Edge of Eternity – Análise

A pequena produtora francesa Midgar Studio ousou sonhar bem alto; com os clássicos nipónicos como inspiração e jogos mais recentes como Final Fantasy XIV ou até a saga Xenoblade como alento, lançou-se na demanda das vidas deles ao tentar homenagear os jogos que certamente gostam de jogar. Com uma equipa bem reduzida e anos de espera e de trabalho, eis que surge Edge of Eternity.

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Mas será que tanto trabalho valeu a pena, ou mais valia deixarem o género para os profissionais dos RPG’s? A resposta… Nem é uma, nem outra.

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Un JRPG français

O mundo de Heryon está em ebulição, envolto numa guerra entre os invasores alienígenas Archelites, que parecem ser os responsáveis pela Corrosion, uma espécie de arma biológica que transforma as pessoas em zombies incontroláveis, e os humanos militarizados do Consort, onde o nosso herói Daryon está em serviço bem como a sua irmã Selene que está inserida no Sanctorium, ligada ao mundo mágico numa posição de destaque.

Daryon é informado pela sua irmã que a sua mãe apanhou o famigerado vírus, e depois de toda a sua equipa ter sofrido uma emboscada e serem massacrados logo após os termos conhecido e até ganharmos alguma empatia com os mesmos, e sabendo ainda que os soldados do Consort eram sacrificados em rituais mágicos para justificar a luta contra estes inimigos que parece imparáveis, o nosso herói deserta e vai em busca do conforto da sua mãe necessitada para tentar encontrar uma possível cura para o seu mal que parece definitivo.

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É nesta trama intrincada com volte-faces constantes e traições mais ou menos esperadas entre humanos, aliens e até deuses, com romance bem cromo e diálogos algo embaraçosos que a Midgar Studios chega a tocar na clara inspiração que é assumidamente a saga Final Fantasy. Vai a sítios mais negros que por vezes a própria inspiração não se atreve a atingir.

Edge of Eternity tenta ser magnânimo, seja na duração da obra, seja nos seus visuais e banda sonora. E por vezes consegue. A pequena equipa da Midgar Studios propôs-se a criar algo para o qual não tinha claramente capacidade pessoal e monetária. E isso nota-se.

Ainda assim a música é épica, bebendo o seu dramatismo e beleza dos velhos clássicos JRPG’s. Mas os visuais, apesar de variados, desde praias paradisíacas a desertos gelados parecem sempre artificiais e mal acabados. E com os caminhos sempre pré-determinados, esta feiura destaca-se mais.

Os modelos das personagens são por vezes catastróficos. As personagens principais ainda se escapam a este tratamento quase standardizado, mas os NPC’s parecem cópias uns dos outros com muito ligeiras mudanças estéticas.

ATB – Atenção ao Tédio das Batalhas

Aqui temos mais um tributo às obras made in Square Enix, com cada aliado e inimigo a ter a sua barra temporal que delimita os seus momentos de tomada de decisão em cada batalha. Há os tradicionais ataques físicos, magia, uso de itens e até forças e fraquezas elementares, enquanto se movimentam em áreas que se assemelham a hexágonos, tornando cada batalha também um momento estratégico. Nada que chegue aos calcanhares dos verdadeiros SRPG’s, mas convém haver movimentação para evitar ataques poderosos ou até procurar as costas dos inimigos para aquele pontos de dano adicionais.

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Até porque Edge of Darkness começa simples, com batalhas acessíveis mas há uma curva de dificuldade que se acentua rapidamente, correndo-se por muitas vezes o risco dos inimigos nos eliminarem a equipa com um simples ataque fortuito. Por vezes acontece o inverso: o mesmo grupo de inimigos anula-se de forma rápida e sem compreensão do que se fez bem ou mal para poder aplicar em tarefas vindouras. O erro não faz aprender e o sucesso também não. Esta dificuldade extrema que parece aparecer do nada é apenas uma das irritações que estas batalhas causam até no mais experiente jogador deste tipo de aventuras. Há a fácil possibilidade de sermos completamente rodeados de inimigos em algumas batalhas e isso faz a arena de combate parecer pequena, havendo pouca possibilidade de escapar ou até de minimizar danos. Isto castiga até o jogador que planeia cada movimento, porque a força dos números esmaga qualquer possibilidade de estratégia.

Sim, o grinding pode resolver muitos destes problemas, mas esta inconsistência será o ponto final para a maioria dos jogadores, mesmo aqueles habituados à “injustiça” do género.

À bruta e à francesa!

Em Edge of Eternity podemos equipar o tradicional equipamento variado, mas as grandes novidades estão ligadas às armas. Cada uma delas tem as conhecidas ramificações com o desbloquear das mais diversas (e muitas delas inúteis) características, como feitiços e efeitos passivos em batalhas. Há que ligar estes power-ups a cristais, que fazem variar e muito qual a habilidade que se pode obter.

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Variedade à parte, o problema é que os cristais são difíceis de obter e certas habilidades dependem de alguns materiais que são recolhidos pela vasto mundo de Heryon. Mas não há qualquer informação de onde os obter e até os mais dedicados jogadores terão dificuldade em percorrer este mundo de trás para a frente na vã esperança de que encontrem os materiais que necessitam para desbloquear a habilidade pretendida. É um processo moroso e sem garantia que funcione. Resta para os ainda sãos que se avance pelo jogo usando a força pura, tática que pode resultar em fracasso.

Considerações finais

Edge of Eternity tenta ser um pouco de tudo do que define há muitos este género tão amado pelos seus fãs dedicados. Com uma história que aborda temáticas mais negras que estamos habituados a ter neste tipo de jogos, não deixa de ser surpreendente o que uma pequena equipa de gente zelosa conseguiu realizar por amor a esta casta.

Mas não é por isso que não se lhe podem apontar os seus inúmeros problemas, como o lado visual menos conseguido, o sistema de combate pouco variado e uma série de mecânicas que acabam por não servir para muito.

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Não deixa de ser um esforço louvável, que acabará por interessar a quem nutre amor por estas obras. Saúde-se a Midgar Studio! Mas nas palavras sábias de Cloud Strife: Edge of Eternity é como um comboio, que só vai onde os seus carris o levam.

Edge of Eternity sonha alto e acaba por não se desmoronar num chão de problemas. Mas é um JRPG tático para os que sabem perdoar as suas inúmeras falhas.


+ História que faz jus aos antecessores japoneses
+ Banda sonora incrível
+ Variedade de missões

– Combate inconsistente
– Visuais desinteressantes
– A procura insana por materiais

N.R.: A análise a Edge of Eternity foi realizada numa Playstation 5 com acesso a uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Plan of Attack.

Paulo Tavares: Professor de ocupação, jogador por diversão. Guarda religiosamente as cassetes do seu Spectrum 128k. Leva demasiado a sério a discussão de melhor Final Fantasy. 7, fim de conversa.
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