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As criptomoedas estão a transformar-se numa oportunidade de trabalho

No final de maio existiam mais de mil oportunidades de trabalho na área do blockchain através do LinkedIn, três vezes mais do que existiam em 2016. Os dados foram divulgados pela própria rede social ao jornal Financial Times e são uma prova de como esta tecnologia emergente está a gerar valor para a economia e sociedade.

Mas porquê este súbito crescimento nas oportunidades de trabalho na área do blockchain? Há vários motivos que ajudam a explicar esta tendência. Em primeiro lugar porque cada vez mais empresas estão a entender o potencial desta tecnologia. Em segundo lugar porque as tecnologias blockchain estão igualmente associadas às criptomoedas, que têm vivido meses prósperos. Em terceiro lugar por causa de um fenómeno denominado de ICO.

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ICO é a sigla para Initial Coin Offering (Oferta Inicial de Moeda em tradução livre), uma nova modalidade de financiamento que está a ser explorada pelas startups em alternativa ao típico investimento-capital ou ao financiamento colaborativo.

O objetivo é que a ICO funcione da mesma forma que uma Oferta Pública Inicial (IPO na sigla em inglês). Mas as startups em vez de venderem participações diretas na empresa, estão a vender tokens para os seus projetos de blockchain em troca de criptomoedas. Um exemplo: a empresa X recebe 100 bitcoins em troca de 20% dos seus tokens [moedas digitais] futuras.

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A empresa X depois usa o valor dos 100 bitcoins para arrancar e gerir o seu negócio, enquanto os investidores ficam à espera que o token criado pela empresa X aumente de valor e possam reaver o seu dinheiro. Não há o perigo de o dinheiro nunca ser reavido porque os tokens podem nunca aumentar de valor? Sim, mas também é assim que funciona no mundo ‘real’ das startups – o investimento é dado de acordo com as expectativas de potencial daquela empresa, sendo que o retorno nunca está garantido.

As ICO têm como vantagem funcionar através de criptomoedas, pelo que passam ao lado das regras regulatórias que definem os investimentos mais tradicionais. Por outro lado, a falta de regulação torna um hipotético incumprimento em algo mais difícil de responsabilizar.

Tudo isto para dizer que devido a este movimento intenso de ICO que se tem registado, sobretudo nos EUA, estão a surgir várias propostas de trabalho na área do blockchain e acima de tudo das criptomoedas. É aqui que entra em cena o Work in Crypto.

O Work in Crypto é um site online, bastante simples e direto, no qual os interessados podem encontrar diferentes propostas de trabalho na área das criptomoedas. O projeto tem apenas algumas semanas de existência e agrega atualmente perto de 30 oportunidades de trabalho. Entre os trabalhos listados estão vagas da Blockchain, Consensys, Numerai, Golem ou Coindesk.

Work in Crypto

“Já sigo o que se passa no mundo das criptomoedas há algum tempo e nos últimos dois anos, principalmente após o lançamento do Ethereum, tem-se verificado um brutal aumento de investimento em projetos relacionados com criptomoedas e tecnologia blockchain. (…) Tendo em conta esta tendência de mercado, achei que seria interessante lançar um job board para ofertas de emprego em empresas relacionadas com criptomoedas, porque parte destes valores angariados por estes projectos irão ser investidos no recrutamento de pessoas”, disse Pedro Pinto, criador do projeto, em resposta por email ao FUTURE BEHIND.

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O vice-presidente de tecnologias blockchain da IBM, Jerry Cuomo, disse em entrevista ao Financial Times que atualmente existem mais vagas do que profissionais disponíveis, pelo que os valores de contratação são simpáticos. Os melhores dos melhores podem aspirar a ordenados na casa dos 250 mil dólares anuais nos EUA, o equivalente a 215 mil euros.

Já no Reino Unido, de acordo com o site ITJobsWatch, o ordenado médio para um profissional que trabalhe na área das criptomoedas pode rondar as 75 mil libras anuais, o equivalente a 84 mil euros.

“Um facto interessante é que muitos destes novos projetos estão a contratar colaboradores para trabalharem remotamente, o que representa uma boa oportunidade para pessoas que não vivem e não têm interesse em mudar para os grandes hubs tecnológicos como São Francisco, Nova Iorque, Berlim”, salienta Pedro Pinto.

O programador diz estar a divulgar o Work in Crypto em canais de Slack especializados, onde estabelece contacto com os fundadores de empresas na área das criptomoedas. O Work in Crypto também já esteve em destaque no Product Hunt, uma plataforma de divulgação para projetos recém-criados.

“O feedback tem sido positivo, até porque um dos objetivos de projeto, para além de divulgar as ofertas de emprego, é dar também a conhecer as empresas que estão a recrutar, visto que muitas ainda estão em fases embrionárias e poucas pessoas estão a par do que fazem. Em todas as ofertas tento sempre incluir um parágrafo sobre os projetos que a empresa está a desenvolver”, conta Pedro Pinto.

Os EUA são neste momento o país que mais tráfego tem gerado para o site, seguido do Reino Unido e da Índia – todos mercados com forte tradição na área da tecnologia.

O LinkedIn também revelou que já existem 10 mil utilizadores que nos seus perfis colocam o blockchain como uma das suas principais valências. Este acaba por não ser um valor muito considerável, sabendo que existem mais de 500 milhões de utilizadores em todo o mundo na rede social, mas só agora é que o blockchain e as criptomoedas estão a seduzir verdadeiramente as pessoas.

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Um estudo de 2016 da Accenture diz que as tecnologias de blockchain só deverão atingir a maturidade em 2025, pelo que ainda existe um grande caminho a percorrer nesta área. Também relatórios da KPMG e da Ernst and Young dizem que a tecnologia ainda está longe de atingir o seu estado mais maduro, mas não apontam previsões para quando isso pode acontecer.

“A tecnologia blockchain tem vindo a ser adoptada por várias instituições financeiras e por grandes empresas como a Samsung, Intel e Microsoft. Portanto, acredito que o mercado de trabalho nas criptomoedas tem potencial para crescer bastante nos próximos anos”, salientou o criador do Work in Crypto.

Pedro Pinto também é da opinião que há muitos projetos na área das criptomoedas que vão falhar, mas salienta que isso é algo que já acontece com outras startups de outras áreas de negócio.

Isto significa que agora há três formas de ganhar dinheiro com criptomoedas: investir no seu valor, ter nervos de aço e esperar pela sua valorização; minerar diretamente as moedas digitais com redes portentosas de computação; ou viver esta revolução por dentro, trabalhando numa das muitas empresas que estão a tentar assentar arraiais no mundo do blockchain e das criptomoedas.