Embora não seja o meu estilo preferido de RPG’s, a Nintendo e a Intelligent Systems transformaram a saga Fire Emblem num gigante devorador de recordes de vendas em diversos países e continentes. Mas com Fire Emblem Engage há claramente uma ideia de celebração do passado que surge nas personagens de antigos jogos que fazem um regresso triunfal e que farão as delícias dos mais antigos e inveterados planeadores de ataques aos quadradinhos, mas com uma série de novidades e opções que podem ser divisivas.
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Na minha opinião de conhecedor limitado da série, acho que há aqui demasiados ingredientes para poder considerar esta obra magnânima. Há muito para fazer, alcançar, mas não são assim tantas as que nos ficam na memória. Mas as que ficam marcam. Vou tentar explicar porquê.
Ponto a ponto:
Colgate, amnésia e o lado negro da força
Alear é o nome do nosso herói/heroína que se destaca pela horrível escolha capilar dada que se associa a uma determinada marca dentífrica, que acorda de um sono de mil anos sem qualquer memória do seu passado. Rapidamente é elucidado que se trata de um Dragão Divino de Elyos, que parece ter que reviver o seu combate mortal com Sombron, um dragão que foi derrotado mostrando agora sinais de ressurgimento, tal como as suas forças corruptas.
Alear tem que juntar doze Emblems, anéis que contêm o espírito de heróis de outros mundos espalhados pelos quatro reinos do mundo, que se devem unir para derrotar Sombron uma vez mais.
Original? Não. Bem sei que o foco desta saga sempre foi na profundidade da estratégia no combate e não na narrativa, mas ainda assim abusa-se da dicotomia Bem/Mal que simplifica em demasia. Parece haver pouca intensidade no discurso usado pelas inúmeras personagens, algumas delas que mereciam outro tipo de destaque, tendo em conta que são alguns dos favoritos dos fãs. Não se conseguem sequer criar ligações consistentes de afeto e respeito com os Emblems, personagens emblemáticas (passe a redundância) e com poderes que os tornam personagens incríveis, mas o poder da ligação com o jogador… Esse não acontece.
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Há alguma emoção em certas cenas, mas acabam por vezes por passar como problemas bélicos de famílias reais pouco entusiasmantes e que não nos fazem investir na trama e nas personagens.
A enxurrada de gente que aparece em catadupa e as suas intervenções genéricas fizeram-me sentir completamente perdido. Há formas de melhorar essa comunicação no jogo com algumas das personagens mais marcantes, mas isso implica um investimento de tempo enorme no jogo e a recompensa é claramente curta e insuficiente. Fire Emblem Engage quis demonstrar que as largas dezenas de personagens do antes e do agora cabiam neste título, mas apenas o tornam confuso e pouco significativo.
A dança do quadrado e o baile do triângulo
No que diz respeito ao combate, Fire Emblem Engage faz rejubilar os fãs. Muitas missões, na estória principal e no conteúdo secundário, com grande variação de mapas e de objetivos. Podemos ter aos nossos serviços mais de dez unidades que convém variar na sua utilidade em cada um dos mapas e dos inimigos específicos a enfrentar. Há que esperar sempre reforços dos inimigos em cada uma das missões, o que torna cada batalha longa e sente-se a urgência de proceder a cada escolha correta. Há que eliminar todos os inimigos ou um em particular, com cada arma manejada a derrotar e a ser derrotada por outra, formando um triângulo militarizado. Nada de novo aqui, mas o jogador menos investido ficará a saber que as armas não se partem, mudança que adorei, mas que abominará outros. Os leais súbditos do permadeath de antigamente também não ficarão satisfeitos aqui.
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Mas a novidade que mais agrada no combate é claramente a inclusão do sistema dos Emblems, em que cada anel pode ser usado por uma unidade à medida que os vamos colecionando, permitindo a habilidade de “Engage”, que torna essa mesma unidade mais forte e com melhoria de atributos por três turnos. E se continuarmos a juntar o mesmo Emblem à mesma unidade de combate, elas vão criar laços e poderão ascender a diferentes habilidades e impulsos permanentes. Tal poder torna imperativa a escolha de quando o usar, pois sem serem de pujança quase divina podem ajudar a salvar-nos de situações mais complexas sem desequilibrar a balança de forma fácil para o nosso lado. A justeza do combate tático mantém-se, e isso é fundamental nesta obra.
Tudo está no céu e nada lá se passa
Pena que os combates tenham de acabar em Fire Emblem Engage, pois rapidamente voltamos para Somniel, a nossa base/refúgio no meio das nuvens. Há aqui um sem número de atividades desinteressantes para realizar: recolher ingredientes, mini-jogos que são mega seca, conversar com o sem número de unidades que têm apenas uma frase para nos dizerem… O problema é que a realização destas tarefas mundanas e aborrecidas vão permitir-nos criar laços e melhorar as estatísticas das diferentes personagens. E bem preciso é, pois alguns das últimas missões não perdoam o erro ou a má preparação. Assim, somos obrigados a passar inúmeras horas em atividades que nada satisfazem. O jogo obriga-nos a passar tempo infindável com ele, mas esse tempo não voltará para mim. Nunca. E eu já sou uma pessoa velhinha.
Está bonito, sim senhor!
Algo que é inegável em Fire Emblem Engage é o desempenho e a beleza na já velhinha consola nipónica, seja na versão handheld ou na televisão. A cor e o movimento nos excertos cinematográficos parecem saídos de uma qualquer série de animação japonesa. As personagens e os visuais destacam-se pela vida que lhes é dada também pelo facto de todo o diálogo ser vocalizado num inglês competente e que traz uma outra camada de envolvência ao jogador.
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Soa bem e é bonito. Agora é só desligar as legendas e deixarmo-nos ir pelos sons inebriantes de gritos de batalha demasiado educados…
Considerações finais
Fire Emblem Engage tem todo o lado espampanante e envolvente que a saga habituou quem a venera. Com a envolvência de novos e velhos conhecidos e com um combate imaculado pelo tempo e precisão que exige, é certamente uma obra que atrai massas. Porém, com o seu lado narrativo pouco evoluído e desprovido de verdadeiro interesse, desvirtua um pouco a obra no seu todo, mas que não deixa de ser um manancial de bem trabalhar um género que sofre agora um ressurgimento com possíveis e confirmados remakes, mas que andou largos anos na ribalta à custa da saga Fire Emblem. Perdoem-se as suas falhas.
Escrita pobre, visuais incríveis e combate como sempre, Fire Emblem Engage não envergonha nenhum fã de RPG’s táticos.
N.R.: A análise a Fire Emblem Engage foi realizada numa Nintendo Switch com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Nintendo Portugal.