Sherlock Holmes Chapter One – Análise

A Frogwares volta à carga com Sherlock Holmes Chapter One, que promete mostrar um novo lado do mais famoso detetive do mundo, criando um mundo de inegável beleza e algumas mecânicas diferentes.

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Mas será que mais um jogo de investigação com o herói de proa Sherlock será bem recebido, ou terá o inglês investigado o seu último caso?

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O bom detetive a casa torna

Sherlock Holmes volta às suas origens e todo este percurso de dor e a necessidade de por um fim no trauma familiar leva-o à ilha de Cordona, no Mediterrâneo. Com apenas 21 anos, a experiência e a calma na interpretação de dados num determinado crime ainda não foi assimilada, mas a curiosidade e a vontade de resolver verdadeiros trilhos de pistas já se encontra bem alojado no seu palácio mental, onde as informações reunidas são ligadas, como se um longo novelo de dúvida se fosse desenleando.

Ao contrário do mais experiente Sherlock, esta sua versão mais nova vai falhar. Vai errar em julgamentos de valor e de parecer de provas que podem ser obtidas de diversas formas: dedução pura, através de uma mecânica que vai permitir ao jogador ver uma cena de crime como só Sherlock Holmes o consegue fazer, analisando cada peça, cada rasto, cada interrogatório informal, cada cusquice que se pode ouvir em conversas de transeuntes, cada disfarce usado. Nunca o mais famoso detetive do mundo teve acesso a tanta informação e tão variada. E ainda assim… O erro aparecerá.

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A Frogwares dá neste aspeto mais uma camada de juventude imberbe e de humanidade ao herói, pois permite que o erro de julgamento aconteça. Não há ecrãs de Game Over neste Sherlock Holmes Chapter One. O jogador é livre de ter o seu arbítrio sobre um caso e, desde de que munido de um certo número de indícios e provas, pode acusar formalmente alguém. Mas isso não quer dizer que o tenha feito de forma correta e as escolhas morais, bem como as suas consequências, estão sempre presentes.

Tenha-se em atenção o primeiro caso em que o jogador parece “tropeçar”: um crime aparentemente passional que envolve um antigo militar alcoólico, a sua mulher, a sua amante e um vidente com muita pinta de charlatão. Usam-se os talentos de Sherlock usando o L1, descobrindo algumas pistas. Observam-se atentamente as conversas do bar do hotel onde tudo acontece, interrogam-se outras pessoas usando as pistas adquiridas. Tudo leva a crer que o crime inicial, um roubo de uma pedra preciosa, nada tem a ver com o que se descobre a seguir. O tal militar terá morto a sua amante, com medo de que ela revelasse o seu envolvimento, embora ele o negue factualmente. Logo que possível, passa-se para a acusação, e é inegável que ela foi feita sem ter reunido todos os elementos que poderiam comprovar ou afastar o cenário traçado.

Sherlock Holmes Chapter One não fornece qualquer tipo de informação ao jogador sobre se tudo foi apurado e descoberto e se a lógica foi bem aplicada. E fica-se com a inequívoca sensação de que em qualquer caso pode pagar o justo pelo pecador. E isso é ótimo, pelo menos para para quem conseguir lidar com isso. Os outros podem ficar frustrados. Recomenda-se o uso constante da função de salvar e recomeçar, para quem não quiser perder pitada. Ou ser um injusto acusador de inocentes.

Armas? No, it’s ****, Sherlock.

Para além da trama muito bem conseguida, ligando a morte da mãe de Sherlock ao seu amigo e companheiro omnipresente nesta aventura Jon (não o John Watson que se conhece como o eterno companheiro do detetive) e das mecânicas super bem conseguidas de indução lógica com um nível linguístico e narrativo inegável, é apresentada também uma nova faceta de Sherlock, o combate. E referimo-nos a combate com armas.

Este não é claramente o aspeto mais polido do jogo. Os confrontos com armas parecem ser experiência que foi introduzida em Sherlock Holmes Chapter One para dar mais uma valência a um protagonista já tão rico. Aliás, a grande maioria destes confrontos são opcionais, servindo como missões secundárias, onde o jogador pode invadir antros de bandidos para os levar à justiça. E mesmo aqueles que fazem parte da estória principal podem ser “saltados”, sendo o incentivo para os realizar algum dinheiro para investir em roupas para os nossos galãs.

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Há que descobrir as vulnerabilidades dos opositores momentos antes dos disparos utilizando o bullet time, vislumbrando pontos no corpo para onde se deve disparar ou utilizando até alguns objetos do ambiente em proveito próprio.

Estes confrontos são lentos, pouco conseguidos e o facto da própria editora deixar que o jogador os deixe de parte faz pensar que quem realizou o jogo também não acreditou nesta visão alternativa.

A ilha aberta de Cordona

Após o primeiro deslindar de crime, o mundo de Cordona abre-se para o jogador. Apesar de haver rumos mais ou menos traçados para que a estória principal se precipite, pode-se perfeitamente apreciar as várias belezas de uma ilha cheia de vida, de inspirações tão díspares como a Turquia e a inevitável colonização inglesa. E novas missões irão aparecer depois de conversas com pessoas que se sentam num banco de jardim ou até dentro de uma esquadra da polícia. Pena é que o método que nos permite guiar pela enorme ilha não seja o mais fácil de interpretar, pois a “bússola” que ocupa a parte superior do ecrã confunde facilmente o jogador e obriga a consultas de mapa constantes pausando o jogo.

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Tudo transpira cor de época, como os edifícios majestosos da época vitoriana, bem como as verdadeiras favelas onde o crime e a mendicidade reinam.

As interações com as personagens ficam manchadas com algumas das animações faciais sem grande expressão e alguns soluços enquanto o jogador se movimenta pela ilha. Tudo pormenores que podem ser corrigidos, certamente.

Considerações finais

Sherlock Holmes Chapter One é um imperdoável jogo de exploração da mente que irá ser adorado pelos pensadores e dedutores lógicos. Pode também ter algum valor para aqueles que se deixam encantar pelo lado visual e auditivo de um jogo, mas não é certamente para quem procura aqui um título de porrada puro e duro.

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As mecânicas de combate não são boas, mas tudo é compensado pela multitude de formas com que se podem obter provas e indícios que levarão à acusação da pessoa certa. Ou então não. O lado humano prevalece e a falha é aqui parte integrante de todos: Sherlock, NPC’s e jogador. Resta saber quem consegue lidar bem com este facto. Serão esses os jogadores de Sherlock Holmes Chapter One.

Sherlock Holmes Chapter One é um corrupio de investigação e dedução incrível, beleza gráfica, música imponente e ainda assim é certamente um jogo que não será para todos.


+ A livre exploração de Cordona
+ As inúmeras formas de encontrar provas
+ Muito para fazer e descobrir

– Combate dispensável
– Algumas animações mal conseguidas
– Ligeiros soluços em mundo aberto

N.R.: A análise a Sherlock Holmes Chapter One foi realizada numa PlayStation 5com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Wired Tap Media.

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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