Final Fantasy XVI – Primeiras impressões (demo)

A saga Final Fantasy da Square Enix sempre teve um lugar especial no meu coração de jogador. E sim, jogar FF VII na minha velhinha PlayStation original está nas minhas memórias de jogador, ocupando um lugar de destaque. Cliché? Talvez. Sempre me considerei mais como alguém que gosta de uma estória estruturada e bem contada a ação frenética e sem desenvolvimento de personagens ou uma boa cola argumentativa que una tudo sem percebermos que tudo aquilo está colado. Essa é a razão que no meu ver das coisas torna este jogo e esta saga incomum: a forma como tudo nos é contado, sem nos ser dado à boca, sabendo nós que da manta de retalhos que a premissa de cada jogo apresenta, sai geralmente algo que se tem prazer a entender e descobrir.

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Mas a relação com estas obras tem tanto de fascínio como de tumulto e até alguma indiferença, que é o pior que podemos sentir por um videojogo. Joguei compulsivamente FFIX mas o que se seguiu deixou-me desmotivado e desconfiado. Só voltei a dar uma oportunidade à saga numa das interações do 13º capítulo e sabemos como isso correu bem, certo?

Depois deste hiato de anos e de ter tentado completar Final Fantasy VII Remake, a mudança de paradigma não me convenceu, e ver algumas das minhas personagens favoritas de sempre envolvidas num hack and slash em Midgar entristeceu-me.

Instalei a demo de Final Fantasy XVI porque achei que devia à saga e a mim próprio o momento de redenção, em que tudo ia mudar e o amor ia perdurar, ou aceitamento, pois como todos nós, crescemos e Final fantasy deixaria de me visitar em casa porque o velho caquético em que me estou a transformar iria resmungar mais naquilo que se tinha transformado.

Duas horas e qualquer coisa depois, posso assegurar com alguma certeza, mas não sem um ligeiro aperto de coração, que talvez, TALVEZ, este possa ser o momento em que faço as pazes com a obra, saindo debaixo da pedra onde estou há anos. Razões abaixo:

O mundo de Valisthea está esplendoroso. Numa mistura entre mitologia e Idade Média, este tempo negro da história destaca-se devido a uma mudança nunca vista por mim na saga: o lado negro. Desde insinuação sexual, violência explícita, sangue que pulula de vítimas traçadas, o praguejar(!) de palavras que farão qualquer criança do Coro de Santo Amaro de Oeiras corar… Sim, está diferente, muito diferente, mas em nenhum momento pareceu gratuito, forçado. Há um romper de estereótipo fofinho, uma caixa cheia de Chocobos amigáveis que se rompe e é esmagada e isso pode afastar alguns jogadores, mas vai certamente açambarcar muitos outros que se vão identificar com tais temáticas.

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A estória parece apresentar alguns lugares-comuns, com filhos rechaçados, mas servis, a fragilidade que o poder sem limites traz e uma luta entre diferentes povos, criaturas e semi-deuses em estatuto. A relação entre Clive, o filho mais velho do Arquiduque de Rosaria e Joshua, o caçula que tem dentro dele o poder de invocar o titã Phoenix parece ter aqui laivos de uma ligação que vai para além da inveja que o filho mais velho e totalmente ignorado pela mãe por não ser o herdeiro que ela esperava. Sente-se que a ligação entre coragem, proteção e amor puro e despretensioso entre estes dois irmãos vai ser um tema bastante explorado e parece encaminhar-se numa direção certeira.


Temos também dois períodos temporais nesta pequena sessão de demonstração: a crua e dura realidade de reinos e titãs em batalhas sanguinárias, mas interessa-me mais falar sobre quando recuamos 13 anos no tempo e damos por nós em Rosaria, assistindo aos primóridos dos nossos heróis e a um predestino de guerra e destruição já sentido no ar, nas conversas e num rei que parece pressentir uma traição…

Até agora tudo bem, certo? Para mim também. Mas falta falar do sistema de combate. Sem querer ser exaustivo, as mecânicas pareceram-me neste curto período fáceis de aprender mas serão certamente difíceis de dominar. A dicotomia espada/magia é fluída em Clive e aparenta ser bastante recompensadora. Há uma plétora de habilidades para desbloquear e será divertido combiná-las para obter os melhores resultados em combate.

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Temos algumas lutas com mini-bosses que são prazerosas, mas não se comparam a podermos controlar a Phoenix. O sentido de magnitude sente-se e asssemelha-se a uma boa experiência cinematográfica. Gostei muito!

Dia 22 está aí e penso poder dizer com toda a certeza, apesar de saber que posso vir a arrepender-me, pois o meu coração magoado não me permite pensar doutra forma, mas… Final Fantasy, estou de volta.    

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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