Diz-se nas áreas criativas que as melhores ideias são as mais simples. As que não precisam de grandes floreados, apresentações massivas ou explicações imensas para se entenderem. É uma frase, poucas palavras e chega-se lá. Vampire Survivors, da Poncle, é o epítome dessa máxima. Tão simples, que se torna infernalmente viciante.
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Sobrevive se conseguires…
Vampire Survivors é um roguelike com sessões de 30 minutos no máximo. Estas sessões estão espalhadas por vários mapas desbloqueáveis e podemos enfrentá-las com dezenas de personagens diferentes. Se formos só avaliar o tempo para passar todos os níveis, não nos esperam mais de 3 ou 4 horas totais. A beleza deste título está no loop de jogabilidade que aplica: extremamente simples, absolutamente imperdível.
O único aspecto que controlamos da nossa personagem é o seu movimento. As armas, excepto a inicial e característica da personagem escolhida, são aleatórias e temos até um espaço de seis no total para ir escolhendo de cada vez que nivelamos, da mesma forma que temos seis espaços para acessórios. O delicioso neste loop é que cada arma pode nivelar até 9 níveis e, se utilizarmos o item certo, evoluir para uma versão mais forte.
As evoluções estão todas listadas e ao desbloquear cada uma ganhamos uma personagem nova, ou um item diferente para podermos usar durante o jogo e que está pensado para combinar com o que já existe, criando novas evoluções e combinações. De repente, estamos na 20ª hora a desbloquear mais itens e personagens novas, a repetir as mesmas ações: navegar num ecrã eterno e com o mesmo aspecto, a evitar e a vencer hordas de inimigos.
Os fãs das combinações com botões, que exijam precisão e mestria dos comandos, podem sair de Vampire Survivors desiludidos: as decisões são meramente estratégicas. Isto porque a nossa agência nasce das escolhas que fazemos de cada vez que nivelamos. Ou seja, embora ganhemos formas de banir determinados itens, estamos reféns do RNG para selecionar as armas e itens do nosso setup e quais nivelar e quando.
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Este é o aspecto mais básico do jogo e que, de forma inteligente, vai evoluindo à medida que desbloqueamos tudo o que tem para nos dar. Ganhamos cartas de Arcana que funcionam como perks de início de jogo, desbloqueamos upgrades permanentes adquiridos com o dinheiro ganho ao longo de cada sessão, obtendo até modos diferentes que mudam completamente o comportamento ou dificuldade dos inimigos.
Um jogo arcada em 2022
O vício inerente a Vampire Survivors está na forma engenhosa e simples com que nos levam a querer sempre mais uma sessão. Temos uma lista de achievements que nos indicam que passos devemos tomar para desbloquear todos os itens do jogo, que por sua vez nos dão mais personagens para explorar.
Os níveis guardam também imensos segredos e cada um permite-nos desbloquear mais itens, mais personagens, mais bónus ou perks. Tudo sem uma barreira com microtransações, Gachas ardilosos e predatórios ou barreiras de pré-reservas a impedir-nos o processo ou a torná-lo artificialmente longo. Está tudo dependente da nossa habilidade e tudo disponível sem precisarmos de gastar mais dinheiro. Na realidade, é tão inocente na forma como nos apresenta um jogo com tantas camadas que poderia ser um jogo de Mega Drive ou de arcada da Sega, nos anos 90.
E a atitude que tem perante o jogador – vou dar-te segredos e listas de personagens para ires experimentando e utilizando, até não teres mais para explorar – é tão inegavelmente Sega, que demos por nós a confirmar uma e outra vez se este título não tinha sido ressuscitado dessa época.
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Este é, no entanto, um projeto de carinho e muito modesto – o aspecto técnico é, mais do que despido, quase ausente. Os sprites utilizados são tão familiares que os veteranos de Castlevania sentir-se-ão imediatamente em casa e os mapas toscos e em constante loop acabam por reforçar ainda mais o aspecto modesto deste título.
As armas diferem entre si e apresentam comportamentos muito distintos, o que acaba por acrescentar bastante à experiência quando encontramos 3 ou 4 combinações confortáveis que nos permitem tentar quebrar ao máximo o jogo, com a sua permissão, recompensando-nos com alguns dos segredos mais bem escondidos consoante a nossa capacidade de ultrapassar os limites.
Mas os gráficos e os sprites são, novamente, muito próximos da cópia de Castlevania para serem apenas homenagem. As próprias animações são bastante simples, o que, tendo em conta o jogo, não ofendem nada, mas para os jogadores mais exigentes, provavelmente pediriam mais do ponto de vista artístico.
Considerações Finais
Mas o charme de Vampire Survivors reside justamente nesta simplicidade. Não pretende ser um jogo altamente complexo ou uma experiência narrativa sem precedentes. Não quer levar-nos por mundos altamente imersivos ou conhecer personagens tão realistas que poderiam viver connosco.
Quer dar-nos pequenas pausas de 30 minutos com objetivos bastante definidos, para que ninguém saia desta experiência a sentir-se defraudado. É um jogo de 2022 com o espírito, ainda tão importante e ainda tão relevante, do final dos anos 80, início dos anos 90. Foge à tentadora armadilha da monetização para nos oferecer uma das experiências mais viciantes e obrigatórias de 2022.
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É absolutamente satisfatório quando conseguimos combinar as armas certas para conseguir dizimar qualquer horda de inimigos, por vezes sem termos de nos mover. Conseguir uma descarga de dopamina com repetição e, neste caso, inação, prova que, mesmo com consolas e hardware cada vez mais poderoso, se resultava em 16 bits, também resulta hoje.