Se a Islândia fosse hoje a votos muito provavelmente seria Birgitta Jónsdóttir a chefiar e a nomear um novo Governo. O facto interessante nesta história é que Birgitta é líder do Partido Pirata no país nórdico – o que a tornaria na primeira-ministra ‘pirata’ de um país.
Panama Papers. Um escândalo de proporções épicas e que colocou a descoberto centenas de pessoas que tinham contas no Panamá, um paraíso fiscal. Apesar de ser legalmente possível ter uma conta offshore, neste caso suspeita-se que as ditas contas foram usadas para fuga de impostos nos países de origem. O Expresso escreve que há mais de 34 portugueses envolvidos.
Mas a nacionalidade que neste momento está mais em destaque é a islandesa e por dois motivos distintos. Em primeiro lugar porque uma das grandes vítimas dos Panama Papers foi o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson.
Alegado conflito de interesses entre património privado e a crise dos bancos islandeses, além da possível não declaração de riquezas, fez que com que Sigmundur fosse alvo de uma grande pressão, o que o levou a afastar-se temporariamente da chefia do país.
O outro motivo é que esta crise política fez com que a líder do Partido Pirata na Islândia, Birgitta Jónsdóttir, seja neste momento apontada como favorita para suceder como primeira-ministra. Nas últimas sondagens, realizadas ainda na semana passada antes do escândalo rebentar, o Partido Pirata era o favorito de 36% dos eleitores. “É muito possível que o Partido Pirata seja um grande partido se houver eleições antecipadas este ano”, disse a sua líder, citado pelo Sidney Morning Herald.
Com esta crise política a força do Partido Pirata pode sair ainda mais reforçada.
Ainda não é certo quando podem ser as eleições legislativas, mas os meios de comunicação já estão a traçar o perfil a Birgitta. Apontam-na como colega de Julian Assange e um dos elementos que apoiava o movimento Wikileaks. Também é frequentemente chamada de poeta, como a própria, de 48 anos, gosta de se descrever.
O Evening Standard escreve que foi a primeira pessoa da Islândia a fazer um evento em live streaming, em 1996, na altura realizando uma performance poética através da ‘grande rede’.
A confirmarem-se as mais recentes intenções de votos e um Partido Pirata poderá pela primeira vez ser a força política líder de um país. Há casos de outras nações onde os partidos piratas já têm expressão suficiente para ter assento nos respetivos parlamentos: Suécia é o caso mais conhecido, mas até ao Parlamento Europeu os ‘piratas’ já chegaram.
A sua eleição na Islândia pode ter reflexo político noutros países – é um efeito recorrente ver partidos semelhantes crescerem noutros países tendo por base o sucesso numa nação. Talvez o efeito não se sinta, por exemplo, na Europa do Sul – caso venha a acontecer -, mas nos países nórdicos pode despertar novamente o interesse por esta tipologia de movimentos.
É importante referir que os movimentos dos Partidos Piratas nada têm a ver com a pirataria de conteúdos. Por norma as suas ideias e políticas são mais liberais, dizem-se focadas no interesse das pessoas, mas apresentam uma grande consciência sobre a posição da Internet e das ferramentas tecnológicas na sociedade.
No caso do Partido Pirata islandês há vontade de reescrever a Constituição para que a mesma seja mais focada nos cidadãos. O partido também procura uma redução do horário de trabalho para 35 horas semanais, defende um enquadramento legal mais favorável para as chamadas drogas leves e também procura uma reformulação das leis dos direitos de autor.
Se isto vai acontecer ou não só dependerá dos islandeses. Pois do lado de Birgitta Jónsdóttir há muito que a bandeira pirata está hasteada.