Com o advento das tecnologias, a escrita em papel e caneta tem sido relegada para segundo plano, em favor da utilização dos teclados. Dos limiares do século passado surgiu um dos géneros mais obscuros, os jogos de typing (ou ‘teclar’), sendo na sua essência produtos de cariz educacional. Alguns dos exemplos mais célebres do género incluem Mario Teaches Typing e The Typing of the Dead, spinoff´s de bem-sucedidas sagas que se materializaram em forma de sátira, aludindo o tom descontraído e algo aleatório que este tipo de videojogo tem apresentado.
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Em 2016, a Fishing Cactus injetou uma nova identidade no género através de Epistory – Typing Chronicles, uma produção que apostou na mistura de elementos de RPG, puzzles, exploração e uma história introspetiva. A mecânica de typing é o chamariz que interliga toda a experiência. Parece um género intrínseco ao PC, afinal um comando de consola anularia o propósito da sua existência. A produtora discordou e acaba de lançar um port para Nintendo Switch. Será que Epistory se transformou num título de longos Quick Time Events?
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Explora o mundo de papel e desembrulha
A resposta é ambígua e depende unicamente da vossa vontade em conectar um teclado à consola híbrida. O próprio jogo incentiva de imediato a sua utilização, mas por motivos práticos, o teclado não foi utilizado com a frequência desejada no decorrer desta análise, sendo assumidamente o método menos ideal.
Epistory dá-nos a conhecer a odisseia de uma escritora que se depara com um bloqueio criativo. O jogador encarna a musa, personagem imaginada pela própria, que se aventura por um mundo de fantasia feito de papel origami, na companhia de uma misteriosa raposa. Como um livro cujas páginas necessitam de ser folheadas, o mundo começa como uma representação da inexistência e cabe ao jogador desvendar, em sentido literal, o mundo diante dos próprios olhos. Os pensamentos da escritora/narradora complementam os passos da musa e tanto servem para expressar os estados de espírito de ambas, como para guiar o jogador na solução de enigmas e caminhos a percorrer.
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Como qualquer boa aventura, as forças corruptas manifestam-se na cruzada da protagonista e aqui os seus representantes são uma estirpe de insectos, tão ignóbeis que o mínimo contacto é morte certa. Cada criatura apresenta uma sequência de palavras (caso utilizem o teclado) ou de botões que têm de ser premidos. As sequências mais compridas pertencem aos inimigos mais fortes e os mais velozes detêm várias sequências, mas consideravelmente mais curtas.
Há medida que avançam, recebem feitiços de fogo, gelo ou eletricidade. Estes poderes conferem uma leve camada estratégica aos encontros. O fogo permite queimar a sequência de botões seguinte e são particularmente úteis contra os maiores inimigos. O gelo atrasa os insectos mais rápidos, permitindo focar o ataque no mais poderoso.
Quando não estão a ser atacados, atacam vocês o desconhecido, na forma de dungeons. De grutas a desertos, passando por cidades esquecidas pelo tempo, os momentos de maior melancolia acontecem quando a solidão se instala. Tal como o combate, os puzzles são de fácil execução. A maioria são, na verdade, demasiado limitados mecanicamente. As soluções limitam-se muito a pisar certas superfícies ou queimar obstáculos, o que torna o design dos níveis algo enfadonho.
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A terceira parte da receita presente em Epistory – Typing Chronicles prende-se com os upgrades possíveis de adquirir. Podem melhorar as labaredas, intensificar a eletricidade, correr mais rapidamente ou guardar as localizações das dungeons no mapa. Sem ser propriamente complexo, os elementos de RPG proporcionam uma sensação de progressão razoável.
Considerações Finais
Epistory – Typing Chronicles descolou-se do seu habitat natural no PC e rumou em direção à Nintendo Switch numa união invulgar. De teclado, o jogo torna-se um mimo para os fãs de um género discreto e de raízes educacionais. Limitados aos Joy-cons ou comando, é quase inevitável a sensação de um jogo em que os Quick Times Events se revelam a espinha dorsal da jogabilidade.
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Existem também algumas concessões técnicas, em especial quando a performance se arrasta desajeitadamente e a história nunca chega a atingir momentos memoráveis. É um título competente, sem nunca atingir nenhuma faísca de excelência em qualquer dos seus elementos.
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N.R.: A análise a Epistory: Typing Chronicles foi realizada numa Nintendo Switch, com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela qubicGames.