Análise Ys IX: Monstrum Nox

Existem séries de videojogos que perderam imenso ao estarem demasiado tempo alocadas a uma visão conservadora e ao restringirem-se a um público específico, sendo projetadas para um mercado distinto ou a uma região em especial. Juntamente a isso, os críticos anos noventa foram também relevantes no impedimento de imensos jogos ao estarem presos por bloqueios de região e de se sobressaírem no mercado Ocidental, período em que apesar de tudo, outros jogos tiveram a oportunidade de espreitar e de explodir fora do oriente, e que acabariam por criar raízes, transformando-se não só em sagas de culto, como em autênticas marcas de sucesso absoluto.

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Uma das sagas que perderam com essa visão conservadora, foi Ys que se encontra agora no seu nono título da série principal – Ys IX: Monstrum Nox -. Das mãos da Nihon Falcom, uma das empresas mais antigas no ramo do desenvolvimento de videojogos, Ys apesar de ser série de relativa qualidade, desde a sua origem, sempre foi olhada por dentro, pelos homens fortes da Falcom, como títulos de baixo orçamento, mas desenvolvidos por mãos de muitíssima qualidade.

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Essa visão particular, aliás, é estendida a praticamente todos os jogos produzidos pela empresa japonesa, assim como até há muito bem pouco tempo, os seus jogos eram unicamente pensados para um público restrito, e principalmente japonês. Felizmente, os tempos foram mudando algumas decisões conservadoras da corporação e hoje é bem mais comum presenciar-se a novos lançamentos da Falcom no Ocidente com mais regularidade, apesar de ainda existir um período de espera, entre traduções e decisões de estratégias de marketing de forma isolada entre as duas regiões, mas a verdade é que esse período tem se vindo a encurtar. Mudanças dos tempos, para melhor.

A dura missão de pelo menos igualar o seu antecessor

Depois do sucesso relativo de Ys VIII: Lacrimosa of Dana onde marcou presença entre várias marcas, e inclusive atravessou algumas gerações entre consolas, a grande responsabilidade de não desiludir aqueles que, entretanto, embarcaram na série Ys, muito graças à grande qualidade do oitavo título, era grande. Ys IX: Monstrum Nox sai para o mercado japonês em 2019, e só agora chega ao mercado Ocidental.

O nono capítulo da saga Ys, Ys IX: Monstrum Nox, vem um pouco com a mesma premissa do que foi constatado nos títulos anteriores, onde o aventureiro Adol Cristin volta a ser protagonista de uma jornada que promete ser das mais misteriosas de todas, assim como também das mais sombrias. Adol inicia a sua jornada ao ser acusado pelo roubo de uma frota militar, e acaba por ser preso. Com o auxílio de uma mulher misteriosa, o nosso aventureiro ganha poderes sobre-humanos, transformando-o em monstrum, onde lhe é permitido alcançar locais específicos, obviamente marcados e transportando-o instantaneamente, assim como habilidades únicas. Juntamente com o seu companheiro clássico de aventuras, Dogi, Adol vai juntando companheiros também eles dotados dos poderes dos monstrums, alguns com traços de personalidade bem vincados, numa jornada para descobrir os mistérios da cidade de Balduq, assim como o que esconde Aprilis, a mulher que recolheu Adol para o seu grupo de monstrums.

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Ys IX: Monstrum Nox bebe imenso do que foi o passado da série, mas procura distanciar-se de uma maneira geral do que foi até então o ritmo frenético de exploração, onde os cenários gigantescos se faziam sentir com enormes caminhadas num mapa gigantesco. Neste novo capítulo a exploração para além de se estender ao longo da cidade de Balduq, que ainda é de um tamanho bastante considerável, a profundidade alastra-se através da verticalidade dos cenários, explorando os vários andares, entre telhados e outras zonas de grande altitude. A imersão é, desta forma, também bastante concisa, e destaca-se dos restantes jogos da série.

Novos elementos, novas habilidades, novas interacções

Assim como Adol dispõe de uma habilidade única com a aquisição de poderes exclusivos dos monstrum, os seus companheiros de armas conforme se vão juntando ao grupo vão oferecendo também eles capacidades únicas que permitiram ultrapassar certos obstáculos ou alcançar zonas onde até então não era possível. Estas mecânicas são bastante comuns em títulos Ys, o que para um fã de longa data não irá estranhar a forma como tudo se processa. Ainda assim, a forma como desta vez a mecânica de ir evoluindo progressivamente com habilidades pertencentes aos novos elementos que se vão juntando ao núcleo de Adol, dão um toque mais plural, e não unicamente ao protagonista.

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Visualmente Ys IX: Monstrum Nox é um jogo da geração passada, que não se destaca ainda assim dos de mais. A tendência dos jogos da Nihon Falcom é sempre a mesma, e os grandes gráficos e visuais deslumbrantes raramente se vão fazer notar. Ys IX: Monstrum Nox apesar de ter algumas coisas muito bem desenhadas, com cores bem personalizadas, cenários muitas vezes projetados com grande detalhe, a verdade é que o mundo em si nem sempre acompanha o mesmo padrão. Ora se é possível avistar uma catedral lindíssima, no outro lado é capaz de estar uma casa sem charme algum, despida de pormenores. O desempenho também nem sempre é completamente isento de problemas, existindo por várias vezes quebras de fluidez em momentos mais movimentados, como em batalhas ou em zonas onde o mapa tende a abrir. Outra das componentes que geralmente acompanha o visual, no meio das batalhas frenéticas, é a banda sonora rítmica, que mais uma vez não desaponta, podendo ser ouvida até mesmo fora do jogo, porque soará de uma forma magnifica.

O sistema de combate permanece como um dos pontos fortes da série

Se na matéria de gráficos Ys é uma série que não costuma não preencher por completo os padrões do que é frequente assistir aos títulos de peso de cada geração, a jogabilidade tende a ser um dos pontos fortes, e em Ys IX: Monstrum Nox essa componente volta a confirmar-se. Quer na interação com os obstáculos dos cenários, quer nos momentos de batalha, mecanicamente Ys IX: Monstrum Nox mexe-se de uma forma sublime. O sistema de batalha é excelente, sendo rápido, preciso no momento certo, e altamente desafiante. A mecânica de ir alterando de personagem conforme as aptidões de cada uma, que não é inédito na série, no momento em que certas batalhas exigem uma determinada postura, varia cada embate, reduzindo evidentemente a monotonia e repetição de movimentos. Os jogadores mais experientes certamente vão querer desde logo ir na dificuldade mais elevada, mas os jogadores que se estrearem nesta aventura vão perceber que existe um grau de evolução que não é dispensável, desde o engenho de esquivar no momento certo, até à pura defesa no momento exacto, são trunfos que poderão dar uma enorme vantagem ao jogador nos bosses mais desafiantes, mas são artes que necessitam de treino.  

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Ys IX: Monstrum Nox comparativamente com os títulos anteriores pode ser batido em menos tempo, caso o jogador mantenha unicamente o objetivo de terminar a história principal, mas não invalida que este jogo seja menos intenso que os seus antecessores. Para quem gosta de explorar, platinar, concluir toda a aventura por completo, terá um desafio estimável, pois poderá, dependendo da experiência do jogador, vir a triplicar o número de horas consumidas após o fecho do objetivo principal.

Considerações Finais

A tarefa de vir a suceder um dos títulos mais populares e mais bem recebidos na série Ys não era fácil, mas Ys IX: Monstrum Nox veio com aquilo que era necessário, para, ainda assim, oferecer mais, mas de maneira ligeiramente diferente. A exploração e os cenários gigantescos amplamente conhecidos da série, passaram a ser também eles amplificados de forma vertical. Mecanicamente aproveita parte do que tem sido a série ao longo da sua vida, não estando no topo do desempenho, nem de visualmente estar frente-a-frente com os títulos de peso do final de geração, todavia ainda assim não está entre os piores do seu género.

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O lado obscuro da narrativa de Ys IX: Monstrum Nox, para um estilo completamente diferente do que foi assistido até ao momento também se diferencia de forma positiva, dando mais destaque não só ao protagonista icónico da série, mas também fazendo brilhar alguns dos companheiros que o acompanham durante a jornada. Como RPG de ação, mantém os padrões altos que a série tem vindo a conservar, continuando a ser altamente desafiante e frenético com batalhas onde a dificuldade pode ser adaptada a qualquer um.

+ Narrativa obscura e densa

+ Sistema de combate rápido e diverso

+ Exploração da cidade de Balduq conforme vão abrindo as possibilidades

– Contraste de diferenças de qualidade visuais persistentes

– Desempenho de fluidez por vezes oscila em períodos de maior movimentação

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N.R.: A análise a Ys IX: Monstrum Nox foi realizada numa Playstation 4 com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente disponibilizada pela Nis America

Tiago Marafona: Um autêntico fã de RPGs japoneses e um belo apreciador de jogos de plataformas. Nunca diz não aos clássicos Super Mario, The Legend of Zelda e Final Fantasy. É também um acérrimo admirador do trabalho do Ryu Ga Gotoku e da Monolith Soft.
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