Chernobylite – Análise

Análise por: Francisco Isaac

Disclaimer: não sou apreciador de jogar jogos de terror (seja survival, RPG ou de outro género qualquer) mas tenho um fascínio, mórbido, de vê-los a serem explorados por outra pessoa (uma espécie de videogameyurismo?). Ou seja, quando tive de me lançar ao Chernobylite já sabia que a minha experiência ia sofrer algum enviesamento por causa da minha cobardice e temor com o tipo de videojogo com que se apresentava: science-fiction survival horror.

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Para duplicar as minhas fábricas de suores frios, o ambiente deste videojogo criado pela equipa The Farm 51 (desenvolveram Necrovision ou Deadfall Adventures) é passado em Pryp’yat’, envolvendo uma aventura espaço-temporal múltipla, o que aguça uma curiosidade estranha (e em crescendo) ao longo do seu percurso.

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Máscaras, radiação, tecnologia inexistente, investigação, farming, building, acção e combate (guardem bem essas balas, aviso em especial para quem gosta de entrar a disparar como se fosse COD Warzone), narrativa dinâmica e jogos de silêncio. Estas são algumas das particularidades que vão encontrar em Chernobylite. O convite para explorar o desconhecido é, ao mesmo tempo, incentivado e desaconselhado, ficando à descrição de quem conduz Igor Khymynuk, cientista ucraniano que avança em direção a esta zona interdita em busca de algo perdido 30 anos atrás, durante o desastre de Chernobyl.

Para quem aprecia mundos desenhados como em Fallout, Metro (com as devidas diferenças) ou Far Cry, Chernobylite é uma adição que não deixa, nem vai deixar um sentimento agridoce ou amargo na boca no que toca aos detalhes do RPG, com um sistema de crafting recheado de várias opções e enérgico, que procura fazer com que esta aventura científica passada num dos locais de maior tragédia a nível nuclear seja partilhada com os teus (potenciais) companheiros que podes ou não querer ao teu lado. Não há possibilidade de escape no construir de utensílios ou ferramentas de apoio, e esse elemento não pode ser encarado como algo negativo, e sim, deve ser entendido como uma solução para irem desbravando com cuidado (radiação por todo o lado) esta antiga cidade da União Soviética.

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Se ao nível de gráficos encontramos algo bem trabalhado, apesar de não ser linear na condução (há zonas dentro do mapa que simplesmente não se consegue atravessar, forçando o jogador a tomar outra rota), na construção do som é onde está o melhor e o “pior”. Sem qualquer tipo de spoilers, que vos estraguem a experiência, há momentos em que entra em cena uma trilha sonora com o poder de conferir uma sensação de que Chernobylite gosta de ti e procura dar paz depois de situações de stress elevado, essas também acompanhadas por uma flutuação de sonoplastia de um timbre de ameaça constante (género sensação The Hills have Eyes).

O decepcionante nesta categoria do som/música é no suceder de acções do jogo em que não há correspondência directa de sons (no meu caso, notei numa queda no chão), criando um vazio ou desconexão no decorrer desse momento. Outro pormenor do som, essencial para a construção dos ambientes/cenários de terror, é o idioma do diálogo. O russo, língua base de Chernobylite, merece ser a primeira preferência quando se preparam para caminhar por Pryp’yat’ e Chernobyl, existindo, naturalmente, um encaixe perfeito entre a acção, jogabilidade e narrativa, e que catapulta o jogador para outro nível de imersão. Mas, se optarem por emigrar para o inglês, fica o alerta que Chernobylite perde parte do seu encanto, seja por não fazer sentido certas trocas de diálogo como obtêm algo que parece ter sido menos trabalhado do ponto vista do drama e do acentuar da intensidade emotiva associada a este cenário proposto pelos criadores.

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E no que concerne à jogabilidade? Prática e inteligível, mas que precisa de um utilizador minimamente atento para perceber as suas rotinas e combinações. Mesmo que se fiquem pelos tradicionais teclado e rato, o jogo não perde qualidade, nem se torna mais problemático ou difícil, potenciando sempre uma experiência imersiva e que requer a atenção total do gamer, merecendo o dístico de user friendly

Não sendo um jogo de terror metido à 5ª velocidade, a sensação de ameaça paira em cada prédio, rua, passagem subterrânea ou edifício de Chernobyl combinando na perfeição com os elementos do RPG (cada saída à “rua” tem de ser visto como uma ocasião decisiva para apanhar recursos), sem descurar uma história que parece simples no primeiro momento, mas que ganha um balanço de proporções, bem, nuclearmente interessantes.

Considerações Finais

Chernobylite chegou com a intenção de apaixonar, questionar e forçar até aos mais assustadiços, a ir em busca da sua narrativa e Mundo através do combo da ficção-cientifica e história humana, onde o pano do terror psicológico subsiste de forma tão subliminar, como a radiação que envolve tudo em teu redor.

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Obriga a estudar o ambiente que te rodeia, exige uma constante busca pela continuação da história e a tua sobrevivência (sem comida, não há corpo que subsista) e estimula uma aprendizagem constante, seja de quando optar por uma atitude stealth, fugir para voltar a planear ou enfrentar os perigos de frente.


+ Os elementos de Crafting e building estão bem trabalhados
+ Variação de atmosferas alimenta a atenção aos pormenores de forma constante
+ Narrativa é oferecida a espaços, onde a névoa de mistério e estranho fomenta o continuar da viagem
+ Sonoplastia que mexe com o jogador, para o bem e mal

– Não é o jogo de terror que tenta parecer ao início, apesar de ter diversos elementos associados ao género
– A tradução para o inglês remove parte da beleza de Chernobylite
– Certos elementos gráficos não são topo da arte (pegadas inexistentes, por exemplo), sendo que os elementos naturais desviam desse problema

N.R.: A análise a Chernobylite foi realizada em Windows PC com acesso a uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Plan of Attack

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