NIGHTSLINK – Análise

Espero por ele. Impacientemente. Ele é só o mensageiro, o transportador. Preciso daquilo que ele tem. Que me traz. A cassete. Preciso de ouvir, de sentir-me bem. O mundo são só as quatro paredes de uma casa mal amanhada num prédio quase abandonado, com inquilinos como eu, que esperam pelo mundo melhor que ele traz em forma de cassete.

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O som quando se carrega no play… Faz parecer que tudo vai ficar bem quando sabemos que não vai. Nada mais interessa. O teto abre, o corpo flutua. A vida recomeça e eu renasço com o tinido ranfonho da fita. Até que para e o corpo reentra no marasmo dos dias que se seguem uns aos outros, iguais uns aos outros. E eu espero por ele novamente. Com mais uma cassete. Com mais um mundo novo.

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I’m just the messenger…

Isto podia ser perfeitamente a reação de algumas das personagens com que nos deparamos em NIGHTSLINK, jogo que vai ser lançado na Steam por Abel Neto, um dev português que parece ter usado os tempos de pandemia para espantar demónios da melhor forma, isto é, criando algo que os inclua e que lhe permitisse expulsá-los do seu interior.

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Citando o criador, NIGHTSLINK tem uma premissaoriginal: o jogo conta a história de um estafeta encarregado de gravar, transportar e entregar cassetes de áudio a um prédio habitado por indivíduos solitários e estranhos. Parece um trabalho entediante, mas a cada distribuição a nossa personagem vai conhecendo um pouco mais das pessoas a quem entrega estas cassetes mesmo sem nunca as ver. Bate-se à porta e entrega-se a dose diária de audiografia, como se cada uma destas vozes com que contactamos sofressem de uma adição. Algumas demonstram mesmo isso. Outras ainda fornecem informações sobre o que se passa e há ainda quem avise e ameace este mero distribuidor de serviços.

Os dias passam, o mistério adensa-se

Como NIGHTSLINK é curto e algo repetitivo, não vou referir mais nada sobre o que acontece ao longo dos dias de entrega e convivência momentânea com seres que vivem atrás de cada porta que visitamos. Mas ficam várias respostas por responder e as que mais me deixam perplexo são… O que consta daquelas cassetes? Que imenso poder é transmitido através de um ficheiro de som? O que fará sentir aqueles que sobrevivem religiosamente esperando por mais uma entrega delas? Sem resposta.

Graficamente não é nenhum esplendor, mas todo o negrume e o silêncio que emana daquelas paredes, das curtas viagens de mota até aos locais de entrega, criam sem dúvida um ambiente pós-apocalíptico que ressoa de forma verosímel.

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Os efeitos sonoros, bem como a música que acompanha a espaços NIGHTSLINK, funde-se na perfeição com aquele ambiente pesado e taciturno, criando pequenos momentos de tensão em comunhão com o desenvolver da curta narrativa aberta.

Considerações finais

NIGHTSLINK pareceabordar temáticas que estão bastante presentes em nosso redor. A solidão, o vício, a dependència, parecem transparecer em tudo que é dito e não dito neste pequeno conto audiovisual.

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Mas sabe a pouco. E fica aquele amargo de boca de ter tanto para perguntar e poucas respostas se obterem. Fica a ideia para se continuar através de capítulos, quem sabe?

Quem diria que vinte minutos da nossa poderiam suscitar tanta interrogação? Ou se calhar, fui eu que levei  NIGHTSLINK demasiado a sério…

Importa ainda referir que NIGHTSLINK será lançado no dia 24 de agosto e pode ser adquirido na loja Steam pelo valor de $3,99.

Jogo/experiência portuguesa que merece ser explorada, apesar da sua brevidade, com um conceito inovador e com metáforas sobre a vida de hoje em dia para retirar.


+ Ambiente taciturno
+ O som completa a experiência
+ Diálogos curtos, mas bem conseguidos

– Vivencia muito curta
– Muitas perguntas que ficam no ar…

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N.R.: A análise a NIGHTSLINK foi realizada em Windows PC com acesso a uma cópia do jogo gentilmente disponibilizada pela Noiseminded

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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