Nasceu oficialmente a Bright Pixel. Oficialmente pois há seis meses que decorriam os trabalhos para que esta nova empresa arrancasse sem sobressaltos. A BRPX define-se como um company building studio. Traduzindo para miúdos: é uma entidade que ajudará a desenvolver novos projetos tecnológicos, terá uma componente de incubação e outra de investimento em startups.
Este all you can eat de empreendedorismo é apoiado pela Sonae IM, o braço de investimento da Sonae para a área das tecnologias.
“O plano foi rabiscado numa folha de papel, perdemos-lhe o controlo e virou um projeto muito ambicioso”, explicou o diretor executivo da Bright Pixel, Celso Martinho, no evento de apresentação.
Se o nome desta pessoa parece-lhe familiar é porque o é: Celso Martinho foi cofundador do SAPO, o maior portal online em Portugal e também uma das entidades que sempre apostou no desenvolvimento tecnológico. Em outubro apresentou a demissão e em novembro comunicava-a ao mundo.
“Simplesmente chegou uma altura em que por um lado fazia sentido haver uma mudança para mim e por outro lado deu-se um alinhamento quase cósmico, eu diria, em que se encontraram um conjunto de pessoas importantes nas áreas de criatividade, tecnologia e investimento que partilhavam duas coisas em comum que são basilares ao modelo que nós construímos”, disse ontem aos jornalistas o atual CEO da Bright Pixel.
E explicou: “Essas duas coisas são: mudar a forma como as empresas se relacionam com a inovação hoje em dia, que é um problema. As grandes empresas não têm a velocidade necessária – e não digo isto com sentido pejorativo, é simplesmente um facto – para fazer mudanças drásticas culturais, tecnológicas ou ligadas com inovação. Portanto nós podemos ajudar. Por outro lado mudar também a forma como as novas startups aparecem porque quando uma startup nasce tem muito risco e tem muitos desafios”.
“Através do grupo de empresas dos quais nos rodeamos, incluindo as empresas do grupo Sonae, nós vamos poder dar às startups a possibilidade de poderem validar quando estão a construir um produto, com clientes reais, e quando vão para o mercado podem dizer que já têm um cliente grande. E isto é muito importante. Tudo isto aconteceu, tudo isto foi um alinhamento cósmico, tudo isto correu muito bem. Fizemos um plano, executá-mo-lo e em seis meses montamos a Bright Pixel e aqui estamos”, disse ainda a propósito da criação desta nova empresa.
A relação com a academia, isto é, com as universidades e os seus pólos de investigação, foi uma ideia defendida mais do que uma vez durante a apresentação do projeto. “A academia é uma oportunidade muito grande no sentido de ajudar a testar novas tecnologias e conceitos, mas também é uma grande fonte de talento: esta relação é algo que pretendemos desde hoje construir e pertencer”, defendeu Celso Martinho.
A BRPX está situada em Lisboa, tem 16 pessoas na equipa fundadora e é dona de um espaço de 500 metros quadrados na baixa da capital. Já está a apoiar dois projetos – OxPecker e Graft.ly – e também já conseguiu garantir a sua primeira startup, a Eat Tasty.
“Queremos fazer da Bright Pixel um dos pontos quentes do empreendedorismo em Portugal. Queremos que o auditório venha a ter um calendário agressivo de conhecimento público. Estamos a dar passos para construir hardware e fabricação digital. Vamos ter um hacker in residence com uma sala dedicada aos makers”, acrescentou o líder do projeto sobre alguns dos elementos que vão marcar presença na BRPX.
Como funciona a Bright Pixel
O modelo de company building que define a BRPX caracteriza-se por três fases.
I ) Fase de Laboratório: uma fase muito no início ligada à inovação e experimentação; na prática vai servir para testar ferramentas e soluções na área do retalho, telecomunicações, media e cibersegurança nas empresas do grupo Sonae que de outra forma podiam não ter uma oportunidade de serem colocadas à prova; espera-se um rácio de falhanço grande, mas as que sobreviverem a esta fase sabem que estão prontas para a seguinte;
II ) Fase de incubação: pode ser incubação interna, na qual dão sequência às provas de conceito da Fase I; há decisão de fazer investimento e fazer um mínimo de produto viável (MVP); o investimento máximo da BRPX nesta fase é de 250 mil euros; também podem incubar startups externas para incorporarem o ecossistema; nesta fase o que distingue a empresa de outros projetos incubadores é o facto de poderem usar empresas do grupo Sonae para validar os MVP que estão a construir;
III ) Fase de criação de novas startups: tendo em conta o rácio das fases anteriores podem ter a oportunidade de lançar uma startup no mercado; aqui entram no investimento seed, isto é, a BRPX vai querer ter uma fatia minoritária das startups onde vai investir; Celso Martinho garantiu que a ideia é dar sempre aos fundadores a maioria da empresa para que possam ter condições para avançar para rondas de financiamento; nesta terceira fase a Bright Pixel está disposta a investir até 500 mil euros por projeto; o investimento pode não ser feito sozinho já que nesta etapa também serão procurados coinvestidores.
Quantos projetos vai a Bright Pixel ter em simultâneo? “Se vão ser cinco, se vão ser dez ou se vão ser quinze honestamente não sei. Espero que sejam muitos”, explicou Celso Martinho. O CEO também disse ainda que é objetivo da BRPX ajudar as empresas a subirem patamares na sua maturidade e não ficar a apoiá-las durante largos períodos de tempo.
“A Bright vai também ser um local de passagem. Nós não queremos que os projetos fiquem mais tempo do que aquilo que é necessário para os podermos ajudar até eles entrarem no mercado. Não é expectável que uma startup que nós convidemos para o nosso processo de incubação fique cá durante anos ou até que fique durante um ano. Provavelmente vai ficar seis meses ou o tempo suficiente até conseguirmos empurrá-los até à próxima etapa”.
Além da vertente de apoio e investimento, a Bright Pixel anunciou ainda a maior hackathon portuguesa, a Pixels Camp, que vai decorrer no início de outubro.
NR: Corrigido um erro no texto. Obrigado à Mª João Nogueira pela indicação.