Nunca tive oportunidade de experimentar o original Paper Mario: The Thousand-Year Door. Priorizei obras diferentes na altura devido a ser na altura um jovem estudante com mais vontade de comer massa e atum do que esturrar tudo com a Nintendo. Analisei Paper Mario: The Origami King e fiquei com a impressão que teria obrigatoriamente de voltar vinte anos atrás a esta obra. Mas a Nintendo antecipou-se e lançou este remake com um humor estranho que pode ter várias interpretações, num motor novo e com uma panóplia de novas velhas personagens que fogem da monotonia habitual, seja na sua fisionomia, mas até nos seus traços de personalidade.
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Voltemos então a um mundo de papel que se desenha a cada passo e que se vislumbra mais estranho e negro por vezes do que o habitual mundo algodão-doce com que a Nintendo nos costuma brindar…
Ponto a ponto:
Mario é cartão num mundo de papel
Rogueport é o cartão de visita do início desta aventura, onde podemos ver gangues, graffitis e até o que parece ser uma espécie de plataforma de enforcamento! Paper Mario: The Thousand-Year Door tem algumas destas áreas mais negras, antagonizando-se com as habituais zonas onde a cor impera. Muitas das próprias personagens e inimigos demarcam-se numa paleta de cores mais escura, algo que não estou habituado a vivenciar neste tipo de jogos.
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O mundo deste jogo é ainda assim de inegável encanto, com as pontas e dobras de papel por todo o lado, decorando cada recanto. Apenas Mario e algumas das personagens parecem ser de cartão mais grosso e as batalhas fazem lembrar aqueles dioramas que fazíamos nas aulas de Educação Visual, emulando o lado dramático de um literal teatro de batalha com as cortinas e público com o qual podemos por vezes interagir.
Este jogo é bonito como seria de esperar com surpresas para descobrir por trás de cada flor, monte ou planta. Mesmo que se encontre também aqui beleza em mundos mais negros e taciturnos. Aqui, Paper Mario: The Thousand-Year Door cumpriu o seu papel.
As três pancadas do combate por turnos
Não jogando o original, mas conhecendo-o bem pela sua influência, temos combates por turnos com ações em momentos certos. Carregar numa simples combinação de botões pode significar um ataque com muitos pontos de dano ou num falhanço retumbante. Sei que este foi também um dos motivos que afastou numa primeira instância jogadores deste clássico bem como deste remake em esteroides, mas o sistema introduz com bastante regularidade novos desafios que fazem com que as batalhas não sejam uma verdadeira seca, apesar de ser bem mais simplificado do que o combate dos anteriores lançamentos que continham uma vertente quase de puzzle de que muitos não gostaram, mas eu adorei. Um interveniente de cada vez, traçando o seu caminho nestas mini-peças teatrais de ataques.
O sistema de progressão é relativamente simples: vamos ganhando pontos-estrela correspondentes a cada “atuação” em combate e a cada cem subimos de nível, permitindo-nos aumentar os pontos de HP, FP – pontos flor, para ataques especiais, ou ainda BP – pontos que aumentam a eficácia dos nossos distintivos – elementos equipáveis que melhoram as nossas estatísticas. Claramente estes últimos ganham preponderância, pois a escolha perfeita de distintivos vão certamente dar-vos vantagens nos combates. Dica de quem passou umas horas de volta disto: privilegiem sempre o poder dos ataques ao HP.
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Mas o melhor dos combates é aquilo que não se passa no combate em si: falo do público. Tudo o que fazemos é avaliado pelos Goombas e Koopas que assistem a cada combate, podendo ser parte ativa dos mesmos. Se realizarmos ataques perfeitos, ou até se chamarmos a sua atenção com um comando que aparece por vezes (Appeal), vamos gerar mais SP para usarmos nos nossos ataques especiais, que tanto jeito dão por vezes. Se tudo for bem desempenhado, podemos ser recompensados com itens que nos vão ajudar. Mas os companheiros de Bowser também podem estar na plateia e vão certamente tentar atirar-nos com pedras e podemos expulsá-los da sala se os apanharmos nesse ato. Por vezes até invadem o palco e atiram objetos que podem cair em cima das nossas personagens ou até dos inimigos. Toda esta imprevisibilidade e este lado aleatório destas intervenções tornam as batalhas muito divertidas.
Indo eu, indo eu, a caminho do que já vi…
O backtracking é um dos flagelos de Paper Mario: The Thousand-Year Door. Somos constantemente impelidos a avançar na busca de uma chave, um item ou de uma situação que desbloqueie a estória, mas o caminho para trás é sempre necessário fazer. Não porque o desafio seja demasiado imponente e nos sintamos injustiçados pela dificuldade do que encontramos nesse caminho retrógrado, mas é realmente aborrecido. Isto é particularmente penoso nos primeiros capítulos, onde tudo avança vagarosamente a uma velocidade semelhante a um Di Maria aos 85 minutos de jogo. Lá mais para a frente temos acesso a um tubo que nos leva mais rapidamente para o mundo pretendido, porém o meu receio é que o jogador menos inveterado destes jogos classicamente Nintendo desista antes de haver este facilitador de deslocação. Noutro campo, nota-se também esta já não tão recente adaptação de novos e velhos títulos a um público mais jovem por parte da gigante nipónica.
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Paper Mario: The Thousand-Year Door tem muita carne para comer à volta do seu osso, mas não tem grande dificuldade, não há aquela gordura substancial que nos faz evitá-la por vezes, mas que, ao jogador como eu, não consegue resistir. A nossa assistente permanente Goombella dá-nos a direção, a próxima missão, informações importantes sobre os inimigos com um simples toque num botão. Existem uma série de personagens que vamos encontrando pelo caminho e que, na sua essência, acrescentam uma nova mecânica para ultrapassar obstáculos, mas algumas delas são simplesmente fortes demais para usar em combates, principalmente um bébé Yoshi. Há até um NPC que nos “aconselha” a como realizar cada uma das missões. Perdemos num dos bosses? Não faz mal, recomeçam daí e com possibilidade de saltar as cutscenes. Se alguma desta acessibilidade/facilidade se percebe, outra há que simplifica o que não se quer simplificado, na minha opinião.
Considerações finais
Paper Mario: The Thousand-Year Door é um remake lindo e estranho de morrer, com visuais que mostram ainda a potencialidade fina de uma consola velhinha, mas que floresce com este estilo de arte; uma escrita que se estranha, mas depois se entranha e com combates que parecem ser repetidos, mas que se tornam cada um deles numa possível experiência única com vários fatores que as podem influenciar. Muitas (talvez demasiadas) personagens, muito andar para trás a e para a frente, mas nada que belisque o legado do original.
Paper Mario: The Thousand-Year Door é tudo aquilo que o original é, mas muito mais. E nunca perdendo a sua identidade.
N.R.: A análise a Paper Mario: The Thousand-Year Door foi realizada numa Nintendo Switch com uma cópia do jogo cedida pela Nintendo Portugal