O sucesso de algumas criptomoedas e tokens – como o Bitcoin, o Ethereum, o Ripple, o Litecoin, o Dash e o Monero – tem levado ao aparecimento de novas criptomoedas e tokens. O sucesso de algumas Initial Coin Offerings – como aquelas protagonizadas pela Tezos, EOS, Bancor, TenX e AppCoins – tem levado ao aparecimento de novas ICO. Mas nem todos os novos projetos que surgem ligados às tendências das divisas digitais e das vendas iniciais de moedas são projetos com futuro.
O número de burlas que têm ganhado notoriedade está a aumentar e deixa a descoberto algumas das fragilidades que existem nestas áreas, sobretudo junto de novos investidores que estão pouco informados sobre estes temas. Todos os dias há novos avisos – de entusiastas, especialistas e até cépticos – sobre os perigos que estão associados ao mundo das criptomoedas e dos tokens, mas a ânsia de ganhar dinheiro fácil faz com que muitas pessoas baixem os seus níveis de defesa.
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Destaque particular para os chamados exit scams, burlas que tomam a forma de um Initial Coin Offering (ICO) e que desaparecem depois de angariado o dinheiro, muitas vezes sem deixar rasto, e deixam os investidores com a carteira a arder.
Atenção, não confundir os exit scams com projetos baseados em criptomoedas e tokens que simplesmente não conseguiram vingar no mercado – startups, cripto ou não cripto, de todas as áreas, falham nos seus objetivos. Não é o facto de terem angariado o seu dinheiro através de um ICO que faz com que o falhanço seja maior, mais relevante ou deva estar associado à ideia de burla. Nada disso.
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Como disse uma vez o fundador do Ethereum, Vitalik Buterin, “é um facto estabelecido que 90% das startups falham”. “E também devia estar estabelecido que 90% destes [projetos baseados em] ERC20 no CoinMarketCap também vão valer zero”.
Falhar não é crime, burlar as pessoas sim. É sobretudo com as burlas disfarçadas de projetos fidedignos que os investidores devem estar em modo alerta – nas criptomoedas nem tudo o que brilha é ouro.
Por que razão as pessoas estão a cair nestas burlas? Porque neste momento o mercado das criptomoedas e dos tokens está de feição para os burlões: é relativamente novo, é baseado num conceito tecnológico que tem a sua complexidade, é um tema que está a receber uma atenção mediática muito acima da média e é muito fácil enganar as pessoas. Basta um site com uma boa apresentação e um white paper bem escrito, mesmo que o seu conceito seja esquisito, que alguém estará disposto a lá investir dinheiro na esperança de que aquele token se torne no próximo Bitcoin.
Em baixo damos alguns exemplos de Initial Coin Offerings que não passaram de verdadeiras burlas e de uma plataforma que sempre gerou grandes suspeitas e encerrou portas há pouco tempo.
Prodeum
Esta falsa startup pretendia usar a tecnologia de blockchain da rede Ethereum para criar um registo imutável para frutas e vegetais, que permitiria às pessoas saberem a origem exata – localização e data – dos produtos que estavam a comprar.
Com um white paper de 12 páginas, que contava com o apoio de quatro especialistas em blockchain e criptomoedas, a Prodeum lançou um ICO. Não se sabe ao certo quanto é que os burlões conseguiram extrair, mas estima-se que pelo menos 378 ether terão sido conseguidos – o que hoje equivale a 250 mil euros.
Em poucos dias a Prodeum passou de um projeto ‘popular’ para um projeto fantasma. O site da empresa passou a mostrar temporariamente, apenas e só, a palavra “penis”, o perfil de Twitter desapareceu e as referências que existiam ao ICO da Prodeum em sites da especialidade foram retirados.
Então e aqueles especialistas em blockchain que estavam envolvidos? Pelo menos dois deles já vieram a público dizer que foram vítimas de roubo de identidade, tendo os seus nomes sido usados no projeto sem consentimento.
LoopX
Conseguiu o equivalente a 4,5 milhões de dólares em financiamento através de um ICO, para depois desaparecer sem deixar rasto. Foi-se o perfil no YouTube, no Telegram, no Facebook, no Twitter e também o site.
A LoopX dizia estar a desenvolver um algoritmo específico para trading de criptomoedas e prometia bons retornos a todos aqueles que investissem na ideia. O software proprietário, em teoria, conseguia gerir dez mil transações por segundo e calcular os valores de até cem divisas diferentes.
A falsa empresa fez cinco rondas de venda de tokens, um formato que acaba por ser comum a muitos outros ICO. Há registos de pelo menos um utilizador ter alertado no Reddit que a LoopX era um esquema de burla, mas o alerta acabou por se perder no hype que se gerou em torno do projeto.
O plano de desenvolvimento da empresa prometia o início da criação da plataforma para julho de 2018, mas em nenhum momento desse roadmap foi dito que o projeto desapareceria com o dinheiro dos investidores em fevereiro.
Confido
Em italiano a palavra ‘confido’ quer dizer “eu confio”, o que não deixa de ter o seu lado irónico para mais um projeto burlão. Durante a Initial Coin Offering os promotores conseguiram angariar 375 mil dólares e passado algum tempo desapareceram com o dinheiro, apagando todas as presenças digitais que tinham.
O projeto Confido prometia funcionar como um serviço de depósito de garantias – através de contratos inteligentes a Confido só validaria uma transação assim que todos os parâmetros dessa mesma transação tivessem sido cumpridos entre as partes.
Claro que tudo isto não passava de uma fachada para atrair potenciais investidores. O ICO da Confido foi feito através da plataforma TokenLot, tendo sido a própria TokenLot a apelidar a Confido de exit scam e tendo também dito que apresentou queixa junto do Gabinete Federal de Investigação dos EUA (FBI na sigla em inglês).
BitConnect
Nunca foi um projeto consensual e sempre esteve debaixo de fortes críticas pelo perigo que podia representar para os investidores. Este projeto, que esteve várias semanas no ativo, funcionava como uma plataforma de empréstimo – os utilizadores emprestavam dinheiro ao BitConnect, em Bitcoin por exemplo, dinheiro esse que depois era devolvido com mais-valias.
Rapidamente o projeto foi apelidado por muitos como um esquema de Ponzi aplicado ao conceito de criptomoedas, incluindo pelo fundador do Ethereum, Vitalik Buterin. Ou seja, especulou-se que o BitConnect pagava o retorno a alguns investidores com o dinheiro de novos investidores que entravam neste ecossistema.
A plataforma acabou por fechar – ainda que os promotores do projeto digam que o motivo para o fecho está no facto de terem sido vítimas de má imprensa e de ataques informáticos -, o que fez com que o valor dos tokens proprietários BCC tenha caído de forma significativa. Ou seja, o património daqueles que investiram na BitConnect caiu de forma abrupta e sem grandes sinais de preparação.
A empresa diz que vai devolver o dinheiro do empréstimo dos utilizadores à taxa de 363 dólares – um número que tem em conta o valor médio da moeda da plataforma nas semanas precendentes ao fecho -, mas mesmo esta garantia não apaga o facto de o capital de muitos utilizadores já ter caído a pique. E depois falta confirmar se os pagamentos vão de facto ser consumados.
Apesar de não ter funcionado como um exit scam como nos exemplos já referidos, é um outro exemplo de formas de atuação suspeitas para as quais os investidores devem estar alerta.
Uma parte integrante do ecossistema
Os exemplos acima referidos não foram escolhidos por um motivo particular, a não ser talvez pelo facto de serem casos de burlas relativamente recentes. São exemplos que espelham um problema muito maior que existe e, tenha isto em consideração, vai continuar a existir.
Há dezenas de casos de burlas já confirmados e documentados – pode visitar o site DeadCoins para ficar a conhecer outros exemplos – e o facto de as criptomoedas e os tokens serem um tema ainda em expansão vai permitir que novos burlões levem a sua avante.
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Do lado do utilizador não há muito a fazer, a não ser confiar apenas e só nos projetos mais sólidos que encontrar. Não se deixe encantar por um site bonito, não leia apenas o resumo do white paper, não se junte apenas ao canal no Telegram de um determinado projeto – seja mais incisivo.
Há alguns passos que podem ser tomados pelos investidores para tentarem, pelo menos, mitigar parte do risco dos investimentos que estão a fazer. Procure, por exemplo, pelos promotores do projeto no LinkedIn, veja quais as suas experiências passadas, quantas ligações têm e valide se aqueles perfis são verdadeiros ou falsos.
Projetos que já tenham provas dadas no mercado são sempre um elemento extra a favor do investidor. Por exemplo, apesar da AppCoins representar um novo projeto para a Aptoide, enquanto empresa a Aptoide já tem uma base de vários milhões de utilizadores com os quais pode colocar o conceito da AppCoins à prova. Outro exemplo é a Rentberry: a empresa já recebeu no passado perto de quatro milhões de dólares em capital de risco, mas agora está a reforçar a sua posição através de um ICO.
Também é importante perceber naquilo que está a investir. Se não sabe os princípios básicos da tecnologia de blockchain e apenas quer investir a pensar num possível retorno rápido de investimento, estará mais sujeito a ser enganado. Quanto mais conhecer o mundo no qual está a investir, melhor estará equipado para encontrar erros e incongruências em alguns projetos.
Por exemplo, se um white paper estiver mal escrito, com erros técnicos, gralhas e outros sinais que não dão confiança, talvez o melhor seja mesmo não investir numa empresa que nem sequer a sua principal premissa sabe comunicar. Se foram anunciadas parcerias, procure pelos comunicados das duas partes – se apenas uma das partes está a comunicar, há a possibilidade de a outra não saber que o seu nome está a ser usado.
Não há fórmulas mágicas para se proteger dos burlões – por norma estes burlões são pessoas com conhecimentos técnicos apurados, simplesmente vocacionados para as atividades erradas. O melhor conselho que lhe podem dar é ‘faça pesquisas’.
Pesquise por tudo o que pode sobre o ICO no qual quer investir – quanto mais souber sobre aqueles a quem quer dar o seu dinheiro, mais descansado vai ficar sobre o futuro dos seus investimentos.