Aviso prévio: O autor desta análise nunca jogou League of Legends ou viu Arcane, pelo que não existe qualquer tipo de conhecimento prévio do universo ou das personagens em que Ruined King se insere.
Agora que o preâmbulo foi feito, vamos ao que importa. Ruined King é um RPG por turnos, nascido no universo de League of Legends, que acompanha a luta contra a chegada do Harrowing – no fundo, uma força maligna e destruidora que condena aqueles que nela morrem a verem as suas almas presas nas Shadow Isles para toda a eternidade.
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Como veremos, tanto a narrativa como os eventos são extremamente familiares, até para quem não tem intimidade com o universo da Riot: é o plot 101 para JRPGs, num conjunto de aliados improváveis contra uma catástrofe global.
Contra os espectros lutar, lutar!
Dito isto, Ruined King brilha essencialmente na jogabilidade. É difícil implementar elementos novos ou interessantes num sistema de combate por turnos em 2021, mas a Airship Syndicate consegue fazê-lo, juntando-lhe um sistema de “Lanes”.
Imaginem um corredor onde veem, representados, os inimigos e as nossas personagens. Nesse corredor, o primeiro a atacar é o que surge mais próximo da esquerda. Daqui, conseguem perceber não só a ordem de ataque mas, também, manipulá-la utilizando habilidades no vosso arsenal. Para além disso, à medida que o jogo vai avançando, vão sendo introduzidas armadilhas ou melhorias temporárias nesta lane, para que possam acrescentar maior densidade ao combate.
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Este sistema funciona, primeiro, com dois subsistemas: cada personagem tem direito a habilidades rápidas, que não consomem mana nem alteram o nosso posicionamento na lane, e a habilidades de lane, que consomem mana, são mais poderosas e podem ser manipuladas de acordo com a nossa posição na lane. A acrescentar a todos estes elementos, podem ainda estabelecer a potência da habilidade: se mais rápida mas fraca, se mais lenta mas poderosa.
Por escrito, parece um sistema altamente complexo e difícil de interiorizar. Podem ficar descansados: Ruined King faz um bom trabalho em torná-lo altamente funcional e, até, imediato. Em dois, três encontros já nos é natural escolher a intensidade das habilidades para conseguirmos recuperar vida, se nos tiver calhado um bloco de cura, ou habilidades mais poderosas, para escaparmos a blocos de veneno.
As habilidades de cada Champion estão intimamente ligadas a este sistema: temos habilidades que conseguem empurrar os inimigos para trás da lane, colocando-os em posições desfavoráveis, habilidades que permitem colocar os nossos companheiros em situações mais privilegiadas do mapa, para além dos clássicos sistemas de buff, debuff, ataques para a área inteira e golpes mais poderosos e individuais.
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A este sistema de combate, soma-se um intrincado subsistema de upgrades para cada Champion, que podemos adaptar a cada momento. Os pontos que alocamos não são imovíveis, apesar de finitos, o que significa que, estrategicamente, podemos criar novas “classes” dentro das classes fechadas para conseguirmos ultrapassar alguns dos picos de dificuldade.
Dificuldade a picos
Porque Ruined King, de facto, vive da jogabilidade e da maleabilidade que oferece ao jogador quanto à forma como quer enfrentar os perigos em Bilgewater e nas Shadow Isles.
Contudo, o polimento que encontramos no combate está, tristemente, ausente do resto da experiência. A história é surpreendentemente genérica – grande catástrofe é iminente e só o nosso grupo de heróis improváveis a pode travar.
Para além disso, muito do diálogo e das próprias personagens cai num espectro demasiado previsível: Se Miss Fortune é a típica personagem que não respeita as regras com um passado de vingança, Illaoli é o arquétipo da personagem cujas crenças são postas em causa por eventos magníficos.
Atenção que, apesar de previsível, é bastante funcional e ajuda a carregar as 20 a 30 horas da main quest.
As sidequests e NPCs com quem podemos interagir são bastante estéreis e oferecem pouca diversidade ao loop de jogabilidade de Ruined King: ir do ponto A ao ponto B e lutar com monstros cada vez mais difíceis.
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Ajudam-nos a nivelar um pouco mais os nossos Champions e a encontrar materiais que nos permitem modificar as nossas armas e equipamento, mas não oferecem nada de diferente. Algumas das setpieces trazem puzzles para resolver, mas são tão simples e, ao mesmo tempo, tão fora do que o jogo oferece, que vão dar por vocês a nem sequer se lembrarem que por lá passaram.
No fundo, e apesar de, em determinados momentos do jogo, poderem fazer uma pausa para conversar com a vossa equipa e ter algumas conversas mais pessoais e interessantes, falta um elemento essencial ao jogo: alma.
Porque toda a experiência com o jogo foi… aborrecida. Enquanto fãs absolutos de JRPGs, aplaude-se não só a variedade de inimigos e situações estratégicas que nos são oferecidas ao longo de Ruined King, mas falta-lhe o mais importante: cenários que ajudem a ligar o Mundo ao que estamos a fazer.
O único “mini-jogo” é a pesca e é extremamente despido de funções: é uma versão muito despida da Pesca em Final Fantasy XV, por exemplo. Vão dar por vocês apenas a seguir em frente, salvo alguma fetch quest ou pedaço de Lore e baú por encontrar.
Ruined King não nos oferece incentivos para nos mantermos no jogo, fora a possibilidade de continuarmos a combater e a explorar ainda mais possibilidades das nossas builds.
E é pena, porque na nossa experiência, torna-o ainda mais lento e moroso, não porque de facto ofereça muita qualidade, mas porque esta parca otimização se estende aos picos de dificuldade repentinos e agressivos. Se tiverem alguma familiaridade com franquias mais intensas, como Shin Megami Tensei, vão conseguir adaptar bem o vosso ritmo a estes picos.
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Porém, se a vossa experiência em RPGs por turnos nascer de títulos como Dragon Quest, Final Fantasy ou Pokémon, preparem-se para alguns dissabores.
Não sentimos que o grinding excessivo nos desse uma vantagem demasiado grande, sendo totalmente chave aprender e decorar, logo desde a primeira instância, todos os buffs, debuffs e efeitos passivos e ativos das nossas personagens.
Infelizmente, este pouco polimento atira-nos aos lobos de repente nestes picos, com combates que nos permitem avançar com relativa facilidade até, repentinamente, aparecer um inimigo com uma habilidade nova capaz de dizimar a equipa toda.
Considerações Finais
O teste foi feito numa PS4 e, em termos técnicos, deixou muito a desejar. Loadings de quase um minuto, de cada vez que entrámos ou saímos de um edifício, tornando a experiência ainda mais aborrecida.
A direção de arte é fabulosa e transporta-nos, imediatamente, para um universo próprio das comics norte-americanas – principalmente se tiverem acompanhado as sagas Ultimate, da Marvel, no início dos anos 2000. A sonoplastia e as interpretações estão a um nível altíssimo, ponto que é normal nas produções da Riot, e a banda-sonora, embora não brilhante, consegue dar a cor necessária aos locais que visitamos.
Infelizmente, a diversidade de locais é bastante diminuta e, por muito belos que sejam, acabam também por se tornar monótonos ao fim de umas horas.
No fim do dia, Ruined King peca por se ter apaixonado – e com razão – pelo excelente sistema de combate que urdiu para este título, não tendo dado o mesmo tipo de carinho e cuidado aos restantes elementos do jogo. Se forem fãs de RPGs mais orientados para as mecânicas de combate, encontram aqui uma excelente proposta.
Se, no entanto, procurarem o vosso próximo Final Fantasy ou Persona, entrem com cautela: este título não está perto desse nível, mas não deixa de ser um jogo competente. Preparem-se só para a monotonia.