Tenho uma relação muito estranha com jogos de terror. Para além de preferir jogos com suspense aos de terror, tem de ser algo muito específico para me agarrar ao ecrã. Quando era mais jovem jogava todos, Silent Hill, Clocktower, Fatal Frame, mas quando Dead Space foi lançado o meu queixo caiu ao chão. Era aquilo que eu precisava depois de todos os jogos do género terem ficado todos muito similares, era algo muito diferente e cumpria muitos dos meus interesses, ser futurista e passar-se no espaço, do qual sabemos pouco e tudo era uma incógnita. E este jogo de ficção científica mudou tudo.
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O estúdio Striking Distance Studios pegou nessa fórmula, não fosse o seu CEO Glen Schofield, um dos criadores de Dead Space e as muitas semelhanças que os dois títulos têm em comum nota-se no produto final.
Jacob, o piloto
Em The Callisto Protocol somos Jacob Lee, piloto de uma nave de carga que têm feito algumas entregas duvidosas entre Calisto e Europa, duas luas de Júpiter. Nesta última viagem com o seu copiloto Max, a nave é infiltrada por uma equipa de guerrilheiros encabeçada por Dani Nakamura e no meio da luta pela posse dos comandos a nave despenha-se em Calisto e todos a bordo morrem exceto Jacob e Dani que são imediatamente presos e sentenciados a pena na infame prisão Black Iron.
Depois de todos os procedimentos feitos e ser atirado para a sua cela, Jacob acorda no seu primeiro dia e depara-se com um motim na prisão, estando aqui o ponto de partida do jogo, a sobrevivência de Jacob ao sair da sua cela e tentar escapar à confusão que o rodeia.
É mesmo impossível não comparar este jogo com Dead Space porque as semelhanças começam muito cedo, se já não chegasse o género e o contexto.
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Numa das sequências iniciais, Jacob é detido e obrigado a ser “operado” e digo operado com aspas porque é-lhe enxertado um dispositivo chamado CORE na sua coluna com extrema violência, servindo para o monitorizar na prisão Black Iron e para nós jogadores, serve de barra de vida do personagem, equivalente ao método usado em Dead Space que fazia parte do seu fato RIG.
Outra grande similaridade é a presença de um dispositivo telecinético chamado GRP que funciona da mesma maneira que o modulo Kinesis de Dead Space, e a pisadela que Arthur Clarke usava também está aqui presente.
Drama espacial com…zombies?
Ironicamente o que separa mais os dois títulos de Glen Schofield são os inimigos. Não escondo que alguns são semelhantes, mas enquanto em Dead Space são necromorphs e aqui são biophages, humanos contaminados por uma experiência que aparentemente fugiu ao controlo dos seus criadores. O que mudou imenso, uma das poucas coisas que não vemos semelhanças em The Callisto Protocol, é mesmo a abordagem aos inimigos, como o combate é diferente, mas que não seja para melhor.
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Com os necromorphs a mecânica ideal era com as armas, combates de longa/média distância e íamos separando os membros das criaturas um a um para reduzir a sua capacidade de combate e rapidez, características marcantes destes personagens enquanto em The Callisto Protocol a tendência é a contrária. Armado com um bastão de combate, Jacob começa as suas lutas com combate corpo a corpo e depois sim, usa umas das armas à disposição para despachar os adversários. Se assim não for, gastamos muita munição e não há assim tanta espalhada.
A mecânica adicionada para podermos chegar mais perto sem morrermos logo é uma esquiva, ao pressionar lateralmente no analógico esquerdo, desviámo-nos dos biophages para encontrar um padrão de ataque. Quando dão uma aberta, lá vamos nós de bastão na mão.
Lá mais para a frente existem variantes mais difíceis de cada inimigo, mas mesmo assim o combate não evolui muito, o que é uma pena. Basicamente é isto, esquiva, bastão e atirar. A única diferença neste estilo de combate é usar o nosso dispositivo telecinético e atirar os monstros para estruturas que os destroem instantaneamente como trituradoras e paredes com espigões. Todas as vantagens que podemos ter são bem-vindas até atirá-los por precipícios abaixo.
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A nossa primeira arma é o bastão atordoante, mas ao longo da aventura pela prisão Black Iron e outros locais descobrimos mais armas que podemos melhorar em estações de fabricação. Ao apanharmos certos objetos, podemos vender nessa estação e comprar as modificações num sistema muito simples. Mas os recursos são escassos, munição é escassa e temos de tomar escolhas, elevar todas as armas aos poucos ou focarmo-nos em elevar as que gostamos mais em combate porque as modificações são muito caras. Depende do jogador como é óbvio, mas para podermos usufruir do máximo poder de fogo temos de esperar pelo modo new game plus que só estará disponível em fevereiro.
The Callisto Protocol é visualmente impressionante. Os modelos dos personagens e inimigos são excelentes mesmo que haja pouca variedade dos últimos, temos o mesmo problema com os cenários, mas as cinemáticas estão bem realizadas e cumprem em ajudar no suspense e ambiente que o estúdio criou para o jogo. Na parte sonora, os efeitos sonoros são do melhor que podemos ter no género, principalmente no que concerne os inimigos. Todos os seus sons, grunhos, até quando os atiramos para uma trituradora são nojentos (no bom sentido) e os arrepios são reais em algumas sequências.
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Josh Duhamel como Jacob e Karen Fukuhara como Dani nos principais papéis demonstram a vontade do Striking Distance Studios de fazer o melhor possível em passar a história ao jogador e a sua qualidade não se questiona. O problema é mesmo a história em si que não me puxou em nada, inclusive não me ter quase assustado quase vez nenhuma, eu que com Dead Space andava sempre de arma na mão com medo de tudo e todos. Senti que poderia haver mais interação com os cenários, e falo de coisas que até são normais em jogos do género como ler diários ou ouvir audio logs para saber uma password para abrir uma porta, mas não, abrimos quase sempre da mesma maneira. Seria uma forma de imersão extra e mostrar algumas das dificuldades de um piloto como Jacob a ultrapassar estas adversidades, mas parece que é um faz tudo e nada da sua história interessa.
Considerações finais
Sei que fiz inúmeras comparações de The Callisto Protocol com Dead Space, talvez mais do que merece, mas a verdade é que o criador é o mesmo, o movimento do personagem, mecânicas, inimigos e o ambiente é extremamente semelhante que até pensei como é que podia ser possível. É mau? Não é porque o jogo é bom, mas podia ter uma identidade própria e foi-me difícil afastar este sentimento de Dead Space 1.5.
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É uma boa aventura, nota-se os valores de produção e tem alguns problemas técnicos, mas tem uma história fraca, poucos bosses (para quem gosta de encontros épicos), e o fim é extremamente curto e totalmente anti climático.
Para quem gosta do género não fica a perder, mas tirou as boas ideias de Dead Space e a novas não são revolucionárias.