Evil Below – Análise

Evil Below foi o jogo vencedor da edição de 2020 dos Prémios PlayStation Talents Portugal, sendo também o segundo jogo a ser lançado dentro do programa que tem como objetivo apoiar a produção de jogos em Portugal.

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Para a análise a Evil Below criamos dois textos, um da autoria de Armando Sousa e outro de André Santos, para mostrar que duas pessoas, a escrever para o mesmo meio podem ter experiências e opiniões diferentes. Ou não.

Texto por: Armando Sousa

Num dia como outro qualquer, estamos num carro com o nosso filho quando temos um acidente. Ao acordar, a nossa visão está distorcida e lembramo-nos de pouco do que sucedeu no acidente, mas o nosso filho desapareceu. Encontramo-nos num local totalmente diferente de onde aconteceu o acidente e ouvimos sussurros do nosso nome. Seguimos essa pista e entramos num submundo cada vez mais estranho, uma floresta enevoada, aldeias abandonadas e cavernas claustrofóbicas.

Evil Below foi o vencedor do PlayStation Talents para melhor jogo de 2020, na sexta edição do certame. De José Ortega e Fábio Barbosa, os dois membros fundadores do Fire Raven Studios.

Submundo de horror

A primeira coisa que salta à vista em Evil Below é o ambiente que nos quer transmitir, a floresta com algum nevoeiro, com casas destruídas e tem tudo para ficarmos com aquele constante sentimento de inquietação.

Mas não ficamos, o jogo não faz o suficiente para nos agarrar e manter a ilusão. Tem criaturas bem construídas para o género de jogo, as notas espalhadas com mensagens crípticas, mas depois o resto não ata o que o que quer ser.

Em termos visuais, Evil Below é mediano no máximo, com muitas das texturas sem definição e bastante deslavadas, entre npc’s e inimigos os modelos não são muito coesos. Em alguns, o seu rosto não é nada convincente (o primeiro npc que encontramos é simplesmente hediondo) e encontrei algumas criaturas que os membros têm formas quase retangulares. Mas encontrei alguns modelos convincentes, com imaginação e que achei que se enquadrava no espírito, bastante assustadores. Irmão gémeo de Eduardo mãos de tesoura, estou a olhar para ti!

De pá em riste ou de tijolo na mão?

A primeira arma que temos ao nosso dispor é uma pá, para que o tal primeiro npc que encontramos nos ensine a defender e fazer parry, algo que honestamente errei o timing demasiadas vezes, mas mais à frente percebi, ao estar rodeado de mais inimigos, que o combate é simplesmente muito fraco. Não se sente que os golpes batem onde devem, brandi incessantemente a arma depois de acertar com o parry e morri em três ou quatro golpes enquanto eles precisam de muitos mais. A chave é simplesmente fugir, a nossa saúde regenera e voltamos à carga. Podemos usar itens, mas já lá vamos.

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Algumas das armas que apanhei sendo a pá a primeira, rapidamente encontrei uma faca, um machado, existem pilhas de tijolos na primeira área que também os podemos atirar e uma pistola. E aqui está uma picuinhice minha, que não achei nada plausível na história. Acabamos de ter um acidente de carro e o nosso filho desaparece, acordamos “noutro mundo”, semelhante a uma localização medieval, e dos primeiros itens que podemos ter, são balas para uma arma. Estranho no mínimo.

Opções estranhas

O mapa é semiaberto e ter uma referência para onde nos deslocamos pode ser confuso. Logo no inicio é-nos pedido para encontrar e tocar em sinos para abrir uma passagem para a próxima área. Depois de explorar e tocar em dois sinos, senti-me perdido porque não temos mapa nem pontos cardeais para nos orientarmos. Demorei tempo demais a tentar achar os restantes sinos e, entretanto, ia morrendo devido ao terrível combate.

Usar itens para nos curar é estranhamente complicado, não há uma maneira rápida de simplesmente usar o que temos, como os jogos Souls por exemplo. Enquanto fugimos às criaturas, temos de abrir o menu, escolher uma maçã e selecionar a mesma para nos curarmos, e a ação não pára.

Evil Below tem um modo de performance e aconselho vivamente a usá-lo. Preferi começar no modo normal para usufruir o mais possível da qualidade gráfica, que tem pouca, mas é quase nauseante jogar com o movimento que o jogo apresenta. Em modo performance é bem mais fluido e não notei assim muita diferença na apresentação.

Uma das qualidades apregoadas no marketing é podermos usar um microfone para algumas ações, como abrir um portão, mas reconhece barulho, não palavras. Eu disse abre-te sésamo e outras coisas que não posso escrever aqui, e o jogo reconhece. Cabe-vos determinar se, isto é, qualidade ou defeito.

Entendo que Evil Below foi feito por duas pessoas e que pode ser o primeiro jogo da equipa e como rampa de lançamento e aprendizagem, sem dúvida que há coisas boas aqui. Mas, infelizmente, é quase injogável. Adoro jogos de terror, foi difícil acreditar em todo o ambiente à minha volta, quando nos dão munição imediatamente ao acordar num estranho mundo. Há decisões ao nível de mecânicas que são quase incompreensíveis. Preferia que o jogo fosse mais linear e nos guiasse pela aventura, porque a história é sempre rainha reste género.

Há jogos que são feitos por equipas pequenas com muito sucesso e tenho pena de não poder dizer o mesmo de Evil Below que acho que houve demasiada ambição.

Texto por: André Santos

Quando comecei a jogar Evil Below sabia que o jogo tinha tudo para me agradar, principalmente por estar dentro de um dos meus géneros favoritos. O terror, seja em jogos, filmes ou até em livros, sempre me chamou à atenção, sempre que há oportunidade para mergulhar numa nova obra deste género podem contar comigo. E, na verdade, o jogo criado por José Ortega e Fábio Barbosa, dos Fire Raven Studios, começa muito bem.

Uma atividade do quotidiano que, sem grande explicação, nos leva para o lado de lá. Já não estamos vivos, mas achamos que merecemos mais tempo no mundo e, por isso, levamos à letra as palavras de um estranho que nos diz, sem nunca nos ouvirmos a perguntar alguma coisa, que há uma forma de voltar ao mundo que conhecemos, mas que para tal temos perigos para enfrentar.

O microfone

Ao começar a aventura temos o primeiro encontro com algo que torna o jogo diferente: a utilização do microfone no desenrolar do jogo. O primeiro encontro com tal tecnologia deixou-me desapontado, já que a única coisa que tive que fazer foi emitir barulhos sem nexo para que um portão se abrisse, não existindo um puzzle para resolver ou uma palavra certa para ser dita. Barulho aleatório chegava.

Mais tarde na aventura dei por mim a fazer barulhos como “pst pst” ou “OOOOOI” na tentativa de atrair inimigos, mas a verdade é que nada disto teve qualquer tipo de efeito e por muito que andasse atrás das criaturas a gritar, os meus gritos no mundo real não passavam para a floresta de Evil Below. Uma pena, já que obrigar o jogador a estar em silêncio absoluto ajudaria em muito a tornar o ambiente do jogo ainda mais pesado, criando tensão e, no fim, a deixar o jogador com algum medo de dar um passo em falso. Algo extremamente importante num jogo de terror.

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Durante todo o meu tempo com Evil Below foi raro o momento em que achasse que a implementação do microfone mudasse alguma coisa no jogo, isto mesmo indo aos menus para mudar a sua sensibilidade. O jogo não se tornou mais ou menos imersivo com esta opção ligado ou desligada. Uma pena.

Bem sei que o jogo foi desenvolvido para PlayStation 4, mas recorrendo ao microfone do DualSense nota-se que existiu um esforço de tornar o jogo mais apelativo para os jogadores com a mais recente consola da Sony. Tudo isto faz com que a fraca utilização do aparelho seja ainda mais contraditória, especialmente olhando para o facto do comando nem sequer emitir vibrações durante o combate. por exemplo.

O combate

O combate é, na sua totalidade, bastante simples. Se uma das primeiras coisas que apanhamos no jogo são dois tipos de munições, o que nos leva logo a perceber a existência de armas de fogo no jogo, grande parte do combate nas primeiras horas é corpo a corpo, com auxílio de uma foice, pá, tocha ou até de tijolos para arremessar aos inimigos. Este tipo de combate revelou-se extremamente injusto, muito devido ao facto da defesa existente não ser bem uma defesa, mas uma espécie de empurrão que deixa o adversário no chão, de joelhos, durante algum tempo (ou até lhe darmos o primeiro golpe, aí parece que acorda de um sono que lhe restaurou a energia).

Para além disto existe ainda a dificuldade em curar a personagem, já que para o fazer temos que ir ao inventário para comer uma maçã, mas tudo isto enquanto os Seres que nos atacam continuam bem ativos no jogo fazendo com que em vez da cura tenhamos a morte. Ao morrer somos levados para o último ponto onde gravamos o jogo, pontos estes que estão espalhados pelo jogo, mas nunca em abundância.

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Para além de tudo isto, temos ainda a incógnita de nunca saber o que esperar de um inimigo. Não porque a IA está no ponto, mas porque é inconsistente. Tanto temos inimigos (dentro da mesma classe) que nos podem matar com dois ou três golpes, como outros que nem reparam que lá estamos (como podem ver pelo vídeo abaixo). Esta incerteza também acontece quando atacamos, por vezes temos a sorte de matar as criaturas depressa, outras vezes nem por isso… e digo sorte porque é difícil de perceber se falhei os golpes por falta de habilidade ou simplesmente porque sim.

Importa ainda referir que o jogo tem dois modos, mas o único que interessa é mesmo o modo “perfomance”. Fora deste modo, o aspeto visual do jogo continua igual, mas o desempenho é terrível. Seja em simples caminhadas pelo mundo de Evil Below ou em combates mais rápidos, as quedas de frame rate são tão notórias que ao início conseguiram deixar-me enjoado (leia-se motion sickness).

O ambiente

É aqui que Evil Below consegue oferecer uma experiência positiva. O ambiente criado pelo Fire Raven Studios está bastante bom, o trabalho com feito com a luz nas diferentes partes de um mundo semi-aberto é realmente interessante e leva-nos a querer explorar o mapa mais e mais, sendo este o factor que me levou a querer conhecer mais do jogo.

A luz, o ambiente sonoro, a imensidão do mapa e a quase inexistência de HUD fazem com que a experiência de Evil Below tenha algum peso. Somos largados num mundo desconhecido, sem mapa e com um único objetivo: explorar o suficiente para conseguir voltar ao mundo que conhecemos.

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É esta exploração, em conjunto com um ambiente forte, o ponto alto de Evil Below. Pela falta de HUD às vezes pode tornar-se um pouco confusa, mas a verdade é que faz sentido ser confusa tendo em conta o que o jogo ganha muito ao desorientar o jogador, ao tentar descobrir o caminho, ao tentar descobrir o próximo passo, ficamos mais vulneráveis ao ambiente, a cada som e a tudo o que o jogo nos vai dando.

Tirando alguns dos modelos usados para os inimigos, Evil Below dá-nos o ambiente bem trabalhado e com detalhes muito bons. Sons de portas a ranger, os próprios passos da nossa personagem ou até mesmo o respirar quando estamos mais cansados, tudo pequenos pormenores que nos transportam para um jogo que podia ser bastante imersivo não fossem problemas noutras áreas.

O fim

É importante referir que o jogo é o primeiro de um estúdio jovem, que pode ser melhorado e que tem coisas que podem ser usadas para fazer algo muito melhor. Nota-se perfeitamente que falta algo, principalmente na parte da narrativa, para que Evil Below se torne naquilo que quer ser: um jogo de terror.

Importa referir que a nota que se segue foi a divisão das notas dadas pelos dois autores do texto.

Clica na imagem para mais informação sobre as nossas classificações

Mais e menos

Armando:


+ Existe algo que me atrai a jogos de terror e suspense

– Fraco a nível técnico
– Combate terrível
– Mecânicas datadas e incompreensíveis

André


+ Ambiente bem criado
+ Iluminação no ponto

– Narrativa pouco desenvolvida
– Combate sem pés nem cabeça
– Jogar sem modo performance é impossível
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