Triangle Strategy – Análise

Octopath Traveller veio despertar esta ligação mágica que se pensava perdida nos confins da história dos videojogos em que a arte 2D se mistura com os sprites para os por ao serviço das mais belas e intricadas narrativas de JPRG’s. E mais uma vez, como o mundo é feito de ciclos, a Square Enix colabora com a Nintendo para preparar uma obra que tem tanto de bela como densa, numa bonita homenagem aos jogos táticos de outrora com um ênfase muito forte na lenta caracterização e desenvolvimento da trama.

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Vale a pena pôr Triangle Strategy neste lugar de destaque desta nova geração de RPG’s táticos ou mais vale ficarmo-nos pelo que foi feito há vinte anos? Talvez a resposta seja um pouco de ambas as perguntas.

Final Fantasy Tactics 2D HD medieval?

Serenoa Wolfhort, leal serviçal de Glenbrook, encontra-se como protagonista de uma história que tem um lento início trágico, que desequilibra finalmente uma relação de três reinos que parecia já muito fragilizada. Glenbrook, Hyzante e Aesfront e o seu inevitável confronto na chamada Saltiron War (pois a escassez de sal e ferro levam ao confronto entre as diferentes fações) levam a que o nosso herói tenha que tomar decisões de extrema complexidade para o continente de Norzelia.

No entanto, contará com os seus fiéis amigos e companheiros de luta para tomar decisões difíceis através de um intrincado sistema de decisões (Scales of Conviction) onde podemos tentar convencer alguém a escolher o nosso caminho. A escolha final partirá da soma de todos os votos opinativos. Interessante esta forma de tentar converter os nossos amigos para o que decidimos, embora por vezes eles ainda assim decidam contrariamente. Democracia, malta! E as decisões nunca são tão simples como “bom ou mau”. Há sempre nuances que têm de ser contabilizadas, embora por vezes seja impossível prever o que vai sair destes votos coletivos.

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E isso não deixa de ser extremamente positivo. Há traições, diálogos densos e oportunidades de sermos surpreendidos pelo rumo que pensamos levar para o nosso grupo de amigos envolto na nefasta guerra comercial. Fãs de Game of Thrones podem encontrar aqui algum conforto enquanto não chega a prequela. Exemplo disto: quando alguém supostamente está morto, revelamos essa informação, alterando-a para ganharmos um aliado, ou ficamos bem caladinhos para ver no que dá? Num mundo de esquemas e manipulações, convém pensar e repensar no que se deve (ou não) fazer.

Dá-lhe de lado!

A produtora Artdink foi buscar inspirações às bases e conseguiu criar um refinado e eficiente sistema de combate com enorme variedade tática para Triangle Strategy. Para os verdadeiros puristas, temos os diferentes tipos de classes e a capacidade de desenvolver cada uma delas à medida que progredimos no jogo, tornando cada deslocação em batalha num movimento de xadrez, calculado e pensado. Como qualquer outro bom RPG tático, há que criar uma simbiose de classes e skills nos nossos companheiros para que todos se complementem e se tornem eficientes em campo de guerra.

A má escolha de classes e as skills erradas que equipam vão ser maléficas para a progressão, pois Triangle Strategy não perdoa más interpretações. Calha bem haver a possibilidade de repetir e melhorar. Sim, o grind é real por aqui.

Sendo um puro RPG tático, há que aproveitar tudo o que o próprio terreno de batalha nos dá ou tira, sendo a vantagem no relevo a mais decisiva. Embora tenhamos que abordar a verdadeira forma de decidir se vamos ter ou não sucesso neste jogo que vai por vezes exigir mais de meia hora para uma simples batalha: a capacidade de flanquear ou ser flanqueado.

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Decidir onde cada um dos nossos campeões se vai posicionar depois do ataque, e até para onde vai ficar virado pode ser determinante para o seu desfecho. Faz lembrar quando a malta se juntava em miúdo para dar porrada naquele que ninguém conseguia fazê-lo sozinho. A força está nos números, e aqui deixar um membro importante da nossa equipa só é condená-lo a uma morte certa. Para além disso, Triangle Strategy premeia com ataques adicionais aqueles que conseguem apanhar os adversários de costas voltadas para eles e isso mostrou-se decisivo em várias das minhas lutas. Isto ganha uma importância enorme num jogo onde cada movimento conta. Dei por mim a contar cada quadrado possível de movimento e de alcance dos adversários, para que nenhum homem ou mulher ficasse para trás ao abandono.

Livro grande que se vê muito bem

O lado estético é aquele que se destaca à primeira vista em Triangle Strategy. A arte detalhada e os sprites HD são uma boa janela para aquilo que depois comporta este jogo em toda a sua densidade de leitor ávido e de conhecedor de RPG’s táticos. A comparação com Octopath Traveller é compreensível, mas são jogos tão diferentes apesar das aparentes semelhanças. O motor visual é o mesmo, mas aqui parece mais moderno, mais bonito e menos a contar com a nostalgia daqueles que venham somente com esse intuito. A nostalgia é uma treta e os sprites são aqui usados para desencadear a lembrança mas nao para viver através dela. Não, não estamos perante jogos do passado, mas sim do presente com olho no futuro, honrando o passado do género. Fez sentido?

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Apesar da sua beleza, há que realçar a dureza das primeiras horas em que pouco se passa, com a leitura de minutos e minutos sem parar de diálogo. Aliás, é bastante frequente este aspeto. Acontece muito passarem-se ecrãs de converseta sem fim sem conseguirmos sequer mexer a nossa personagem. Adicionando o facto de as batalhas não serem assim tantas e não haver campanhas secundárias, parece até um desperdício tanto bla bla bla. É lento, de difícil compreensão e não será para todos.

Considerações finais

À primeira vista, Triangle Strategy pode parecer um decalque de outros jogos de outras épocas, com os seus sistemas de classes e combates que se tornaram clássicos com toda a justificação. Sim, bebe inspiração em FF Tactics, mas é muito mais do que isso. Com o tom de romance medieval, Triangle Strategy é muito mais denso e exigente do que muitos dos jogadores possam pensar. Mas se lhe dermos amor na mesma moeda com que foi feito, estamos perante um dos melhores exemplos que o género alguma vez nos deu.

As personagens são bem conseguidas, cheias de personalidade e com piada. O sistema de tomada de decisões pode ser relativamente imperfeito, mas abre portas para que seja melhorado em jogos vindouros.

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Se Octopath Traveller reabriu esta porta que parecia fechada para todo o sempre nas memórias dos jogadores mais cotas, Triangle Strategy conta uma aventura épica de forma mais bem conseguida e o seu sistema de combate promete recompensar os mais pacientes.

Mas se não têm óculos de ler… Arranjem, vão precisar. E aguentem as primeiras horas secantes. Depois vale a pena.

Triangle Strategy é aquilo que os fãs de RPG’s táticos queriam e muito mais. Mesmo muito mais.


+ História intrincada e épica
+ Combate demorada mas recompensador
+ O Sistema Scales of Conviction

– Ler, ler e ler…
– Grind, grind e grind…

N.R.: A análise a Triangle Strategy foi realizada numa Nintendo Switch com uma cópia do jogo, cedida pela Nintendo Portugal

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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