White Shadows

White Shadows – análise

 
“Todos os animais são iguais, excepto os pássaros”. Esta frase propagandística, que alude ao mantra mais icónico de O Triunfo dos Porcos, de George Orwell, introduz-nos ao mundo ignominioso de White Shadows, o primeiro projeto da Monokel, uma pequena equipa composta por cerca de meia dúzia de elementos.

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Editado pela Thunderful Publishing, White Shadows é uma aventura de plataformas e puzzles em 2D, que nos apresenta uma cidade distópica pintada num tom monocromático. Enquanto jogo, bebe da mesma fonte de títulos como Limbo, Inside e Little Nighmares. Tematicamente, o pessoal da Monokel parece ter-se embevecido nos dois romances mais marcantes de George Orwell, o já mencionado O Triunfo dos Porcos e 1984. Será White Shadows um primeiro tiro certeiro tendo em conta todas estas ilustres influências?

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Os mais oprimidos são os únicos que voam

Acompanhamos a rapariga corvo (Ravengirl), um dos poucos membros da sua espécie “aviária” que ainda se consegue mover pela White City, uma metropolitana industrializada subterrânea alicerçada por maquinaria sem alma, torres irregulares de proporções gigantescas e uma atmosfera opressiva. A luz natural não existe. Bastam uns minutos para o jogo nos envolver numa sociedade totalitária em que os lobos se sentam no topo da pirâmide hierárquica, subjugando os corvos de maneira incansável. A propaganda anti-corvos representada por cartazes e painéis não só rotula as aves como espécie mais subalterna, como também as culpa pela suposta pandemia mortífera que assolou o mundo.

A única solução proposta pela elite dos lobos é um banho diário de luz e de forma recorrente, a publicidade a este “produto” bombardeia a população.
Através dos cenários, a história vai tomando os seus contornos. Uma breve linha de texto, um slide de imagens minimalistas, os cartazes de propaganda e sobretudo aquilo que se passa no ecrã são os únicos recursos que White Shadows utiliza para nos comunicar a jornada negra da rapariga corvo.

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O jogo faz um ótimo trabalho em transmitir uma escala imponente, em que as torres e as gerigonças voadoras contrastam a envergadura diminuta da protagonista. Os comboios que transportam baterias de luz, o processo de fabricação da própria substância ou até o entretenimento distorcido a que a população é sujeita fazem-nos parar de modo a absorvermos cada detalhe, incluindo o que se passa no pano de fundo. Embora a narrativa seja aberta a interpretações e a construção do mundo seja o grande destaque de White Shadows, ficámos com a sensação de que o clímax da história nunca chega a acontecer, faltando uma pontada de arrojo na reta final da aventura.

Em busca de uma luz diferente

Sempre numa perspectiva bilateral, a experiência ao nível de mecânicas será familiar a outras aventuras 2D monocromáticas, como Limbo ou Inside. Saltamos por obstáculos, empurramos caixotes para aceder a áreas mais elevadas e resolvemos puzzles, definidos pelas suas lógicas simples. Apesar de não serem difíceis, estes são os elementos mais desafiantes do jogo.

O âmago de White Shadows leva-nos a percorrer os cenários do ponto A ao ponto B, sem que o design dos níveis se intrometa no progresso do jogador. À exceção da ocasional armadilha ou plataforma em movimento, o jogo centra mais a atenção do jogador nas diferentes panorâmicas que a câmara produz e na história que conta. Sendo a jogabilidade limitada pela extrema simplicidade, não podemos deixar de notar a rigidez que o salto da personagem evoca. Sentimos uma grande falta de controlo sobre a direção do pulo, uma vez que a sua trajetória mantem-se estática e falta uma melhor sensação de peso. Intencional ou não, resulta numa interação estranha. Felizmente, este pequeno percalço não arruína os melhores níveis do jogo mais focados nas plataformas.

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Os níveis que mais tensão evocam são as sessões de stealth em que devemos evitar que os malfeitores nos encontrem com a luz fatal. Seja camuflados num grupo de jovens pássaros ou ao acompanhar o movimento de um caixote, passar despercebido é sempre divertido.

White Shadows atinge o seu apogeu na apresentação visual. A cidade, que emana uma atmosfera densa por cada recanto, brilha pelo seu design industrializado e pelas bizarrias metálicas. Mesmo tendo uma palete de cores mínima, há muita vida a emanar das estruturas e de todo o mundo que a Monokel visionou. A atmosfera opressiva é complementada pelo bom trabalho sonoro.

O ranger de correntes, as falhas dos candeeiros e os sons metálicos são alguns exemplos em como os pequenos detalhes sonoros ajudam na imersão do mundo criado. Em contrapartida, a performance não aguenta uma cena mais movimentada sem quebras visíveis.

Considerações Finais

Embora o balanço seja positivo, sentimos que White Shadows poderia ter ido muito além do que aquilo que se materializou. O comentário social, apesar da relevância das suas ideias, parece nunca sair de uma camada superficial. A jogabilidade carece de polimento e a história acaba por deixar a desejar, sobretudo nos últimos momentos.

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Ainda assim, White Shadows é uma experiência breve com os seus pontos de destaque. Há momentos de impacto na narrativa, o mundo é cativante e não faltam sequências memoráveis. Se tiverem umas horas vagas e as expectativas controladas, White Shadows é uma boa aposta.


+ Localização nova é refrescante
+ Alguns níveis de grande impacto

– Culminar desapontante da história
– Salto rígido e falta de sensação de peso
– Framerate fraca

N.R.: A análise a White Shadows foi realizada numa PlayStation 5 com acesso a uma cópia do jogo cedida pela Plan of Attack