Loot River – Análise

Se alguma vez me tivessem dito que iria jogar, um dia, um híbrido entre Tetris e Dark Souls, dificilmente acreditaria. No entanto, é exatamente isso que o esforço conjunto entre a SUPERHOT PRESENTS e a straka.studios, Loot River, traz à mesa: um roguelite que oscila entre puzzles e combate, sempre envolto na sua atmosfera pixelizada, que assenta em runs relativamente rápidas para o desenvolvimento tanto da sua história, como da sua inerte obscuridade.

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Nove vidas + ∞

Sem grandes complexos em abordar temas como imortalidade ou morte, mas insinuando apenas aquilo que, inevitavelmente, conseguimos conjurar, a história de Loot River revolve em torno da jornada que assumimos como exploradores. O objetivo é chegar onde nenhum outro explorador conseguiu chegar; desde o início da nossa demanda, em Sunken Village, é possível encontrar notas deixadas pelos nossos antecessores que parecem prever o nosso incontornável fim. De facto, é impossível evitar a nossa derrota, mas é exatamente isso que propela a narrativa. Volta, meia volta, voltamos a um local denominado como Sanctuary, com uma misteriosa rélica ao centro, após sermos retornados à vida (na realidade, somos imortais, mas vocês percebem a ideia). Apenas através de repetidas runs, que nunca são iguais à anterior, é que é possível descobrir os segredos que Loot River nos reserva.

O combate contra as hordes de inimigos que nos esperam (também conhecidos por The Legion) é no típico estilo de hack’n’slash, onde recorremos ao poderio de variadas armas para garantir o nosso êxito durante o confronto. Naturalmente, existem recompensas que nos serão úteis no decorrer das várias runs, ainda que não sejam garantidas em todas elas; nomeadamente, as duas moedas de troca no jogo, Gold e Knowledge. Enquanto que é possível encontrar Gold com relativa facilidade, a existência de Knowledge é relativamente escassa, e, o pior, passível de perder após uma derrota com algum boss que nos dificulte mais a vida. Somos remetidos, novamente, para The Sanctuary, onde, após amassar currência suficiente, podemos trocar as nossas poupanças por melhores armas, melhores items de armadura, feitiços e poções.

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O nosso progresso encontra-se dependente destas melhorias, uma vez que, a determinado ponto do jogo, não conseguiremos avançar mais sem fazer o investimento. Como seria de esperar, cada boss tem a sua propria mecânica e modo de abordagem diferente, pelo que não resulta tentar a mesma coisa duas vezes seguidas.

Tetris apocalíptico

A resolução de puzzles é também uma parte fulcral de Loot River, uma vez que a sua resolução nos permite movimentar pelo rio abaixo, através das ruínas e corpos resultantes de um evento cataclísmico que ali tomou lugar, de forma a podermos libertar os variados biomas que nos esperam do sombrio poder da Relic. No entanto, depois de juntarmos as peças (pun intended), facilmente compreendemos como ultrapassar estes óbstaculos, tornando a essência diferenciativa de Loot River redundante neste aspeto, apesar de influenciar, por várias vezes, o combate. Os puzzles tornam-se relativamente similares, parecendo repetir-se ao longo das variadas runs geradas, o que torna a jogabilidade algo morosa passado umas horas.

A direção artística de Loot River é notável; a vista isómetrica dos ambientes criados em pixel art (feitos à mão, já agora) não peca pela falta de promenores e detalhes, que nos transportam para um fascinante e vaticínio mundo, onde mergulhamos, profundamente, na obscura atmosfera da história, tal como é suposto. Ao longo do nosso progresso, é possível observer que todos os biomas que visitamos estão interligados entre si, com pequenos apontamentos estrategicamente espalhados pelo mapa a permitir (ou, até mesmo, incentivar) o jogador a indagar o que terá acontecido naquele local.

Considerações finais

Loot River apresenta fortes argumentos para ser experimentado, porém, os motivos para não ser levado até ao fim são prevalecentes. Sendo fã de dungeon crawlers não muito diferentes (como Hades ou Children of Mortar) e não muito interessada em jogos soulslike, senti-me algo dividida enquanto dava o meu melhor para não morrer (outra vez).

Aquilo que, ao início, vi como um desafio, com inimigos mais fortes e combates mais exigentes, rapidamente se tornou frustração, dando por mim a largar o jogo após sessões relativamente curtas. Recorri à técnica de button smashing em algumas partes e não tenho orgulho nisso. A repetição de runs parecia infinita e a falta de loot não ajudou; por vezes, demorava horas até voltar a ter algum tipo de recompensa e, obviamente, o meu progresso era barrado. A resolução de puzzles foi, efetivamente, divertida, mas foi sol de pouca dura. A limitada variedade de combinações levou o melhor de mim, e, como alguém que largamente grativaciona por histórias e mecânicas particularmente cativantes, fui gradualmente perdendo o interesse em pegar no jogo novamente. O desafio continuava lá, mas a motivação estava depauperada, a este ponto.

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Loot River deixa aquele sabor agridoce na boca; aquela sensação de que o potencial absoluto que o jogo poderia ter não foi explorado na sua totalidade. Pode ser simplesmente um caso de expectivas demasiado altas; é fácil cair no erro de achar que um jogo tem de corresponder ao que achamos que deve ser. Não sendo um jogo para mim, não deixaria de recomendar, nem que seja apenas pela experiência que proporciona. Por isso, arranjem equipamento bom, preparem-se para morrer e, bem… git gud.


+ Ambientes em pixel art belíssimos
+ Interessante mistura de estilos, principalmente para fãs de soulslike
+ Abordagem aos géneros inovadora

– Falta de variedade nos puzzles que vão surgindo
– Progressão do jogo pode tornar-se, por vezes, frustrante

N.R.: A análise a Loot River foi realizada numa Xbox Series X, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Plan of Attack.

Ana Costa: Designer armada em redatora de videojogos, viciada em café e JRPGs. Destruiu o site uma vez.
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