Endless Ocean Luminous

Endless Ocean Luminous – Análise

O fundo do oceano tem aquela capacidade inata de nos relaxar, de nos catapultar para tempos introspetivos de meditação, enquanto se pode vislumbrar um mundo sem som, onde podemos ser apenas mais um membro dos que respiram por guelras, se comem uns aos outros e tornam todos os movimentos lentos e estilizados, como que um voo em câmara lenta. Endless Ocean Luminous tenta recriar essa paz e tranquilidade, enquanto tentamos conhecer uma multitude de espécies que habitam os setenta por cento do nosso planeta.

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O jogo perfeito para relaxar, não é? O problema é quando acordo pela quarta vez com a consola ligada, babado nos cantos na boca e sem me lembrar do que aconteceu. Relaxante em demasia? Elaboro em seguida.

O mar consome Xanax

A premissa é simples: somos um navegador envolvido num projeto que tem como objetivo documentar um mar fictício, catalogando as suas centenas de habitantes, dos mais corriqueiros aos que habitam o mais profundo. Há muita informação para recolher: dados biométricos, comportamentos, tudo tem que ser registado. Esta é talvez a parte mais agradável de Endless Ocean Luminous.

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Aquilo que deveria ser a mais representativa característica da experiência, explorar o vasto mar, é igual a uma dourada sem sal, a um choco frito sem maionese, a um Sporting sem Gyokeres: nadamos sem rumo procurando o que não aparece, e apesar de aparecerem ocasionalmente diferentes espécies, todas elas partilham os mesmos comportamentos. Parece que acabaram todos de sair duma sessão de taças tibetanas. Paz interior e exterior. Até os tubarões mais ferozes que apresentam descrições carregadas de violência, são na verdade grandes cachorrinhos aquáticos que não fazem mal ao plâncton.

Ainda assim não deixa de ser muito engraçado termos golfinhos a acompanhar-nos durante algum tempo ou até grandes cardumes que se movimentam a cada abanar de pés de pato. Mas quando nos abandona, rapidamente voltamos ao literal sentido de Endless Ocean Luminous – uma jornada sem fim e solitária.


Desafios por água abaixo

Para um jogo tão bonito e que recria as paisagens mais deslumbrantes do nosso planeta, Endless Ocean Luminous falta-lhe claramente substância e interatividade. Os mapas são criados pelo algoritmo, supostamente criando experiências novas e refrescantes a cada mergulho. Mas não é isso que acontece. As mesmas âncoras, os mesmos navios abandonados, variam por vezes os animais marinhos que vamos encontrando, denegrindo a experiência que se desejava única.

A luz (ou falta dela) desempenha um sentimento de terror e asfixia muito bem o ambiente conseguido à medida que vamos vasculhando cada vez com mais profundidade o mar desconhecido. O seu dinamismo ocupa até alguma importância no que vai acontecendo a partir de certa altura no jogo, mas como não há real sentido de perigo, pois Endless Ocean Luminous está desenhado para que assim seja, tudo se esbate na não geração de qualquer emotividade. Algo tão bem feito e tão pouco aproveitado.

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Os animais neste jogo são muitos, mas parecem clones uns dos outros no que diz respeito à sua personalidade. Tudo seria mais fácil com uma estória bem conseguida e parceiros que melhorassem a experiência. Sera, a nossa colega de inteligência artificial, lembra muito a assistente virtual da Apple, na fraquinha prestação e auxílio que nos faculta.

Se nos conseguirmos abstrair de todas estas imperfeições, temos muito que fazer. Mergulhar dá trabalho. Por vezes temos pequenos pontos identificados para procurarmos informação sobre determinada espécie. Há que juntar certas criaturas com os seus cardumes, fazer com que determinados animais façam certos percursos, mas tudo é mais adivinhado do que planeado. Isto acontece principalmente quando aparece um quadro misterioso, um tablet com 99 quadrados, cada um com um desafio. Resgatar tesouros, resolver puzzles e adivinhas, ou ainda desafios únicos (UML), que envolvem sinais biométricos diferentes ao longo da exploração. Estes são extremamente difíceis, pois não têm quaisquer pistas e tornam quase impossível a sua execução sem a ajuda da vertente multiplayer.

Olááááááá… Adeeeeeeuuuuus…

Endless Ocean Luminous mostra pouca interatividade social num jogo que exige tanto de cooperação para completar. Não toquei muito no modo multiplayer, mas a forma de comunicar com até outros 29 mergulhadores é demasiado limitada. Emojis, marcar locais de peixe e tesouros… E é isto. Sem o uso da voz, que seria primordial para completar missões que parecem ter sido feitas para várias pessoas podendo COMUNICAR. Não acontece.

Considerações finais

Endless Ocean Luminous é um jogo sem grande vida passado naquele que é um dos mais ricos “mundos” do nosso mundo. Pouca personalidade, pouca interação, pouca informação, pouca gente nos servidores para partilhar as entediantes tarefas mudas.

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O ambiente, muito por conta da utilização bem feita da luz, merece o destaque, bem como a música calma que se coaduna na perfeição e os silêncios que por vezes ecoam aquilo que deve ser a verdadeira experiência no fundo do mar.

Os animais parecem NPC’s básicos que não fogem nem atacam quando chegamos perto deles. Assim sendo, não parece haver muito oxigénio na botija de longevidade de Endless Ocean Luminous.

nota 2

Endless Ocean Luminous faz-nos querer ser atacados por um tubarão; significava que algo estava a acontecer neste jogo.


+ Razoável imagem do fundo do mar
+ Momentos musicais louváveis
+ Uso da luz

– Ambientes e fauna marinha desinteressantes
– Pouca interatividade online
– Pouca ou nenhuma ajuda ao jogador

N.R.: A análise a Endless Ocean Luminous foi realizada numa Nintendo Switch com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Nintendo Portugal .