A Tag of Joy, produtora lituana deste Crowns and Pawns: Kingdom of Deceit, bebe desavergonhadamente dos seus antecessores de décadas. E isso não tem que ser mau. Aliás, aqui toma o papel de uma homenagem contemporânea de outras viagens pelo mundo, piadas a rodos não para todos os gostos, um antagonista cruel e os habituais volte-faces de argumento, uns esperados, outros nem por isso.
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Se houver essa abertura de espírito para encarar este jogo como uma obra que imita em bom o que foi feito pela Revolution em tempos idos, há aqui 7/8 horas de prazer para recordar os tempos dourados dos jogos de aventura e do clica aqui e ali.
Onde é que já joguei isto?
A personagem principal de Crowns and Pawns: Kingdom of Deceit é Milda, uma rapariga de Chicago que vive a vida desenrascada que qualquer recém adulto tem: amigos carismáticos, liberdade, com um pequeno apartamento e contas para pagar. Depois de um prólogo divertido, Milda descobre que herdou uma casa na Lituânia do seu avó que faleceu. Quando decide ir ver o que lhe calhou na rifa, percebe rapidamente que alguém chegou a casa do avô antes dela numa busca apressada que deixa marcas. E assim está dado o mote para este jogo de aventura com muito point and click e puzzles inventivos na Europa de Leste.
O objetivo final parece ser encontrar uma coroa com uma importância extrema para satisfazer o último desejo feito por um avô moribundo. Mas há concorrência. Assim se explicam as motivações de Milda. Tudo parece um pouco forçado e atirado para cima do jogador, mas de pouco interessa quando temos coisinhas para matutar a cabeça, certo? Falando dos puzzles, são bastante simples para um conhecedor do género que use a lógica como sua melhor amiga. Há ainda que escarafunchar um local para obter pistas onde podemos usar a barra de espaços para nos apercebermos de tudo o que pode ser explorado, pois está assinalado com um pequeno ponto. Temos ainda que combinar uma série de objetos que vamos encontrando para que possamos progredir na estória. O mais aborrecido é mesmo as opções de diálogo incessantes em número, que em pouco resultam. Muita parra, pouca batata (parece que se come muito na Lituânia…).
Isto é-me familiar…
A comparação não pode deixar de ser feita. Broken Sword é uma referência e é aqui feita muita coisa que é decalcada destas obras. E isso não é mau. Claro, não temos os gloriosos cenários e personagens que parecem saídos de quadros clássicos que a saga da Revolution sempre apresentou, mas o aspeto cartoony de Milda e dos seus amigos faz sentido nos tempos que correm. A direção sonora, particularmente a das personagens, brilha a grande altura com atitude e carisma que jovens de vinte e poucos anos não deveriam ter.
Bem verdade é que há alguns puzzles que são demasiado parecidos àquilo que já vimos há anos, mas alguns deles apresentam soluções verdadeiramente revolucionárias e completamente fora da caixa.
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Depois há alguns pormenores interessantes que podem acrescentar alguma repetibilidade para os mais curiosos, em que a profissão que escolhemos no início para Milda pode fornecer diferentes pistas e interpretações para alguns dos puzzles que vamos enfrentar. Se decidirmos que ela será uma assistente de psicólogo, ela terá um livro que analisará os NPC’s e a sua forma de ser, ou até programadora, dando-lhe um item que lhe vai permitir invadir computadores privados. Já perceberam a coisa, certo? Como referi, pode ser interessante para os que mais investem no jogo, mas para todos os outros isto não é suficiente para repetir. Mas não deixa de ser um toque interessante.
A sério, déjà vu?
O facto do número de NPC’s com quem interagimos ser muito menor do que nos antecessores inspiracionais de Crowns and Pawns: Kingdom of Deceit é de realçar. As relações com a melhor amiga Dana e o possível enamorado Joris destacam-se. Os diálogos encontram sempre grande química e cumplicidade, mesmo que aconteçam por SMS. Sinal dos tempos…
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Por vezes Milda aborda qualquer situação, por mais complexa e nefasta que seja, com uma ligeireza que pode incomodar os mais sensíveis. Eu cá adorei esta miúda com um lado de humor negro bem visível e que se revela aos poucos. Falando de algo que não acompanha o brilhantismo dos antecessores: a música. Relembra demasiado um qualquer loop ouvido numa subida ou descida demorada de elevador de hotel. Com aspetos tão positivos como a voz, algo melhor e mais original poderia ter sido feito para honrar os momentos que passamos a matutar no que fazer…
Considerações finais
Nunca uma imitação foi tão bem intencionada. E é isso que vai ficar de Crowns and Pawns: Kingdom of Deceit. O fim é meio inconclusivo e tudo indica que haverá uma sequela, apesar da sequência ser altamente insatisfatória e meio apressada, o que deixa uma sensação agridoce no fim desta refeição de jogatana.
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Mas a variedade de puzzles, as personagens interessantes, bem caracterizadas e acompanhadas de um voz-off super competente faz com que esta viagem ao leste da Europa seja uma adição incrível a um catálogo de point and clicks datado.
Crowns and Pawns: Kingdom of Deceit refresca um género aparentemente esquecido. Pode ser breve, mas a qualidade das vozes e os puzzles divertidos ajudam-nos a sobreviver até que venha o novo Broken Sword (assim esperamos).
N.R.: A análise a Crowns and Pawns: Kingdom of Deceit foi realizada num PC com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Plan of Attack.