Não é só o Bitcoin que está em alta, é todo o mercado das criptomoedas

Se o Bitcoin tinha acabado o ano de 2016 em grande, o início de 2017 está a ser fulguroso para a moeda digital. Esta semana o Bitcoin ultrapassou pela primeira vez na sua história a fasquia dos 1.800 dólares em valor, querendo isto dizer que um bitcoin já valeu perto de 1.655 euros.

A euforia pela moeda vai em tal ordem que já há analistas a dizer que um dia um bitcoin pode mesmo valer entre 3.000 e 4.000 dólares. Para uma moeda cujos primeiros tempos de vida foram tão conturbados pela falta de confiança, agora parece imperar o sentimento contrário.




Desde o início do ano que o valor do Bitcoin escalou perto de 70%, o que colocou a capitalização máxima da moeda na casa dos 29,6 mil milhões de dólares. Muita desta confiança está associada à tecnologia basilar do Bitcoin, o blockchain, que começa a ser vista como uma solução tecnológica que poderá resolver desafios e problemas de muitos segmentos de negócio.

Depois existem outros ‘pequenos’ sinais de confiança. Por exemplo, o Japão reconheceu o Bitcoin como uma forma de pagamento legítima e a Rússia já disse que pondera fazer o mesmo no próximo ano. Sendo duas das mais importantes economias a nível mundial, estes são dois selos de aprovação críticos para a divisa digital.

Acontece que a euforia que está a ser vivida em torno do Bitcoin quase faz esquecer a existência de mais, muitas mais criptmoedas em circulação e utilização.

Publicamente listadas existem pelo menos 835 divisas digitais, de acordo com o Coinmarketcap. Na prática estas são moedas que surgiram posteriormente ao Bitcoin, que usam no geral o mesmo princípio de funcionamento e que tentam conquistar o seu lugar ao sol neste cada vez mais apetecível mundo das moedas digitais.

Aquilo que temos com as criptomoedas é mais ou menos o mesmo que existe relativamente à Mastodon – são sistemas descentralizados e que podem ser ‘criados’ por pessoas que têm o conhecimento suficiente para criar o seu próprio ‘domínio’. Muitas destas moedas são projetos de comunidade e que quase não têm valor comercial – por exemplo, a InflationCoin vale 0,000021 cêntimos de dólar. Como este exemplo há dezenas de outros.

Mas dentro deste universo alternativo de bitcoins há de facto projetos que estão muito bem posicionados, seja em termos de valor unitário de cada moeda, seja na capitalização global de todo o projeto.

A Ethereum, por exemplo, é a segunda criptomoeda mais valiosa do momento, apresentando uma capitalização de 8,3 mil milhões de dólares, sendo que cada unidade da moeda vale cerca de 90 dólares. A Ripple, por outro lado, apenas vale 18 cêntimos de dólar por unidade, mas no global já vale 7,4 mil milhões de dólares. Na quarta posição da lista surge o Litecoin como um valor unitário de 30 dólares e uma capitalização de 1,5 mil milhões de dólares.

Feitas as contas, as tais 835 criptomoedas que estão publicamente listadas valem em conjunto 53,9 mil milhões de dólares, o equivalente a 48,6 mil milhões de euros. Já estamos portanto a falar de muito dinheiro.

Mais de metade deste valor é ‘preenchido’ pelo Bitcoin, mas é aqui que voltamos à ideia original do texto. Não é só o Bitcoin que está a crescer. O bom momento da moeda tem ajudado a impulsionar a confiança nas outras divisas, mas o bom momento das outras divisas também tem suportado o sucesso atual do Bitcoin.

Um exemplo: esta semana a moeda Litecoin adotou a tecnologia Segregated Witness (SegWit), que na prática permite remover alguns dados no processo de verificação e transação da moeda. Isto permite reduzir o tamanho dos blocos de cada operação, o que por sua vez permite incluir mais transações dentro de um determinado bloco. No final isto resultará numa moeda cujo processamento final será mais rápido para o utilizador.

A SegWit – que pode ser conhecida com mais detalhe aqui – é uma tecnologia que pelas melhorias que trás, muitos gostavam de ver implementada também no Bitcoin. Enquanto isso não acontece – e pode nunca chegar a acontecer -, as atenções viram-se para quem já tira partido da tecnologia, como é o caso da Litecoin.

As melhorias aplicadas ao Litecoin mostram não só sinais positivos de evolução no segmento das criptomoedas, como reforça a existência de alternativas fiáveis e com valor para o utilizador final.

Desde o início de março que o valor das chamadas altcoins – alternativas ou variações do Bitcoin – já cresceu mais de 600%. É um valor muito significativo e que mostra claramente que o mundo das criptomoedas não está ‘amarrado’ a apenas uma divisa.

Da mesma forma que o bom momento das criptomoedas é construído em conjunto, um mau momento também pode ter o mesmo efeito de um castelo de cartas quando cai – basta o topo da pirâmide vacilar para afetar tudo o que está abaixo de si.

A falta de inovações tecnológicas no Bitcoin tem gerado algum desconforto na comunidade e está em cima da mesa a hipótese de ser criada uma bifurcação – na prática existiriam dois Bitcoin, mas um seria tecnologicamente mais avançado. A acontecer, esta mudança pode ter um impacto muito forte e pode passar para o mercado alguma divisão interna, o que no mundo financeiro às vezes é percecionado como um sinal de fraqueza.

A verdade é que a nuvem das dúvidas sobre o Bitcoin já existe praticamente desde o seu início, mas a divisa tem mostrado como sobreviver à especulação, à fraude e mesmo à pressão mediática.

Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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