir o que vai fazer da sua vida. Junta-se ao ecossistema Google Daydream? Mantém-se apenas com a Oculus, mas vê a sua parceira a produzir um equipamento melhor do que os Gear VR? Arrisca por conta própria?

Muitas questões à espera de uma resposta.

MICROSOFT

Nos últimos anos a Microsoft foi uma das empresas tecnológicas que mais surpreendeu pela positiva. Depois de um período morno que chegou a valer à empresa a designação de ‘aborrecida’ em alguns artigos de análise na imprensa especializada, a Microsoft tomou novamente o pulso da inovação e começou a surpreender tudo e todos.

Em 2017 vale a pena ficar atento a dois segmentos específicos: realidade aumentada e realidade virtual. A Microsoft tem nos HoloLens um dos equipamentos tecnológicos mais promissores da atualidade, mas como é que a empresa tenciona tornar a tecnologia mais popular? Não basta criar um kit de desenvolvimento e esperar que o ecossistema desenvolva sozinho.

É justamente o facto de a Microsoft estar a criar um ecossistema baseado em tecnologias 3D que torna também o segmento da realidade virtual interessante. Na prática a empresa quer aproveitar os mesmos conteúdos para a realidade aumentada e para a realidade virtual, sendo que no segmento VR vai contar com a ajuda dos parceiros de sempre para democratizar a sua aposta.

Quando a próxima grande atualização do Windows 10 ficar disponível, aí saberemos que impacto terá a Microsoft nestas tecnologias. Até lá será uma questão de aguardar e observar.

SNAP INC.

O lançamento dos Spectacles na parte final do ano tornaram a Snap Inc. numa das empresas a observar em 2017. A aposta no hardware e a aposta em específico no segmento dos wearables fazem pensar noutros formatos que a Snap Inc. pode explorar para tornar o Snapchat mais omnipresente na vida das pessoas.

Ainda relativamente aos Spectacles há a questão da comercialização: o modelo de venda vai manter-se fechado e baseado na exclusividade ou poderemos contar com um lançamento global dos óculos com câmara integrada em algum momento de 2017?

Os Spectacles tiveram uma das melhores estratégias de marketing de 2016. Mas e em 2017, como se vão safar? #Crédito: Snap Inc.

Será igualmente interessante ver como é que a Snap Inc. vai responder ao ‘empréstimo’ de funcionalidades que tem sido protagonizado por redes sociais concorrentes. Sobretudo as Instagram Stories vieram colocar alguma pressão no Snapchat.

Se os indicadores estiverem certos, então 2017 será também o ano em que a Snap Inc. entra na bolsa de valores. Quando isso acontecer a empresa vai levar uma importante injeção de capital, mas ficará igualmente sujeita ao ‘humor’ dos investidores. Um novo desafio para Evan Spiegel e companhia.

UBER

A Google e a Tesla pareciam destinadas a liderar o segmento da condução autónoma, mas 2016 mostrou que a Uber não só conseguiu ganhar terreno à concorrência, como já está a prestar serviços de transporte de passageiros nestes veículos autónomos.

Como vai evoluir a frota de veículos autónomos da Uber? Para que áreas vai expandir a empresa? A aquisição da Otto coloca a tecnológica norte-americana também no segmento dos camiões autónomos e já houve rumores de que a Uber pretende explorar novos segmentos, incluindo o do transporte aéreo.

Primeiro carro de condução autónoma da Uber desenvolvido em parceria com a Volvo. #Crédito: Uber / Bloomberg

O papel da Uber deverá ir no entanto além dos seus novos serviços e tecnologia. A empresa tem-se caracterizado por uma estratégia agressiva e a verdade é que graças à Uber há legislações já com vários anos que têm sido colocados em causa. A Uber anda claramente ao ritmo da tecnologia e não da legislação, o que tendo alguns contras, também traz com maior celeridade o debate de novas tendências para junto dos meios decisores.

Ainda um pouco nesta perspetiva, o ano de 2017 também deverá trazer uma maior definição à plataforma nos mercados mundiais, sobretudo na Europa. Nesta altura é impensável ver um serviço como a Uber a ser banido, mas a tecnológica terá de saber adaptar o seu serviço às novas regras legislativas que estão a ser criadas nos países Estados-Membros.

NINTENDO

Vem aí uma nova consola da Nintendo, a Switch. Este motivo por si só já seria suficiente para colocar a empresa japonesa no radar de todos os que gostam de tecnologia e de videojogos em particular. Mas o facto de a Nintendo apostar pela primeira vez num cruzamento de consola doméstica e de consola portátil traz um interesse especial a este tema.

O mercado dos videojogos vai receber um dispositivo como nunca houve, mas será que esta é a resposta que os jogadores têm procurado? Faz a Nintendo bem em seguir um caminho próprio em vez de tentar seguir as tendências do gaming atual, como os sistemas de jogo cada vez mais poderosos?

Os tempos dourados da Nintendo Wii e da Nintendo DS já lá vão, sobretudo depois do mau desempenho da Wii U. A receção da Switch e os seus primeiros meses de vida podem ser críticos para o restante sucesso do ecossistema da empresa japonesa.

Sobre a Nintendo há ainda interesse no campo dos dispositivos móveis. O lançamento de Super Mario Run foi um sucesso – com alguns espinhos – para a empresa, mas que sucesso terá a Nintendo à sua espera quando começar a explorar outras franquias não tão populares, como Fire Emblem?

NOKIA

Há grandes expectativas relativamente ao regresso da marca Nokia ao mundo dos smartphones. A associação quase exclusiva do hardware da Nokia ao Windows Phone acabou por ser uma decisão errada, mas será que uma ‘remontada’ é um cenário provável?

A Nokia tem um ADN forte e a marca continua a ter uma presença muito significativo na cabeça dos consumidores. Mas a nova ‘Nokia’ – que na realidade é a empresa HMD Global – terá de saber responder às necessidades reais dos utilizadores e terá de saber adaptar-se às exigências do mercado.

Lançado no final de 2015, os Lumia 950 e 950 XL foram os últimos smartphones topo de gama produzidos com o ADN da Nokia. #Crédito: Microsoft

Não bastará criar um smartphone com as melhores especificações. O segredo passará muito por criar um dispositivo com boa relação qualidade-preço e que consiga puxar o máximo de ADN possível da marca antiga. Estão prometidos cinco equipamentos Nokia para o ano de 2017 e as expectativas não podiam ser maiores.

Mas grandes expectativas também podem ser sinónimo de grandes desilusões. Uma estratégia mal planeada pode enterrar de vez a marca Nokia no que diz respeito aos telemóveis inteligentes. O mercado, pela forma como está estruturado, precisa é justamente de novos players que tragam alguma inovação e se possível mais concorrência.

GOPRO

O ano de 2016 foi negativo para a GoPro pois sentiu uma forte quebra nas suas receitas e como consequência teve de despedir dezenas de trabalhadores. A empresa viu ainda o lançamento do drone Karma a ser um verdadeiro fracasso, tendo sido forçada a retirar o dispositivo do mercado apenas 16 dias após a sua chegada.

Se 2016 era apontado como o ano em que a GoPro tinha de operar uma reviravolta, 2017 parece ser o ano do ‘tudo ou nada’. Não seria de estranhar se em determinada altura a tecnológica acabasse mesmo por ser comprada por uma empresa maior.

Poderá a realidade virtual ser uma fuga para a GoPro? #Crédito: GoPro

A qualidade das câmaras GoPro é inquestionável, mas o mercado está a ficar mais preenchido e com concorrentes à altura. Relativamente aos drones, esse pode também não ser o ‘ganha-pão’ que a empresa esperava pois já existem marcas bem estabelecidas junto dos consumidores, como a chinesa DJI.

O segmento das câmaras de ação em 360º começa aos poucos a surgir e esta pode ser uma das ‘fugas’ possíveis para a GoPro. Este será sem dúvida um ano de grande pressão para a empresa.

NVIDIA

Em 2016 o valor das ações da Nvidia triplicou. Este é um bom indicador pois significa que os acionistas e os investidores estão satisfeitos com o percurso que a tecnológica tem feito.

Apesar de não ser das empresas mais mediáticas, a Nvidia é uma das tecnológicas a manter definitivamente debaixo de olho em 2017. O segmento da realidade virtual veio trazer um novo pulmão à procura por placas gráficas topo de gama. O mercado dos computadores pessoais está mais amadurecido do que nunca e os consumidores estão a procurar os computadores com as especificações mais potentes.

A computação gráfica está cada vez mais exigente, o que gera uma maior procura pelos produtos da Nvidia. #Crédito: Nvidia

 

As unidades de processamento gráfico vão também tornar-se importantes para outros segmentos como o dos veículos autónomos, o da inteligência artificial e também o do Blockchain. São tecnologias emergentes, mas com um grande potencial.

Toda esta situação deixa a Nvidia numa posição privilegiada pois conta com vários anos de experiência no segmento gráfico e a concorrência é feita acima de tudo por uma outra empresa, a AMD.

MAGIC LEAP

Os artigos escritos sobre a Magic Leap prometiam tanto que algum dia as expectativas seriam ajustadas à realidade. Isso aconteceu no final de 2016 depois de um relato do The Information ter dito que a tecnologia revolucionária da empresa está longe de estar pronta para um produto comercial e a que está, é pior do que a concorrência.

O CEO da Magic Leap, Rony Abovitz, foi rápido a reagir e tentou restabelecer alguma ‘fé’ no trabalho que a empresa está a desenvolver. A mensagem foi passada, mas os danos já não podem ser desfeitos.

 

O segmento da realidade aumentada vai evoluir bastante em 2017 e a Magic Leap não pode simplesmente continuar na sombra a fazer promessas. No mercado tecnológico o vencedor nem sempre é aquele que tem o melhor produto, mas aquele que consegue colocá-lo no mercado de forma mais célere.

O ano de 2017 pode ser de ‘vai ou racha’ para a Magic Leap. A empresa tem um grande investimento para justificar e além dos investidores, os consumidores vão querer ver algo em concreto a sair dos laboratórios da empresa. É que um dia mais tarde os consumidores podem ter muito menos interesse naquilo que a empresa tem para lhes apresentar.

AMAZON

A Amazon teve um ano de 2016 de grande categoria. Basta olhar para os valores grandiosos de vendas online que a empresa fez durante o período de festividades. Mas a empresa sabe que o seu futuro não passa só por um mega-site de vendas, passa antes por um verdadeiro ecossistema de consumo.

A coluna inteligente Amazon Echo é uma das peças deste ecossistema e em 2016 continuou a evoluir tecnologicamente. Foi um dos gadgets mais aclamados, sobretudo nos EUA, mas o ano de 2017 traz novos desafios. A Google já criou a sua própria coluna inteligente e é de esperar que já no CES 2017 outras empresas sigam os mesmos passos. Ou seja, a Echo precisa de continuar a evoluir.

A Amazon está também a apostar forte noutros conceitos de compras. Revelou o seu protótipo de loja ‘grab and go’, uma experiência de consumo totalmente diferente proporcionada pela tecnologia de ponta da empresa. Foi-lhe ainda garantida uma patente que lhe permite ter um armazém voador sobre algumas cidades.

Se a Uber está a ter um grande impacto na mobilidade urbana, a Amazon quer ter um impacto semelhante, mas no segmento da distribuição de curto alcance. O ano de 2017 deverá trazer mais novidades sobre as apostas que a Amazon tem feito ao nível dos drones como meio de entrega.

Por tudo aquilo que apresentou em 2016 e pode vir a apresentar em 2017, é sem dúvida um nome a acompanhar com atenção.



Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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