Reza a lenda que bastou apenas meia-hora com um protótipo do OlliOlli original para que um executivo da divisão Playstation ficasse rendido ao conceito, não tardando a convencer a pequena equipa da Roll7 a lançar o título na Playstation Vita. Passaram perto de oito anos e chega-nos agora a terceira incursão da série, OlliOlli World. E tal como aquela decisão comercial que permitiu ao jogo indie cunhar o seu espaço na indústria, a primeira meia-hora é o suficiente para colocarmos o capacete e joalheiras, agarrarmo-nos à tábua com rodas e ficarmos viciados num loop de manobras loucas.
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A proposta que OlliOlli nos traz é simples. A partir de uma perpectiva em side-scroll, avançamos a bordo de um skate e somos incentivados a sacar manobras por corrimões, escadas e rampas. É, fundamentalmente, um jogo de plataformas que se concilia com o género desportivo em questão. Os dois antecessores ficaram célebres, em grande parte, pela sua dificuldade acima da média e pela sua estética em pixel art (com maior evidência no primeiro). OlliOlli World mantêm a base que funcionou tão bem até aqui, e em simultâneo, evolui os restantes elementos adjacentes.
Um Kickflip abençoado pelos deuses
Essa evolução sente-se logo a partir dos momentos iniciais. Existe agora toda uma mitologia criada em torno do skateboard. Entramos em Radlandia, uma ilha que parece ter saído de um subconsciente de alguém obcecado pelo skateboard e sob efeito de substâncias psicadélicas. Na verdade, foi criada pelos cinco deuses do skateboard e estes procuram o próximo Skate Wizard, alguém capaz de dominar as técnicas divinas e ascender ao paraíso de qualquer skater, Gnarvana.
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Esse herói fica a cabo do jogador, através do inventário de personalização. Escolhemos a tábua, as rodas, o penteado, a roupa e os acessórios e estamos prontos a deixar a nossa marca. Ou estatelamo-nos no chão. Um grupo de personagens simpáticas irá acompanhar as nossas peripécias e falhanços e vão estar sempre lá para nos motivar e fazer pouco da nossa aselhice, tal como um autêntico grupo de amigos. Entre piadolas dignas de um pai orgulhoso e uma paixão delirante pela arte do skateboard, o ambiente de camaradagem sente-se do início ao fim. No entanto, no início de cada nível existe sempre algum diálogo entre o grupo e a certa altura, tornam-se enfadonhos.
Fácil de pegar, difícil de largar e domina
Por mais que a adição de um fio narrativo seja meritória, não passa de um pretexto pouco desenvolvido. É em cima do skate que queremos realmente estar.
Os analógicos assumem um papel predominante na realização dos inúmeros truques, incluindo o salto. A lista é extensa, abrangendo manuals, grinds ou grabs. Assim que assimilamos as bases, há sempre um novo truque a descobrir, envolvendo muitas sequências dos analógicos. O sucesso traduz-se numa maior pontuação e as combos são a chave. Por exemplo, ao deslizar num corrimão, efectuar um truque e voltar a deslizar noutro corrimão, ganham uma combo generosa. A ideia é fazer o maior possível de combos sucessivas, isto se quiserem competir nos leaderboards ou acumular as melhores pontuações.
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A apresentação 2D dos antecessores deu lugar a uma maior tridimensionalidade em OlliOlli World, uma perspectiva 2.5D. Para além do novo glamour visual, essa mudança introduz novas mecânicas, como os wallrides. É como deslizar de skate numa parede, um elemento que eleva ainda mais a diversão. A nova perpectiva introduz caminhos secundários, em que ao toque de um botão, podem mudar de “caminho” em determinados pontos.
De skate até Gnarvana
O ecrã principal mostra-nos o mapa do mundo, que se encontra dividido em cinco distritos. Cada um apresenta o seu bioma próprio e serve como uma espécie de paraíso de skateboard do respectivo deus. Há uma área florestal em que árvores passeiam por um lago e onde temos uma competição com um urso que desce um rio em cima de uma boia. No distrito do deserto, enormes esqueletos de alguma criatura ancestral e ovni´s semi-enterrados preenchem as dunas. Neste mundo, qualquer ambiente serve como parque de skateboard, o que cria uma série de paisagens únicas, que se diferenciam de outros títulos do género. Os visuais são coloridos, chamativos e retiram muita inspiração de desenhos animados. Contribuem para um mundo vibrante e de maior escala, superando qualquer esforço dos jogos anteriores.
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Ao concluírem a divertida campanha principal, ganham acesso à Gnarvana League e Gnarvana Portal. A primeira consiste na competição assíncrona entre jogadores pelas melhores pontuações nas leaderboards. A segunda passa por tentar a melhor pontuação em níveis aleatórios, adaptados ao respectivo nível do jogador. Se a vossa veia competitiva não estiver fervida o suficiente, podem também repetir um nível da campanha e tentar superar a pontuação de um rival.
Uma nota ainda para o som. A banda sonora, que pode ser alterada em tempo real e à mercê do jogador, é relaxada e captura o ambiente descontraído de um grupo de apaixonados pelo skateboard. As sonoridades electrónicas aguçam o ouvido e atenuam as quedas, que não foram poucas. Na versão de Playstation 5, o microfone embutido no Dualsense produz um efeito delicioso. É quase palpável a aterragem do skate no chão e o roçar de metais.
Considerações Finais
OlliOlli World é um título fabuloso, cheio de personalidade e que atinge o equilíbrio perfeito na dificuldade. Com a folga adequada aos jogadores mais casuais e sem descurar no desafio procurado pelos mais exigentes, corre-se o risco de perdermos horas sempre que utilizamos a dissimulada frase “só mais um nível”.
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Mesmo que falhemos algum salto ou truque, podemos regressar ao início do nível num instante. O ritmo de jogo é veloz e a frustração nunca se chegou a instalar, já que a culpa do falhanço sempre se sentiu, única e exclusivamente, minha.
Sejam fãs de skateboard ou não, OlliOlli World é uma das melhores surpresas da primeira metade do ano.
N.R.: A análise a OlliOlli World foi realizada numa PlayStation 5 com acesso a uma cópia do jogo cedida pela BestVision PR