The Crew Motorfest – Análise

A imitação é a melhor elogio, dizem inúmeras análises sobre The Crew Motorfest. Parece que é extremamente semelhante a um outro jogo automobilístico, mas eu não pretendo traçar esse paralelismo. Primeiro, porque nunca joguei outro título da série concorrente, e vou até mais longe ao dizer que nem gosto de jogos de carros. Ei, tirei a carta apenas há poucos anos e evito conduzir sempre que posso.

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Porque haveria de brincar com pópós virtuais nos meus tempos livres? Ainda assim, aqui estou. Carreguem no acelerador comigo julgando que é a embraiagem, troquem as mudanças, travem cedo demais, batam em todos os obstáculos possíveis e tentem sair vivos do Havai!

Forza a mais ou Horizons a menos?

The Crew Motorfest realiza-se na ilha de Oahu, onde o jogador participará em eventos automobilísticos (e não só) numa grande festa cheia de cor e som desproporcionais. Premissa do Forza? Não sei, não me interessa. Sei sim que tem uma abordagem mais arcada, o que para os meus reflexos de velhote vai certamente ser um descanso, sem ninguém para me chatear, um joguito de carros para o eremita que sou. Errado, pá. Trata-se duma experiência em que estamos sempre online, sendo o mundo de jogo invadido com inúmeros carros fantasma de outros jogadores que passam por nós a alta velocidade.

Há muito que fazer nesta ilha: a ilha está lindíssima e há sempre eventos a acontecer. Corridas pré-programadas para as quais nos temos que deslocar durante vários quilómetros apreciando a beleza apocalíptica das vistas. Pois, nem sequer uma pessoazinha para lavarmos a vista. A artificialidade da premissa “vem correr no paraíso do asfalto” intensifica-se um bocado se só estamos lá nós e os ocasionais espectros que calcorreiam estradas em montes, praias e florestas sem qualquer alma humana. Estranho.

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Existem depois as Playlists: pistas com curadoria diversificada, seja com o tema dos muscle cars, japonesa muito Fast and Furious (aquele de que ninguém se lembra do ator principal), entre outras, usando carros específicos nesses desafios. Playlist derrotada, carro novo oferecido. Bem bom. Problema? Estes carros que nos esfalfamos no asfalto(dizer três vezes muito rápido, pau, trava-línguas criado!) a vencer são apenas usados para andarmos de um lado para o outro no mundo, sem os podermos usar nas corridas oficiais. É-nos sempre emprestado um carro específico para a prova em questão… Então para que servem todos os carros que conquistamos? Não percebo.

Bater. Recuar. Bater outra vez.

Passei ao de leve pelo conteúdo multiplayer, mas garanto aos fanáticos da velocidade e destruição que há muito por onde esbardalhar carros. Demolition Royale, lembrando destruições de gerações anteriores onde vão sendo eliminados os mais fraquitos; Grand Race, com carros clássicos e até 28 pessoas numa corrida; Custom Show, onde as regras são vocês que as criam. Não vi a possibilidade de criar lobbies privados, mas dá para adicionar mais 3 amigos e andar nas cegadas com eles.

Multiplayer despachado, foquemo-nos no Main Stage, que tem uma temática intermitente, mudando constantemente os temas das provas que o compõem, pois é um jogo live service. Só o desbloqueamos depois de cumprirmos com sucesso 3 Playlists e lá podemos desbloquear prémios, XP e peças para os nossos bólides.

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Aqui o cota qua anda a pé gostou do facto que os comandos são minimamente realistas, embora intuitivos e responsivos. Não nos vamos preocupar em riscar ou simplesmente mandar os carros para a sucata, porque não é aqui que vão encontrar um simulador. Isso pelos vistos é outro jogo lá para as outras bandas. Claro, não é totalmente arcade, mas contem com a já tradicional mecânica do rewind sempre que se espetarem contra uma parede, carro ou cerca. É usar e abusar.

Parece que também podemos pilotar motas, aviões e barcos. Hum, pois. Bem sei que estes veículos diferentes fazem parte da génese The Crew, mas nota-se sem sombra de dúvida que o foco está nos carros e que falta aqui amor. Controlos pouco refinados e imprecisos estragam para mim a experiência. Mas é sempre giro mudar de veículo com um simples toque de botão. Never gets old.


O seu destino fica… Demasiado longe.

Oahu está linda e nota-se o esforço que a Ubisoft fez em tornar esta experiência bela e inspiradora. As paisagens incríveis, mais de 600 veículos fielmente pormenorizados e até os efeitos meteorológicos impressionam. O som também se enquadra no ritmo rápido das corridas, num misto entre EDM e rock que eu desliguei à segunda audição. Não é para mim.

Mas o que me irritou mais no capítulo sonoro são as lições de história. Ao longo de diversas corridas somos acompanhado por locais que nos vão contando pequenas curiosidades, seja do sítio por onde estamos a passar ou do carro que conduzimos. Quel é o problema disto? As vozes. Soam falsas, pouco humanizadas e forçadas. Termo português para cheesy? Fatelas, talvez?

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Outra irritação minha com este jogo é a ausência de fast travel até demasiado tarde. Somos impelidos a conduzir de um lado para o outro do extenso mapa uma e outra vez. É chato. E são sempre trajetos que nos ocupam vários minutos e em que nada acontece a não ser condução totalmente absorta de objetividade.  

Termino as minhas queixas com algo de que não me devia queixar, não fosse este um jogo da Ubisoft: microtransações! Podemos usar o nosso dinheirinho para comprar carros e upgrades para eles se não quisermos passar pelo processo moroso de repetir corridas até à exaustão para os termos. E sempre que o jogo abre, temos que passar obrigatoriamente por menus da loja. É aquela pressãozinha do costume.

Considerações finais

The Crew Motorfest continua o legado duma experiência automobilística essencialmente divertida num mundo bonito à bruta. Muitos carros e customização, conteúdo a rodos e uma banda sonora que não é para mim, mas que vejo a agradar a todos esses aceleras de trazer por casa.

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Há escolhas que não se percebem, como a de não podermos usar os carros que ganhamos nas corridas e até de algumas de design falhadas, para além de se tornar rapidamente repetitivo e fácil de arrumar na garagem. Uma imitação bonita, sim, mas uma imitação.

Diversão e pasmaceira em partes iguais, The Crew Motorfest não envergonha; veremos o que se seguirá!


+ Muito bonito
+ Muitos carros e customização
+ Adequado para velhinhos sem reflexos

– Conduzir tudo que não seja carros
– Repetitivo e chato entre provas
– Somente online

N.R.: A análise a The Crew Motorfest foi realizada numa PlayStation 5 com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Ubisoft.

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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